Salve salve queridas capivaras!
Ele está de volta, Alex Calheiros com o filme vencedor do Urso de Prata de roteiro no Festival de Berlim e o prêmio Teddy.
“A mulher fantástica não é uma mulher”. É uma transexual. Mas esta não é a principal inquietação no filme dirigido por Sebastián Lelio. Na verdade nem seria uma inquietação se considerássemos a possibilidade de uma sociedade sem preconceito. Infelizmente não é o caso. O vazio e a solidão causados pela intolerância mostram nesta produção conjunta (cinema chileno, alemão, espanhol e americano) o tamanho da estupidez humana diante de uma situação comum do dia a dia: a perda.
Marina (interpretada pela atriz trans Daniela Vega) namora o empresário Orlando (Francisco Reyes). Ele largou esposa e filhos para viver um grande amor com ela. E que amor! Marina vive entre o trabalho (garçonete), Orlando e a paixão pela música clássica. Ela faz aulas de canto e sonha um dia ser uma grande cantora. Porém, no dia do próprio aniversário, após comemorarem e passarem a noite juntos, Marina acorda com Orlando sentado a cama sentindo-se mal. Desesperada, ela o leva ao hospital, mas ele não resiste e morre. A partir daí a vida de Marina muda completamente. Ela é obrigada a entregar o carro e a sair do apartamento em que morava com o Orlando. A garçonete, em momento algum, se opõe as imposições feitas pela família do namorado. Pior. Marina sofre uma série de humilhações por suspeita de assassinato. “Uma mulher fantástica” passa por tudo e segue com o luto silencioso. O seu único desejo é despedir-se do companheiro.
Depois dos familiares de Orlando impedirem Marina de participar do velório e das agressões sofridas pelo filho dele, finalmente, Marina consegue dar o último adeus ao seu grande amor. Restou-lhe apenas as boas lembranças e mais nada. Nem mesmo uma chave encontrada por ela de um armário na sauna em que ele frequentava deu a Marina alguma garantia. O vazio é total. Salvo por recuperar a cadela Diabla, presente dado pelo namorado durante o tempo em que viveram juntos, nada mais, além do sentimento, deu a ela a sensação de pertencimento.
A trama retrata de forma convencional um recorte de vida entre um casal gay. Ficou evidente a tristeza proporcionada pela desconfiança dos que não enxergam a existência do amor entre dois indivíduos do mesmo gênero e todos os pré julgamentos a relação. Beira o constrangimento.
Vencedor do Urso de Prata de roteiro no Festival de Berlim e o prêmio Teddy, “Uma mulher fantástica” é uma demonstração de que o fantasma da intolerância e o ódio preconceituoso são abomináveis diante do que é apresentado de forma tão natural: o amor entre duas pessoas. Nada pode justificar tamanha incapacidade de aceitar o outro do jeito que ele é. Nada! O filme mostra isto e transmite a sensação de que tudo seria muito mais fácil se as pessoas olhassem mais para as próprias vidas. Que tal deixá-los e ficarmos em paz? É por aí… Indico!
Por Alex Calheiros