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Uma capivara na avenida – parte 1

Uma capivara na avenida – parte 1

Salve, salve minhas queridas capivaras sambistas.

A coluna Tem capivara no samba vai ser bem pessoal hoje, não vou falar de resultados, de mudanças de pessoal nas escolas e muito menos no rebaixamento que não ocorreu.

No texto que marca a minha despedida do Tem Capivara no samba, vou tentar passar para todos vocês as emoções que senti ao desfilar pela primeira vez em uma escola de samba.

 

Apesar de gostar muito de carnaval e de todo o meu envolvimento, seja frequentando os ensaios, seja disputando sambas ou participando de vários eventos nas escolas, eu nunca tinha desfilado na minha vida.

As escolas de samba tinham espaço no meu coração até a sexta-feira de carnaval.

Daí por diante, os blocos de rua passavam a tomar conta do espaço e os desfiles eram deixados de lá.

Mas esse ano foi diferente, e depois de uma mudança boa na minha vida, acabei fazendo a minha estreia na avenida, e foi em dose dupla.

Na Sapucaí, com a Inocentes de Belford Roxo, e na Intendente Magalhães, com a minha querida Império Ricardense.

Foram duas emoções bem diferentes.

Na Inocentes, era um clima de festa, de alegria, foi pura diversão.

Já na Império Ricardense, foi aquele clima de tensão, um nervosismo que foi tomando conta de mim, o medo de errar e estragar o trabalho de um ano todo e no final, aquele sentimento de alívio, de dever cumprido.

Vou falar de cada escola separadamente, para ser bem mais justo com ambas as agremiações.

Comprei a minha fantasia na ala comercial da Inocentes, e não tive aquele envolvimento todo com as pessoas da escola e da comunidade.

Ainda cheguei a frequentar ensaio mas não criei um vínculo, uma ligação com eles.

Fiquei bastante apreensivo pois só faltavam dois dias para o nosso desfile e as fantasias ainda não haviam sido entregues.

Finalmente fui buscar a minha fantasia na véspera do desfile e ela estava linda.

Como todos já sabem, não estou no melhor da minha forma física (para ser bem sincero, estou quase no pior da minha forma física kkkk) e precisei fazer alguns ajustes na fantasia, principalmente na calça, que mal passava da coxa.

Vou falar que achei isso tudo muito estranho, mas já me informaram que é assim mesmo, o atraso na entrega e os ajustes são comuns.

Com tudo certo no quesito fantasias, tentei dormir e descansar para o desfile, mas não foi isso que aconteceu, fiquei deitado durante muitas horas sem conseguir, imaginando o desfile, sonhando acordado.

Chegou o grande dia e após passar a tarde nos bloquinhos (foi mais forte do que eu) fui em direção ao Sambódromo com um brilho intenso no olhar e minha fantasia pendurada nas costas.

Cheguei mais cedo e aproveitei para, pela primeira vez, assistir na avenida ao desfile das escolas de samba.

Que show emocionante de luzes e cores, as arquibancadas da Marquês de Sapucaí pulsavam de acordo com a batida da bateria das escolas de samba, um espetáculo lindo demais para ser descrito em palavras. Um sentimento maravilhoso que me envolvia naquela noite mágica.

Mas agora já estava quase na hora do meu desfile, abandonei as arquibancadas e me encaminhei para a concentração.

Vesti minha fantasia, me juntei a minha ala e aguardei pela hora da minha entrada.

O som do pagode que vinha do Terreirão do samba ajudou a diminuir a minha ansiedade e a entrar no clima de festa.

Chegou a nossa hora, vamos colocar a Inocentes de Belford Roxo na avenida.

Me avisaram que a maior emoção está na hora que se faz a curva, saindo da concentração, e se vê a avenida lotada, recebendo todo o amor do público que está no primeiro setor de arquibancada.

Fui esperando esse momento mágico e na hora que vou fazer a tal curva, já percebendo a quantidade de luzes coloridas na avenida e os gritos vindos da arquibancada, a escola simplesmente parou.

Aconteceu um problema com um dos carros alegóricos da escola que se apresentou antes e tivemos que ficar parados aguardando.

Me vi literalmente parado na curva, aquele tão esperado choque energético não aconteceu, me causando uma certa frustração.

Entretanto, pude receber um outro tipo de carinho, pois ao invés de passar rapidamente pelo setor 1, acabei ficando ali parado, de frente para aquela multidão e se não recebi uma grande onda de energia sem um rosto definido, tive a oportunidade de perceber nos olhos de cada um dos presentes na arquibancada, aquele brilho de fascinação com as fantasias, aquele sorriso sincero de quem está feliz por estar ali, os acenos de desconhecidos que em um piscar de olhos se transformam em queridos amigos.

Pessoal, se não houve a explosão de emoção, aconteceu algo muito mais especial, tive a experiência de troca de energia com todas aquelas pessoas de uma forma muito mais pessoal, de uma forma muito mais humana.

Aquilo me deu um ânimo fora do comum, foi uma injeção de adrenalina que quase fez explodir meu coração de tanta emoção.

Quando finalmente começamos a desfilar, a felicidade e a alegria escorriam por todo o meu corpo em uma conjunção maravilhosa de sentimentos que me deixaram embriagado de prazer e euforia.

Nem dava para perceber que eu estava usando uma sandália de um tamanho muito menor do que o meu pé.

Pulei, dancei, mandei beijos, acenei, sorri, me diverti e agradeci, meus amigos, como eu agradeci por estar vivendo aquele momento.

Ali eu deixei de ser o Marcelo e me transformei em apenas mais uma molécula desse incrível organismo vivo que é o carnaval.

Não tem como transcrever o que acontece ali, difícil passar esses sentimentos para o texto, a quantidade de energia que transita pela avenida é tão grande e é tão formosa, que é impossível ser triste naquele lugar.

Você coloca tudo para fora em uma experiência de catarse magnífica e toda aquela animação, toda aquela glória se emanam pelo poros do seu corpo, em um grande balé energético de intensidade atroz.

 

Quando dei por mim, a avenida já havia chegado ao fim, o desfile tinha acabado, mas aquela sensação continuava dentro da minha cabeça e do meu coração. Se fechar os olhos, ainda consigo sentir essa atmosfera esplendorosa da Marquês de Sapucaí.

Peguei um táxi, corri para casa e fui descansar, afinal, na noite seguinte tinha o desfile da Império Ricardense.

 

A COLUNA CONTINUA …

 

Marcelo Soido Paz

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