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A corrida espacial, o conflito armamentista e as disputas nos Jogos Olímpicos marcaram a Guerra Fria. Na raiz disso tudo, um acalorado debate ideológico foi travado em diferentes campos, entre os quais estavam os quadrinhos e as animações. A história desse embate artístico é contada no documentário francês inédito “Guerra Fria: O Poder da Animação” (no original, “Une guerre froide très animée”), que chega com exclusividade ao Curta!.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o desalento toma conta da Europa. Ao desafio de reconstruir sonhos e amparar as crianças, junta-se a incerteza de um novo período de aflição, o da Guerra Fria. Com imagens de arquivo, trechos de animações e depoimentos inéditos, o roteirista e diretor Joël Farges mostra como aquele contexto histórico foi propício para que União Soviética e Estados Unidos começassem a disputar as mentes infantis em formação.
O primeiro passo, como explica o documentário, era aproveitar o ‘baby boom’ do pós-guerra. Para iniciar as crianças em suas ideologias, mais revistas, filmes e desenhos foram produzidos. Por serem uma mídia muito popular, acessível e eficaz para difundir ideias, os quadrinhos se tornaram peça primordial de propaganda.
“Acredito que cada nação, cada religião e toda ideologia está interessada na educação de jovens para continuar uma tradição ou um estado de espírito. O que era ainda mais real durante a Guerra Fria. Esperava-se que os jovens fossem obedientes e disponíveis para a ação”, avalia o historiador especialista em história em quadrinhos Michael Scholz.
Na produção, vemos como os países do Leste europeu, sob a influência soviética, começaram a nacionalizar editoras e criar estúdios de animação. Os desenhos deveriam mostrar exemplos a serem seguidos, lições de coletividade e valores do povo socialista. Enquanto isso, os americanos tomavam a Europa Ocidental com personagens carismáticos criados por artistas como Walt Disney, propagando o ‘American way of life’ a partir de desenhos que se tornariam referência estética.
Nem tudo eram flores. No contexto de disputa e tensão, havia empecilhos. Criadores liberais e progressistas eram perseguidos nos Estados Unidos pela caça às bruxas do Macartismo. Já na União Soviética, animadores sonhavam com mundos mágicos, mas deveriam seguir as diretrizes do Partido Comunista e criar desenhos alinhados à ideologia soviética, como ‘Atze’ e ‘Frösi’.
“Angustiava os diretores não poderem se expressar. Eles não conseguiam fazer filmes para adultos, nem contar as histórias em que estavam interessados”, afirma a historiadora e curadora Michaela Metrova.
O documentário apresenta o talento de artistas como Jirí Trnka, o Walt Disney do Oriente; debate a criação dos super-heróis da Marvel no contexto de conflitos como a Guerra do Vietnã e analisa marcos importantes na História, como a reunificação alemã e o fim da União Soviética. Também apresenta a influência de uma ferramenta que iria mudar para sempre o mundo: a televisão.
“Os estúdios americanos eram absolutamente incapazes de fornecer as horas de animação exigidas pela televisão. E como a produção do Oriente se voltou muito cedo para crianças, tinham esses filmes prontos. Os desenhos americanos eram muito adultos”, comenta Sebastien Roffat, doutor em estudos cinematográficos.
“Guerra Fria: O Poder da Animação” é uma produção da Prime Entertainment Group. O documentário também pode ser visto no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro tv+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br). A estreia é no dia temático Sextas de História e Sociedade, 14 de fevereiro, às 22h.