
Para responder a perguntas intrigantes e complexas, podemos recorrer a várias ferramentas. Uma cineasta, por exemplo, pode resgatar sua filmografia e suas memórias. Foi isso o que fez Helena Solberg, depois de ter recebido um e-mail de uma jornalista italiana que lhe indagou como vão as mulheres, hoje, no Brasil. Com o documentário inédito “Um Filme Para Beatrice”, que estreia com exclusividade no Curta!, a cineasta analisa o cenário atual delas.
Viabilizado pelo canal através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), e dirigido e roteirizado pela própria realizadora, o documentário traz imagens de arquivo, trechos de obras, reportagens de jornais e depoimentos inéditos que ajudam a reconstruir a trajetória de Helena, marcada por seus filmes de forte temática social e feminista. A diretora relembra os contextos sociais que permearam obras como o seu primeiro longa de ficção, “Vida de menina”, de 2005; o documentário “The Emerging Woman”, de 1975, sobre a luta das sufragistas e as raízes de movimentos feministas; ou o seu primeiro curta-metragem, “A entrevista”, de 1966, que investiga e desafia sua formação burguesa e tradicional.
“A minha geração tinha muito receio de falar certos assuntos. Eu queria falar, eu fui buscar essas pessoas”, relembra Helena.
Adicionando as perspectivas de entrevistados como a amiga e ensaísta Heloisa Teixeira, a escritora Helena Vieira, a drag queen Rita von Hunty (persona artística do professor Guilherme Terreri), a psicanalista Maria Rita Kehl e a ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, Solberg debate sobre a luta e os desafios históricos e contemporâneos das mulheres.
“Tem uma coisa que acho muito bonita do feminismo, que é o humanismo. Ele incorpora tudo, pois, quando você mexe com a questão da mulher, você mexe com a sociedade inteira, com todos os valores. Vivemos uma fase que começa a integrar todos esses elementos, tem a questão de raça, de meio ambiente, tudo isso tem a ver com a mulher”, avalia.
Durante o documentário, Helena traz seus retratos e relatos de filmagens e vivências pela América Latina, Europa e Estados Unidos. Ressalta, ainda, a importância do Cinema Novo como uma nova forma de examinar a realidade e destaca o papel de sua geração na luta pelos direitos das mulheres, propondo ao debate a autopercepção e a autocrítica enquanto uma mulher branca de classe média. Para a diretora, o cinema se tornou sua ferramenta para lutar por uma sociedade mais justa, expor seus sentimentos e tentar encontrar respostas às suas dúvidas e inquietações.
‘Um Filme Para Beatrice’ é uma produção da Afinal Filmes viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). O documentário também pode ser visto no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro TV+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br) um dia depois da estreia no canal. A estreia é no dia temático Sextas de História e Sociedade, 7 de março, às 22h20.