Camille Billops e James Hatch, casal de artistas precursores na preservação da arte negra norte-americana, têm filmografia completa exibida nos cinemas do IMS Paulista e IMS Poços
Os seis filmes dirigidos pelo casal serão projetados neste mês nos dois centros culturais, como parte da Sessão Mutual Films. A programação inclui ainda sessões especiais de Stop Making Sense, filme-concerto da banda Talking Heads que completa 40 anos, exibido no IMS Paulista e na Estação NET Botafogo 1 (RJ), e do clássico Jeanne Dielman (1975), de Chantal Akerman, apresentado no IMS Poços.
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Neste mês, o IMS Paulista e o IMS Poços apresentam a obra cinematográfica completa do casal de artistas norte-americanos Camille Billops (1933-2019) e James Hatch (1928-2020). São seis documentários que registraram as lutas e contradições de mulheres e homens negros na sociedade estadunidense, tendo como frequente ponto de partida a própria família de Billops. As exibições integram a Sessão Mutual Films, com curadoria de Aaron Cutler e Mariana Shellard. Em São Paulo, a sessão do dia 12 de março será seguida por um debate com os curadores e a artista e cineasta Aline Motta. Em Poços, a exibição do dia 23 de março inclui também um bate-papo com os curadores.
Também em março, o IMS Paulista promove exibições especiais do filme-concerto Stop Making Sense (1984), de Jonathan Demme. Inicialmente, o longa seria exibido somente nos dias 9/3, às 19h30, e 27/3, às 20h. Com o sucesso do evento e o rápido esgotamento dos lugares, foram abertas duas sessões extras nos dias 27/3, às 22h, e 31/3, às 16h, no IMS Paulista. Os ingressos para as duas novas exibições poderão ser adquiridos, a partir de sexta (8/3), no site ingresso.com.
Em parceria com o IMS, o filme também será exibido no Estação NET Botafogo 1 (R. Voluntários da Pátria, 88 – Botafogo, RJ), no dia 27/3, às 20h. Projetado em cópia restaurada em 4K feita pela produtora americana A24, Stop Making Sense registra uma apresentação ao vivo da famosa banda Talking Heads, filmada em 1983.
Já em Poços, outro destaque é a exibição, também em cópia restaurada, do clássico Jeanne Dielman (1975), de Chantal Akerman, no dia 24 de março.
Sobre os filmes de Camille Billops e James Hatch, exibidos no IMS Paulista e IMS Poços
A pintora e escultora Camille Billops e o teatrólogo James Hatch se conheceram em 1959 e viveram juntos por seis décadas. Billops nasceu em 1933 em Los Angeles em uma família negra que, assim como muitas outras do período, migrou do sul do país para a Califórnia em busca de melhores condições de vida. Já Hatch nasceu em 1928 no estado de Iowa, no centro-oeste dos EUA, em uma comunidade branca e cristã. Durante a sua formação, sempre se interessou por culturas distintas da sua e, como professor universitário na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), pesquisou e escreveu muitos livros sobre artistas negros. Na década de 1960, após se conhecer, o casal saiu dos Estados Unidos e passou cerca de 10 anos em países da África e da Ásia, dando aulas e produzindo peças teatrais.
Ao voltarem para os EUA, em 1973, instalaram-se em Nova York e, percebendo o racismo que ainda imperava no mercado artístico, decidiram começar a organizar eventos por conta própria e a reunir documentos sobre a atuação de artistas negros. Acumulado ao longo da vida do casal, o arquivo é hoje um dos maiores do gênero nos Estados Unidos, com mais de 5.000 documentos, entre livros, cartas, roteiros e pôsteres, além de fotografias e entrevistas.
Em paralelo ao trabalho de arquivismo, os dois passaram a registrar a vida e o cotidiano da família de Billops. O material serviu como base para alguns de seus filmes, exibidos agora nos cinemas do IMS. Em Suzanne, Suzanne (1982), por exemplo, primeiro curta-metragem dirigido pelos dois, Suzanne Browning, sobrinha da diretora, faz uma autorreflexão sobre os traumas que sofreu na infância e seu vício em heroína.
Lançado em 1991, Encontrando Christa também trata de temas familiares, narrando o reencontro entre Billops e sua filha Christa Victoria, que ela entregara para adoção 20 anos antes, quando a menina tinha quatro anos e ela era uma mãe solteira. De forma delicada e contundente, o filme mistura registros documentais e performance para reconstituir a história e tratar de temas como maternidade, imposição de padrões sociais e construção de laços afetivos. Encontrando Christa ganhou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance em 1992 e será apresentado em uma nova digitalização.
Em A butique KKK não é apenas de caipiras (1994), Billops e Hatch convidam seus amigos para participar de um jogo que aborda as várias camadas de racismo presentes na sociedade. O filme intercala entrevistas com encenações teatrais para refletir sobre os preconceitos introjetados pelas pessoas. Já em Um colar de pérolas (2002), último filme dirigido pelo casal, Billops trata do tema das masculinidades negras a partir de entrevistas com homens de sua família. A seleção inclui ainda os curtas Pegue suas malas (1998), sobre apropriação cultural, e Mulheres mais velhas e o amor (1987), que trata de relações sexuais e afetivas entre mulheres mais velhas e homens mais jovens.
Os títulos são exibidos ao longo do mês de março em cópias restauradas. Os dias e horários de cada sessão podem ser conferidos no site do IMS. Leia mais sobre a vida e obra da dupla no texto de Aaron Cutler e Mariana Shellard, na revista de cinema do IMS deste mês, disponível no site.
Outros destaques
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Um marco dos filmes de concertos, Stop Making Sense (1984) completa 40 anos em 2024. Neste mês, o público poderá assistir ao longa-metragem em tela grande, nas salas de cinema do IMS Paulista e da Estação NET Botafogo 1. Dirigido por Jonathan Demme, conhecido por O silêncio dos inocentes e Filadélfia, o filme mostra uma apresentação memorável da banda Talking Heads, pioneira da New Wave, registrada no Pantages Theater de Hollywood, em 1983.
Na revista de cinema do IMS deste mês, o escritor Dodô Azevedo comenta a importância do longa-metragem: “Stop Making Sense foi filmado em quatro noites com equipamento analógico, e quando chegou aos cinemas mudou o jogo da história dos filmes de shows, porque fez o que ninguém havia feito antes: tentar, e conseguir, fazer do espectador do filme o espectador do show, combinando, pela primeira vez, dois estilos de filmar música ao vivo. Essa ideia, de Demme, artista sem par em equilibrar estilos distintos, é a que fez de Stop Making Sense um show portátil que te oferece uma cadeira nos melhores assentos, um show que cabe em uma fita de VHS, ou em um DVD, ou em um blu-ray e, agora, restaurado e remasterizado em toda sua glória e sentido, no cinema, hoje, em 2024″.
O IMS Poços, por sua vez, exibe, em sessão única, no dia 24 de março (domingo), às 17h, Jeanne Dielman, clássico dirigido por Chantal Akerman, projetado em cópia restaurada. O longa-metragem mostra, de forma meticulosa, três dias na rotina de uma dona de casa de meia-idade, viúva, que mora com o filho e se sustenta pela prostituição.
Em 2022, o filme foi apontado pela revista britânica de cinema Sight and Sound como o melhor filme de todos os tempos. Desde 1952, a revista pede que um conjunto de críticos indique os seus títulos de preferência. A cada dez anos, a publicação retoma a pesquisa. O levantamento funciona como termômetro da opinião crítica e da forma como ela se modula através dos tempos. Essa foi, por exemplo, a primeira vez, em 70 anos, que um filme dirigido por uma mulher alcançou a melhor posição da seleção.
Começando por Jeanne Dielman, o Cinema do IMS Poços exibirá mês a mês os filmes que alçaram o topo dessa lista, sempre nas melhores cópias de exibição disponíveis.
Serviço
Filmografia de Camille Billops e James Hatch
Exibida em março nos cinemas do IMS Paulista e IMS Poços. Confira os dias e horários de cada sessão no site do IMS.
A sessão com debate acontece no dia 12/3, às 19h20, em São Paulo, e no dia 23/3, às 16h, em Poços de Caldas.
Sessões especiais de Stop Making Sense
IMS Paulista
9/3, às 19h30, e 27/3, às 20h (Ingressos esgotados)
Sessões extras: 27/3, às 22h, e 31/3, às 16h (Ingressos à venda, a partir de 8/3, no site ingresso.com)
Estação NET Botafogo 1 – Rio de Janeiro
27/3, às 20h (ingressos à venda, em breve)
Sessão especial de Jeanne Dielman
Apenas no IMS Poços em 24/3, às 17h
Ingressos para todas as sessões no IMS: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Os ingressos podem ser comprados no site ingresso.com ou na bilheteria dos centros culturais para filmes do mesmo dia
Ingressos para a sessão no Estação NET Botafogo 1
R$ 16 (preço único)
Os ingressos podem ser comprados no site ingresso.com
IMS Paulista
Avenida Paulista, 2424. São Paulo, SP.
Tel.: (11) 2842-9120
Estação NET Botafogo 1
R. Voluntários da Pátria, 88
Botafogo, Rio de Janeiro, RJ
IMS Poços
Rua Teresópolis, 90. Poços de Caldas/MG
Tel.: (35) 3722-2776