Últimos dias da exposição
“Utopia brasileira – Darcy Ribeiro 100 anos” no Sesc 24 de Maio
Com curadoria de Isa Grinspum Ferraz e vídeos de Eryk Rocha, exposição que evidencia a atualidade do pensamento deste intelectual, apresentando suas várias facetas de atuação pública, chega ao fim em 25 de junho de 2023
Pioneiro, visionário e atuante em um projeto de nação. Assim era Darcy Ribeiro, um importante personagem da história do país que deixou contribuições em diversas áreas de conhecimento. Em celebração ao seu centenário e evocação da atualidade de seu pensamento, até o dia 25 de junho/2023, o Sesc 24 de Maio recebe a exposição Utopia brasileira – Darcy Ribeiro 100 anos.
Com curadoria de Isa Grinspum Ferraz, colaboradora de Darcy Ribeiro por mais de 10 anos, a mostra propõe um diálogo entre uma coleção de objetos e documentos originais da coleção do homenageado, obras de arte contemporânea, fotos e aparatos multimídia, com vídeos diversos e uma grande instalação audiovisual
No vão central do Sesc 24 de Maio, área com pé direito mais alto, os visitantes adentram uma experiência audiovisual imersiva, projetada em 360 graus, que apresenta o kuarup realizado em homenagem a Darcy Ribeiro em 2012, na reserva indígena do Xingu. Já no perímetro do espaço expositivo, a potência da sua reflexão e de sua obra será apresentada a partir de quatro facetas que traduzem o seu legado: o antropólogo, o educador, o político e o ensaísta e pensador do Brasil. Esses núcleos serão compostos de vídeos, plumárias indígenas coletadas por Darcy, fotografias, objetos, documentos, obras literárias, cartas originais inéditas e linha do tempo.
Neste momento em que se discute o Marco Temporal, o pensamento de Darcy Ribeiro se mostra valioso. Por isso, a curadora Isa Grinspum destaca que a contemporaneidade do estudioso é um aspecto importante para a mostra: “Mais do que uma homenagem aos cem anos do Darcy, mais do que algo memorialístico, eu quis trazer a potência e a atualidade de muitas das coisas que ele falou, sobretudo se pensarmos no que estamos vivendo hoje no Brasil. Para mim, ele não está morto. Não é a celebração de um pensador do século XX. Darcy Ribeiro é extremamente atual, e essa é uma exposição sobre o Brasil”.
Além da curadoria principal, Utopia brasileira contou com a contribuição do curador assistente Marcelo Macca, do cineasta Eryk Rocha e dos consultores José Miguel Wisnik e Mércio Gomes. O projeto expográfico é de Marcelo Ferraz. A identidade visual, trabalhada a partir do conceito de constelação, explora imagens de intelectuais e artistas que influenciaram a trajetória de Darcy Ribeiro e é assinada por Gustavo Piqueira.
Reconhecido como homem de pensamento e ação, Darcy se destacou na defesa pelos povos indígenas do Xingu; na militância a favor da educação pública e de qualidade, criando universidades inovadoras, como a UNB; foi escritor de romances e ensaios de antropologia e sociologia, entre os quais se destaca O povo brasileiro (1995), e de romances, como Maíra (1976), além de atuar em várias frentes políticas.
Kuarup multimídia
A instalação audiovisual que promove uma imersão no kuarup de Darcy Ribeiro – cerimônia fúnebre póstuma ocorrida no território indígena do Xingu em 2012 – é um dos destaques da exposição Utopia brasileira. O kuarup é um ritual em homenagem aos mortos ilustres organizados por diversos povos indígenas no Alto Xingu, em uma celebração de importante função socializante e pacificadora, que culmina em festejos, danças e um torneio de luta entre guerreiros
No caso de Darcy Ribeiro, essa celebração simbolizou mais um gesto de reconhecimento da parte dos povos originários em relação à contribuição e ao envolvimento do antropólogo na causa indígena. Na ocasião, o ritual foi documentado em vídeo. O material bruto de registro foi trabalhado pelo cineasta Eryk Rocha, que concebeu a montagem apresentada na exposição.
Além dessa grande oca circular, com projeção do chão ao teto, e dos setores que apresentam as variadas atuações de Darcy, há ainda diálogos artísticos estabelecidos por meio da presença de algumas obras. Duas canções de Tom Zé, desenvolvidas para a peça Língua brasileira, de Felipe Hirsch, e muito conectadas com o pensamento do antropólogo, serão apresentadas em um nicho. Estarão expostas ainda obras de Regina Silveira, Anna Bella Geiger, Bob Wolfenson e do recém-falecido Emanoel Araújo.
Educativo e acessibilidade
Como parte do compromisso do Sesc São Paulo com a educação e a acessibilidade, Utopia Brasileira – Darcy Ribeiro 100 anos chega com um programa composto de atividades que visam promover a mediação cultural e potencializar a experiência do público com os temas presentes na exposição.
A ação educativa realizará até a última semana de exposição, visitas agendadas para grupos; visitas para públicos espontâneos aos finais de semana; programações educativas; material educativo voltado para profissionais da área de educação, saúde e assistência social; e materiais acessíveis dispostos na exposição para utilização autônoma. Coordenada por Marcio Farias, a equipe é composta por profissionais da área de mediação com formações em Artes Visuais, Artes Cênicas, Ciências Sociais, História, Letras e Pedagogia.
A exposição conta com os seguintes recursos de acessibilidade: mobiliário acessível; audioguia geral e audiodescrição de objetos táteis; videoguia em Libras com Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE) e vibroblaster para obras sonoras; réplica, maquete e mapa táteis; piso podotátil e impressão dos textos em dupla leitura (português ampliado e Braile). Há também textos traduzidos para os idiomas: espanhol, francês e inglês. O Sesc 24 de Maio é acessível a cadeiras de rodas elevadores.
Catálogo da exposição
Foi produzido um catálogo com imagens das obras, fotografias da exposição e textos de importantes intelectuais, como José Miguel Wisnik, Beto Ricardo e Luiz Antonio Simas. Os exemplares estão disponíveis para a retirada gratuita no espaço expositivo.
Sobre Darcy Ribeiro
Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, em 26 de outubro de 1922. Em 1939, mudou-se para Belo Horizonte e ingressou na Faculdade de Medicina. Adiante, em 1942, abandonou o curso de Medicina e se mudou para São Paulo, onde passou a cursar Ciências Sociais na USP. O intelectual se formou em Antropologia pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo em 1946.
No ano seguinte, iniciou seu trabalho como etnólogo no Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Sua colaboração na instituição seguiu até 1956, atuando junto ao Marechal Rondon com indígenas do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia. Foi nesse intervalo que começou a planejar o Museu do Índio, inaugurado em 1953. O museu, localizado no Rio de Janeiro, é reconhecido pela Unesco como o primeiro no mundo a difundir a cultura indígena de forma a combater o preconceito.
Entre 1955 e 1956, o pioneiro Darcy Ribeiro atuou como professor de etnologia da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Na sequência, em 1957, foi nomeado por Anísio Teixeira diretor da Divisão de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, órgão do Inep. O trabalho do antropólogo no âmbito das instituições públicas continuaria até o fim de sua vida. Ainda em 1959, Darcy foi encarregado pelo presidente Juscelino Kubitschek de planejar a Universidade de Brasília, onde exerceu a função de primeiro Reitor em 1961.
Passou então, em 1962, ao cargo de Ministro da Educação do Gabinete parlamentarista presidido por Hermes Lima na gestão do Presidente João Goulart; e, em 1963, foi nomeado Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República de Jango. Após o golpe militar, no ano seguinte, Darcy Ribeiro se exilou no Uruguai e teve os direitos políticos cassados pelo AI-1. Seus gestos de contribuição social e institucional, nesse momento, se estenderam a outros países da América Latina. No Uruguai, atuou como professor da Universidad de la Republica e participou da reforma e da fundação de universidades locais.
Após ter sido absolvido pelo STF das condenações militares que pesavam sobre ele, em 1968, Darcy regressou ao Brasil, porém acabou sendo preso e indiciado em processo por infração à Lei de Segurança Nacional após a edição do AI-5 em 13 de dezembro. Desse modo, partiu novamente para o exílio em 1969. Foi convidado pelo presidente Salvador Allende para assessorá-lo, em 1971, e atuou como professor da Universidad de Chile. Mudou-se para o Peru em 1972, onde trabalhou de assistente do presidente Juan Velasco Alvarado na organização do Centro de Participação Social, patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Também elaborou estudos para universidades do México e da Costa Rica.
O reconhecimento mundial da contribuição de Darcy Ribeiro é contínuo, permanente. Em 1978, foi laureado doutor honoris causa na Sorbonne, França. Posteriormente, já em 1979, foi anistiado, retornou ao Brasil e tornou-se professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. No contexto da redemocratização, elegeu-se vice-governador do Estado do Rio de Janeiro na chapa de Leonel Brizola (PDT). Entre 1983 e 1986, como vice-governador, respondeu pela Secretaria de Ciência e Cultura e coordena o Projeto Especial de Educação, responsável pelo programa das escolas de horário integral – os Cieps. Além disso, inaugurou em sua gestão o Sambódromo.
Mais tarde, em 1990, Darcy Ribeiro se elegeu Senador pelo PDT do Rio de Janeiro. No entanto, licenciou-se em 1991 para assumir a Secretaria Extraordinária de Programas Especiais do Estado do Rio de Janeiro, no governo Leonel Brizola. Durante essa década, deu prosseguimento aos seus feitos intelectuais e políticos em diversas ações, como a fundação da Universidade Estadual do Norte Fluminense (1994), a relatoria do Projeto da Lei de Diretrizes Bases da Educação (1995) e a idealização da Universidade Aberta do Brasil e da Escola Normal Superior (1996).
Ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1992, autor de diversas publicações como Uirá sai à procura de Deus (1957), obra de ficção baseada na vida indígena, La universidad necessaria (1967), Configurações histórico-culturais dos povos americanos (1962), UnB: invenção e descaminho (1978), Nossa escola é uma calamidade (1984) e O povo brasileiro (1995).
Darcy morreu em Brasília no dia 17 de fevereiro de 1997. Seu corpo foi sepultado no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Sobre o Sesc São Paulo
Com 76 anos de atuação, o Sesc – Serviço Social do Comércio – conta com uma rede de 45 unidades operacionais no estado de São Paulo e desenvolve ações com o objetivo de promover bem-estar e qualidade de vida aos trabalhadores do comércio, serviços, turismo e para toda a sociedade. Mantido pelos empresários do setor, o Sesc é uma entidade privada que atua nas dimensões físico-esportiva, meio ambiente, saúde, odontologia, turismo social, artes, alimentação e segurança alimentar, inclusão, diversidade e cidadania. As iniciativas da instituição partem das perspectivas cultural e educativa voltadas para todas as faixas etárias, com o objetivo de contribuir para experiências mais duradouras e significativas. São atendidas nas unidades do estado de São Paulo até 30 milhões de pessoas por ano. Hoje, aproximadamente 50 organizações nacionais e internacionais do campo das artes, esportes, cultura, saúde, meio ambiente, turismo, serviço social e direitos humanos contam com representantes do Sesc São Paulo em suas instâncias consultivas e deliberativas. Saiba mais em AQUI.
Serviço
Utopia brasileira – Darcy Ribeiro 100 anos
Local: Sesc 24 de Maio
Abertura: 17 de novembro, às 19h
Período expositivo: até dia 25 de junho de 2023
Horário de funcionamento: terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h
Acessibilidade: mobiliário acessível; audioguia geral e audiodescrição de objetos táteis; videoguia em Libras com Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE) e vibroblaster para obras sonoras; réplica, maquete e mapa táteis; piso podotátil e impressão dos textos em dupla leitura (português ampliado e Braile)
Classificação Livre| Entrada gratuita
Não tem estacionamento
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Telefone: (11) 3350-6300
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