COLEÇÃO SUBÚRBIO SINGULAR: JOVENS ARTISTAS CONTEMPORÂNEOS, QUE REÚNE OBRAS DE ARTISTAS VISUAIS PERIFÉRICOS
O evento de lançamento das publicações será gratuito, no próximo dia 18, na Biblioteca Popular Municipal Cecília Meireles, e contará com tarde de autógrafos, seminários e oficinas para crianças
As obras de três artistas visuais de subúrbios cariocas foram transportadas para as páginas dos livros da coleção Subúrbio Singular: Jovens Artistas Contemporâneos, a ser lançada no dia 18 de setembro, na Biblioteca Popular Municipal Cecília Meireles, em Jacarepaguá. O projeto, que tem como objetivo fortalecer a produção artística suburbana, foi selecionado no Programa de Fomento à Cultura Carioca (FOCA), da Secretaria Municipal de Cultura, com apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro. A coleção da Atelier Editora, selo editorial da plataforma Atelier Cultura, inclui três livros inéditos dedicados ao trabalho dos artistas visuais Ana Hortides, Andréa Hygino e André Vargas, com textos críticos dos curadores Pollyana Quintella, Raphael Fonseca e Silvana Marcelina, todos periféricos e emergentes, cariocas atuantes da cena artística contemporânea.
A coleção Subúrbio Singular: Jovens Artistas Contemporâneos surge do desejo de fomentar e dar visibilidade à produção de artistas visuais emergentes, negros e LGBTQIAPN+, nascidos ou que desenvolvam suas práticas artísticas em subúrbios do Rio de Janeiro, cujo trabalho verse ou reflita sobre questões periféricas. “Subúrbio Singular vem do desejo de fomentar a prática artística oriunda do subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, mapeando artistas emergentes, mulheres, negros e dissidentes que desenvolvam por meio de seus processos artísticos questões urgentes à contemporaneidade, e, desse modo, pensando e elaborando seu primeiro livro de carreira”, explica Ana Hortides, artista e organizadora da coleção.
Além dos textos inéditos sobre os artistas, produzidos pelos curadores, cada livro conta com biografia, cronologia, registro de obras e a listagem das obras. E todas as publicações têm tradução dos textos para o inglês. Vale destacar que obras e livros trazem discussões múltiplas e interdisciplinares urgentes à contemporaneidade, como moradia, território, protagonismo feminino, decolonialidade, língua, etnografia, ensino e educação. Ana Hortides trabalhou com a curadora Pollyana Quintella no livro “Meu lugar”; Andréa Hygino com Raphael Fonseca em “O corpo dissente”; e André Vargas com Silvana Marcelina em “Os dois gumes da palavra: o feitiço e o corte”; todos – artistas e curadores – cariocas atuantes da cena artística contemporânea.
No próximo dia 18, segunda-feira, das 14h às 17 horas, a Biblioteca Popular Municipal Cecília Meireles, no Pechincha, Jacarepaguá, receberá sessão de autógrafos com os três artistas da coletânea, que também participarão de um seminário. A proposta é aproximar o público de todo o processo de trabalho artístico e promover o debate a respeito dos temas relevantes aos nossos dias. Com isso, na ocasião do lançamento, haverá também uma série de três oficinas gratuitas, com 15 vagas cada. A artista Ana Hortides vai ministrar a oficina de câmara escura, na qual apresentará de forma divertida e educativa os princípios da técnica fotográfica explorando as paisagens do entorno. Já Andréa Hygino realizará a oficina de cologravura, em que os participantes vão experienciar a técnica da gravura por meio da criação de carimbos. Com André Vargas, os participantes produzirão faixas, sendo estimulados a pensar criticamente esse espaço de comunicação e expressão, conjugando a isso o sentido poético das palavras e frases criadas.
“Estamos empenhados em ampliar o acesso à publicação e ao trabalho desses artistas e curadores tão ativos na cena contemporânea. Assim, distribuiremos gratuitamente uma cota das publicações em seu lançamento na Biblioteca Cecília Meireles, no Pechincha, quando teremos oficinas gratuitas com os artistas para os moradores e escolas do entorno”, conta Joana Nantes, produtora e organizadora da coleção.
SOBRE OS LIVROS
A primeira publicação da coleção é “Meu lugar”, da artista Ana Hortides, com texto de Pollyana Quintella. A artista pesquisa e constrói uma poética em torno das questões políticas e sociais que envolvem a casa e o íntimo, sob o ponto de vista de quem nasceu e cresceu no subúrbio carioca, problematizando, de forma material e conceitual, o que chama de uma potência política do doméstico.
“O corpo dissente”, de Andréa Hygino, é o segundo livro que compõe a série. Com texto de Raphael Fonseca, a publicação traz trabalhos da trajetória da artista, em que as memórias de infância se entrelaçam às experiências do presente como artista-professora/professora-artista e à condição da educação pública no Brasil.
O terceiro livro é “Os dois gumes da palavra: o feitiço e o corte“, de André Vargas, e conta com texto de Silvana Marcelina. Além de artista visual, André é compositor, poeta e educador. Em seu trabalho, testa os (não) limites da norma, para pensar as possibilidades de novas existências das coisas, das relações, dos sentimentos, das pessoas e dele próprio. Também faz da palavra ferramenta de mediação de diálogos, de olhar crítico, de instauração de novos e outros gestos, de outros modos de ser.
Para a idealizadora Joana Nantes, “a partir de cada livro, é possível conhecer a trajetória e poética dos artistas e aproximar-se de suas vivências. Ao folhear as páginas do livro de Ana Hortides, nota-se a evidente a maneira pela qual, ao longo dos anos, a artista investigou uma extensa diversidade de materiais que permeiam os espaços domésticos, como a banha, o açúcar, o carvão, a madeira e até mesmo o concreto. A materialidade dos objetos do cotidiano são fundadores da sua poética artística”.
Joana Nantes segue contando: “já um detalhe instigante na trajetória de Andréa Hygino é que alguns de seus trabalhos surgiram utilizando a gravura como suporte, apropriando-se como matriz, dos riscos, rabiscos e marcas feitos por estudantes nas carteiras escolares disponíveis no terraço da sua mãe, que atua como explicadora até os dias de hoje. Por sua vez, na publicação de André Vargas, é possível observar como o artista trabalha no resgate de sua ancestralidade como um meio de compreender as bases das culturas linguísticas, religiosas, históricas e estéticas que compõem a brasilidade à qual pertence, sendo a cultura popular a principal expressão desse alicerce.”
O projeto propõe ainda promover a acessibilidade para o público surdo por meio de um vídeo legendado que apresentará depoimentos dos artistas e dos curadores. O conteúdo será disponibilizado gratuitamente on-line.
Serviço
Lançamento da coleção Subúrbio Singular: Jovens Artistas Contemporâneos com sessão de autógrafos, seminário e oficinas
Data: 18 de setembro, segunda-feira, das 14h às 17h (oficinas das 14h às 15h)
Local: Biblioteca Popular Municipal Cecília Meireles
Endereço: Praça Geraldo Simonard s/nº – Pechincha, Jacarepaguá
Entrada gratuita
SOBRE AS OFICINAS
Oficina de câmara escura com a artista Ana Hortides
Sinopse: A oficina propõe a experiência da construção de uma câmara escura para crianças, com o uso de cartolina, que apresentará aos participantes os primórdios da técnica fotográfica de forma lúdica e sensível. Além da feitura do objeto, os participantes serão convidados a observar o espaço ao redor com as câmeras, conversando sobre fotografia e a experiência vivenciada.
Lotação: 15 crianças
Faixa etária: 10 a 14 anos
Todos os materiais necessários serão fornecidos pelo projeto.
Oficina Corpo-cadeira com a artista Andréa Hygino
Sinopse: A oficina vai realizar uma “cologravura” com crianças utilizando uma base de papelão e e.v.a. para a criação de carimbos que remetem, de forma lúdica, ao processo e à experiência de produção de uma gravura. Os participantes serão instruídos a criar formas híbridas de carteiras escolares e corpos para a elaboração dessa matriz, que será a base do carimbo utilizado para imprimir as imagens em folhas de papel.
Lotação: 15 crianças
Faixa etária: 10 a 14 anos
Todos os materiais necessários serão fornecidos pelo projeto.
Oficina Poesia Faixa Preta com o artista André Vargas
Sinopse: Oficina para crianças de produção de faixas com mensagens poéticas sobre as potências fundadoras da cultura negra em nossa constituição como nação. Os participantes serão estimulados a pensar criticamente a ideia da faixa enquanto espaço de comunicação e expressão, conjugando a isso o sentido poético das palavras e frases criadas.
Lotação: 15 crianças
Faixa etária: 10 a 14 anos
Todos os materiais necessários serão fornecidos pelo projeto.
SOBRE A EQUIPE
Ana Hortides é artista visual e pesquisadora. Pesquisa e constrói uma poética em torno das questões políticas e sociais que envolvem a casa e o íntimo a partir do ponto de vista de quem nasceu e cresceu no subúrbio carioca, problematizando, de forma material e conceitual, o que chama de uma potência política do doméstico.
Pollyana Quintella é escritora, pesquisadora e curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Doutoranda em História da Arte pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mestre pela mesma instituição, ocasião em que pesquisou a obra de Mário Pedrosa e graduação em História da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). No Museu de Arte do Rio (MAR), atuou como curadora assistente entre 2018 e 2021. Entre as suas exposições recentes estão: “FARSA – Língua, Fratura, Ficção: Brasil-Portugal”, SESC Pompeia (2020-2021), “Flávio de Carvalho Experimental”, SESC Pompeia (2022-2023) e “Lenora de Barros: Minha Língua”, Pinacoteca, São Paulo (2022-2023). Nos últimos anos, escreveu para diversos periódicos como jornal Folha de S.Paulo, jornal O Globo, revista ZUM, revista Select, revista Continente e revista ArteBrasileiros!, com ênfase nas relações entre arte contemporânea, cultura visual e política. Dá aulas sobre arte brasileira e teoria da imagem em cursos livres. Em 2023, foi contemplada com uma bolsa da Getty Foundation para integrar o Art and Power School, realizado na Bibliotheca Hertziana – Max Planck Institute for Art History, em Roma.
Andréa Hygino é artista visual, arte-educadora e professora. Sua pesquisa debruça-se sobre o ambiente escolar, os processos de aprendizado, adestramentos, disciplina e repetição, e encontra na desobediência de estudante o lugar necessário de contestação e criação. Nos trabalhos da artista, as memórias de infância – da escola criada por sua mãe que funcionava em casa – entrelaçam-se às experiências do presente enquanto artista-professora/professora-artista e à condição da educação pública no Brasil.
Raphael Fonseca é pesquisador nas áreas de história da arte, crítica, curadoria e educação. Doutor em História e Crítica de Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Curador de arte latino-americana moderna e contemporânea no Denver Art Museum, nos Estados Unidos. Trabalhou como curador do MAC Niterói entre 2017 e 2020. Tem interesse especial pelas relações entre arte, cultura visual e história em suas diversas concepções. Entre as suas exposições recentes estão: “Who tells a tale adds a tail”, Denver Art Museum (2022); “Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil”, Sesc 24 de Maio (2022); “The silence of tired tongues, Framer Framed”, Amsterdã, Holanda (2022); “Sweat, Haus der Kunst”, Munique, Alemanha (2021-2022); “Vaivém”, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte (2019-2020); “Lost and found”, ICA Singapore (2019); e “The sun teaches us that history is not everything”, Osage Art Foundation, Hong Kong, (2018).
André Vargas é artista visual, poeta, compositor e educador. Trabalha na retomada de sua ancestralidade como forma de entender as bases das culturas linguísticas, religiosas, históricas e estéticas da brasilidade em que se insere, tendo a cultura popular como a maior indicação desse fundamento. Os subúrbios, os interiores e os demais lugares de memória pessoal e coletiva que contornam essa ancestralidade apresentam-se como ponto de partida empírico de suas postulações conceituais. Vargas questiona as hegemonias que indicam uma história única ao recontar e responder a sua própria história familiar, valendo-se das forças religiosas que reconduzem à afrocentricidade de seus gestos.
Silvana Marcelina é curadora, artista e educadora. Graduada e mestra em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É especialista em Linguagens Artísticas, Cultura e Educação pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e discente de Artes Visuais na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Sua pesquisa artística-curatorial debruça-se sobre as respostas estético-críticas dadas às opressões estruturais da sociedade brasileira, em especial as respostas em que as ideias de resistência e afeto se entrecruzam. É interessada em macro e micropolíticas, reflexão crítica e afetos. Entre as suas exposições recentes estão: “Devoração, Galeria Modernistas e Encruzilhada 74”, assinada com Osvaldo Carvalho, Espaço Triplex (2022); “naZanza”, Galeria Aymoré (2019-2020); “O Grito”, Espaço Pence (2019); “Africanizze Performática”, assinada com Candé Costa, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (2018); todas no Rio de Janeiro. Também integrou as bancas de seleção do Edital naZanza (2019), da Escola Sem Sítio, e da Cuíca Residência Artística em Arte Urbana (2020), da Lambes Brasil, e foi orientadora da Residência Artística Flerte com Arte (2021), pela Atelier Cultura, Rio de Janeiro.
Joana d’Arc de Nantes Silva é produtora cultural, Doutora e Mestre em Comunicação pela UFF, onde se graduou em Produção Cultural e em Estudos de Mídia. Possui experiência em escrita, elaboração e produção de exposições de artes visuais, editoração de livros, cursos e oficinas de arte, festivais de cinema, cineclubes e apresentações teatrais. Atuou em projetos inclusivos como “Vivências – música é para sentir”, na CAIXA Cultural Recife (2018); “Sarau de LIBRAS – Clarice Lispector”, em bibliotecas públicas da cidade do Rio de Janeiro (2016); “Jorge Amado em 4 Faces”, série de leituras dramatizadas e oficinas em LIBRAS para o público infantil, na CAIXA Cultural em São Paulo e Rio de Janeiro (2015); a exposição “À mercê do impossível – Ana Cristina Cesar”, na Caixa Cultural Rio de Janeiro (2017); e o projeto de cursos “Fôlego – Programa de formação e capacitação para profissionais da arte e da cultura” (2021), com patrocínio da Lei Aldir Blanc.