MASP APRESENTA SEGUNDO SEMINÁRIO DEDICADO ÀS HISTÓRIAS DA ECOLOGIA
O seminário é o segundo da série que antecipa o programa do MASP dedicado ao tema durante o ano de 2025
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Joseca Yanomami, Xapiri Hawarihiri omamari a ithuu tëhë anë yai kiriaɨ mahi, kuë yaro yanomãe yamakɨ amuku haari keaɨ. Hwei hawarihiri omamari aka kii anɨ xawara a waiha anɨ yai waro pata a kutaenɨ kuë yaro hwei xapiri pata yamapë yai pihipo, 2011, acervo MASP, doação de Clarice O. Tavares, 2021
O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, apresenta, no dia 5 de dezembro de 2023, o seminário Histórias da ecologia, antecipando o programa do MASP dedicado ao tema durante todo o ano de 2025. Esse é o segundo encontro, online e gratuito, entre teóricos, curadores, artistas, ativistas e pesquisadores de diversas áreas, visando estimular o debate e a pesquisa sobre questões da ecologia em conexão com a cultura visual e as ciências humanas e da natureza, bem como práticas curatoriais e artísticas.
O encontro vem incrementar a missão do MASP no estabelecimento de diálogos críticos e criativos entre o passado e o presente por meio das artes visuais. A noção de histórias – diferente da História tradicional – sugere narrativas mais abertas, multívocas, inacabadas e não totalizantes, abrangendo não apenas relatos históricos, como também histórias pessoais, contos e narrativas ficcionais.
Para o seminário, foram convidados palestrantes de distintas áreas de conhecimento: Huda Tayob, Lisa Blackmore, Malcolm Ferdinand, Rodrigo Nunes, Tim Ingold e T.J. Demos, . O grupo reflete sobre temas como desafios e estratégias de arte e ecologia hoje; política como ecologia; a terra, o céu e o solo; bordas aquáticas; hidrocomunidades e ecologia decolonial.
O encontro será transmitido por meio do perfil do MASP no YouTube, com tradução simultânea para Libras, português e inglês. Para receber o certificado de participação, é necessário que o participante registre sua presença na lista que será disponibilizada durante o seminário.
A iniciativa tem organização de Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; André Mesquita, curador, MASP; David Ribeiro, assistente curatorial, MASP; Isabella Rjeille, curadora, MASP; e María Inés Rodríguez, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP.
PROGRAMAÇÃO
5.12.2023
11H
INTRODUÇÃO
Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP
11H10—13H
Mesa redonda
HUDA TAYOB
Bordas aquáticas
As cidades e vilas costeiras e portuárias existem em condições de borda, de margem, sempre interagindo com o interior e os mundos aquáticos dos oceanos. Neste sentido, o projeto de curadoria e pesquisa Index of Edges identifica os amplos mundos globais de encontro que existem ao longo das costas da África Oriental, da Cidade do Cabo a Porto Said, para questionar o conhecimento arquitetônico e os recursos arquivísticos, a fim de oferecer uma orientação alternativa. O projeto reflete sobre como a arquitetura pode aprender com os modos de viver, habitar e residir em ambientes aquáticos. É importante destacar que a arquitetura é entendida como uma forma de imaginar e habitar o mundo — uma série de práticas de construção de mundos com seres, corpos, locais e territórios oceânicos variados.
Huda Tayob é historiadora da arquitetura e, atualmente, é professora na Universidade de Manchester.
RODRIGO NUNES
Política como Ecologia
A associação mais comum entre política e ecologia talvez seja disjuntiva: a política seria não só uma das grandes responsáveis pela crise ambiental crescente, como teria se demonstrado incapaz de dar-lhe respostas à altura. Embora ambas as coisas sejam em larga medida inegáveis, chama a atenção que, mesmo quando é desejada uma reconsideração da maneira moderna de distinguir natureza e cultura, é difícil pensar a política nos mesmos termos em que se pensa a ecologia. Isso talvez tenha começado a mudar na última década, quando cada vez mais ativistas no mundo todo passaram a se referir à resistência contra a destruição da vida e o capital como formando uma ecologia de movimentos ou ecologia organizacional. Esta fala pretende explorar algumas consequências dessa ideia.
Rodrigo Nunes é Doutor em Filosofia pelo Goldsmiths College, Universidade de Londres, professor de Teoria Política na Universidade de Essex, Reino Unido, e professor associado da PUC-Rio.
TIM INGOLD
A terra, o céu e o solo entre eles
Como diz o dicionário, o solo é uma superfície sobre a qual as coisas e as pessoas existem e se movem. Porém, essa definição deixa muitas perguntas sem resposta. Que tipo de superfície é essa? Ela tem um ou dois lados? Ela cobre a terra ou a esconde? É possível enrolá-la, dobrá-la, cortá-la ou fazer buracos nela? O que existe acima e o que existe abaixo dela? O solo separa a terra do céu ou é formado pela mistura dos dois? Na busca de responder a essas perguntas, Tim Ingold aponta que o solo está inserido em um movimento duplo, de abertura e fechamento, formação e incrustação, por meio do qual seus habitantes, ao mesmo tempo, se apoiam confiantemente e flutuam precariamente. É aí que reside a arte do sepultamento.
Tim Ingold é professor emérito de Antropologia Social na Universidade de Aberdeen.
Mediação: Daniela Rodrigues, assistente curatorial, MASP
13H—15H
Intervalo
15H—17H
Mesa redonda
T. J. DEMOS
Arte e ecologia hoje: desafios e estratégias
Após um período de quase trinta anos de realização anual das Cúpulas de Ambição Climática da ONU — o fórum das lideranças mundiais na área de política climática —, juntamente com todos os tipos de movimentos sociais, protestos contra o extrativismo e a favor da justiça climática, T. J. Demos reflete que a sociedade está perdendo a batalha por um mundo descarbonizado, sustentável e socialmente justo. Embora existam planos alternativos – seja o Green New Deal (o Novo Pacto Verde), o Indigenous Decolonial Red Deal, o Pacto Ecossocial e Intercultural do Sul, a transição ecossocialista justa e outros –, e embora o setor cultural de práticas artísticas, a ecocrítica e a ficção climática tenham apresentado inúmeras visões inspiradoras de construção de um novo mundo, dentro e fora do capitalismo racial colonial, a urgência das mudanças aumenta à medida que ocorrem eventos climáticos cada vez mais desastrosos, bem como a perda de habitats e a extinção de espécies. O que deve ser feito, nestes momentos de emergência, quando alguns demandam uma maior organização da militância trabalhista, e outros, a explosão de oleodutos? Que opções têm hoje os profissionais da cultura?
T. J. Demos é escritor e professor titular da Patricia and Rowland Rebele Endowed Chair in Art History no Departamento de História da Arte e Cultura Visual da Universidade da Califórnia, Santa Cruz, e diretor fundador do Center for Creative Ecologies, na mesma universidade.
LISA BLACKMORE
Cultivar hidrocomunidades (ou Como comer um rio na Colômbia)
Em uma entrevista realizada recentemente, a pensadora originária do povo Aimará Silvia Rivera Cusiquanqui reflete sobre o ato de comer mel e propõe que, se fazemos isso sabendo que estamos celebrando e homenageando as abelhas que o produziram, “nós nos tornamos parte de um metabolismo do cosmos”. Nesta apresentação, Lisa Blackmore retoma essas ideias e a aposta de Rivera Cusiquanqui de que, no presente ecológico cheio de tensões, não tanto as ideologias políticas, mas as cadeias de montanhas, as florestas e os rios é que são capazes de centralizar energias ativistas para refletir sobre o trabalho curatorial em andamento com os guardiões do rio Bogotá, um dos cursos d’água mais poluídos da Colômbia. Na palestra, Lisa vai compartilhar o processo de reunir e conectar as comunidades de toda a bacia hidrográfica por meio de um projeto que torna uma cultura de cuidado com o rio apta a metabolizar. Cultura esta que é implementada por meio do cultivo agroecológico, do compartilhamento comunitário de sementes e das tradições culinárias.
Lisa Blackmore é professora sênior de História da Arte e Estudos Interdisciplinares na Universidade de Essex. Em 2018, fundou a entre—ríos uma confluência de projetos que analisa as continuidades entre cursos d’água, corpos humanos e territórios.
MALCOM FERDINAND
Por que uma ecologia decolonial (ainda) é necessária?
Nesta breve apresentação, com base em seu livro anterior, Decolonial Ecology: Thinking from the Caribbean World, Malcom Ferdinand irá defender a necessidade de se envolver diretamente com o fundamento colonial da modernidade em todas as áreas e em todos os temas relacionados a questões ecológicas. Em particular, o autor irá alertar contra uma percepção específica dessa proposta que ainda prolonga a dominação colonial que está em jogo no pensamento ecológico.
Malcom Ferdinand é graduado em Engenharia Ambiental pela University College London (UCL) e doutor em Filosofia Política e Ciência Política pela Université Paris Diderot (Paris 7).
Mediação: David Ribeiro, assistente curatorial, MASP
SERVIÇO
Seminário Histórias da ecologia
Organização MASP
Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; André Mesquita, curador, MASP; David Ribeiro, assistente curatorial, MASP; Isabella Rjeille, curadora, MASP e María Inés Rodríguez, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP
5.12.2023
11H – 17H
Transmissão ao vivo no canal de YouTube do MASP
Gratuito, sem inscrição prévia