Detrás del Sur, do colombiano Rafael Palacios, estreia em São Paulo nesta semana
Inspirada na obra “Changó, el Gran Putas”, de Zapata Olivella, o espetáculo mistura dança e dramaturgia ao contar a história da diáspora do povo preto à América.
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Cultura, realiza durante todo mês o projeto “Abril Pra Dança”, que apresenta espetáculos em todas as regiões da cidade. Entre os destaques da programação, o espetáculo colombiano “Detrás del Sur”, dirigido e coreografado por Rafael Palacios, chega pela primeira vez a São Paulo. “Detrás del Sur” começa nesta semana, de sexta-feira (26) a domingo (28), no Teatro Alfredo Mesquita, em Santana, com programação gratuita.
Adaptando a obra mais lembrada do maestro e escritor Zapata Olivella “Changó, el Gran Putas”, de 1983, autor reconhecido pela sua intelectualidade e bandeira ao protagonismo preto, a peça, assim como o livro, fez um grande sucesso na Colômbia, e rodou em cartaz mundialmente, produzido pela companhia Sankofa Danzafro.
Para Rafael Palacios, a apresentação estreante do “Detrás del Sur” na maior cidade do Brasil é muito importante para atrair novas audiências à narrativa retratada, que gira em torno de múltiplas histórias que narram grandes acontecimentos reais envolvendo a população afrodescenente: como a escravidão; a prisão e o exílio de Xangô no Rio Níger; a Inconfidência Mineira; Revolução Haitiana; Guerra Civil dos Estados Unidos; e um recorte mais recente na luta pela igualdade racial protagonizada por Malcom X e Martin Luther King.
“A dança que realizamos rejeita os estereótipos de exotismo impostos aos corpos negros racializados. Através do corpo negro racializado, a dança adquire um significado profundo que pode estabelecer diálogos, e juntos como sociedade buscar justiça cognitiva e social para todos e todas. E contextos culturais, sociais e espirituais nos quais surgiram as manifestações artísticas e espirituais dos povos afro em todo o mundo”, disse Rafael Palacios. O diretor afirma que o principal objetivo da peça é “dançar para sermos ouvidos”, com a dança sendo mecanizada como uma forma de refletir o que não funciona dentro da luta anti-racista e reivindicar eficiência das políticas de equidade racial.
Para o cumprimento desses objetivos, Rafael pondera que a principal mensagem do “Detrás del Sur” é sobre o conceito Muntu: “Este conceito refere-se à força que obtemos quando trabalhamos em comunidade e fraternidade para superar todas as opressões que nos afetaram durante séculos. O Muntu, com sua força vital, nos permite reivindicar a humanidade que nos foi negada, lutar para garantir os direitos fundamentais e humanos das comunidades indígenas e afrodescendentes que foram discriminadas e excluídas durante séculos. O Muntu representa o mandato de Changó como única solução para buscar futuros possíveis de equidade”.
No recorte da dança, o diretor e coreógrafo explicita o canto, a música e as expressões como ferramentas importantes e atualizadas à auto-afirmação e espiritualidade além da própria voz, honrando legados. O Tempo do Corpo, sobre o olhar reflexivo de Palacios, reafirma a resistência que o corpo negro teve ao longo de cinco séculos e continua enfrentando suas sequelas atualmente.
Sob o tema “Tempo do Corpo”, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal da Cultura, convida os munícipes a olhar a dança como uma arte e como uma forma de expressão democrática dentro dos seus estilos. Diferentes tipos de corpo, com seus físicos, idades e histórias distintas conseguem se envolver e se encontrar, cada corpo com seu jeito e com seu tempo. Veja o restante da programação neste link, que finaliza no dia 29 de abril.
Serviço
Detrás del sur: danzas para Manuel, Sankofa Danzafro
Diretamente da Colômbia, uma homenagem ao maestro Zapata Olivella a partir de uma de suas obras mais reconhecidas – “Changó, el Gran Putas” – em que se combinam seu gênio criativo e seu meticuloso trabalho de documentação em torno da diáspora afrodescendente no continente americano. O trabalho explora referências emblemáticas que compõem diversos momentos da epopeia em 5 atos dos “filhos do muntu” nas Américas. Dessa forma, presságios temerários, nascimentos milagrosos e rebeliões libertárias são encenados por meio da dança e de uma dramaturgia evocativa e sugestiva, que mistura a dor da miscigenação com a nostalgia do não retorno.
Direção e coreografia: Rafael Palacios
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos
26 e 27/4, às 21h, e 28/4, às 19h | Teatro Alfredo Mesquita, Avenida Santos Dumont, 1.770, Santana