Já estreou no canal A&E a nova série documental Segredos da Playboy (Secrets of Playboy), que revela o lado mais sombrio do império criado há quase 70 pelo magnata da comunicação Hugh Hefner (1926-2017). Sob uma perspectiva de gênero e ênfase no movimento #MeToo, a produção de 12 episódios mostra as verdades ocultas por trás do império da Playboy, à medida que investiga o universo complexo criado por Hugh Hefner. Além disso, o personagem é desconstruído – além da pessoa diante da opinião pública – com foco no sofrimento das mulheres que habitavam a Mansão Playboy, localizada em Los Angeles, Califórnia.
Segredos da Playboy traz material inédito, incluindo imagens de arquivo e entrevistas exclusivas com especialistas de todas as facetas do mundo Playboy, muitos dos quais compartilham suas histórias pela primeira vez, como a ex-playmate e diretora de Promoções, Miki Garcia; ex-namoradas de Hefner, Holly Madison, Bridget Marquardt e Sondra Theodore; a autora de “Playground: A Childhood Lost Inside the Playboy Mansion” e moradora da Playboy Mansion West, Jennifer Saginor; e membros do círculo íntimo de Hefner, incluindo a assistente executiva Lisa Loving Barrett, o mordomo Mitch Rosen e o mordomo pessoal de Hefner, Stefan Tetenbaum. Nos últimos capítulos, as gêmeas e ex-namoradas de Hefner Karissa e Kristina Shannon e Audrey Ann Huskey também dão seu depoimento.
Até o surgimento da Playboy em 1953, nudez era uma categoria clandestina nas publicações e não era bem vista pela sociedade. A revista rompeu com esse paradigma e colocou o corpo nu da mulher como objeto de consumo na mídia. A série revela como este portal de prazer para os homens, por meio de páginas impressas, levou a um mundo sombrio de predadores sexuais, envolvendo celebridades, bem como o tráfico e abuso de mulheres (muitas delas menores) que acabaram em mansões satélites que funcionavam como clubes particulares para realizar orgias. Essas “mansões escondidas” abrigavam as garotas que não chegavam às edições da Playboy.
“Tudo era como um culto”, diz Miki García, a ex-coelhinha que trabalhou para a Playboy como chefe de promoções entre 1973-1982. “As mulheres foram preparadas e levadas a acreditar que faziam parte desta família. E Hefner acreditava ser o dono daquelas mulheres. Algumas playmates tiveram overdose, outras cometeram suicídio”, revela Garcia ao explicar que pensou em escrever um livro para denunciar essas atrocidades. “Hefner mandou pessoas para me subornar. Quando você encontra alguém tão poderoso, você fica com medo, porque tudo pode acontecer.”
Em 1971, Hefner comprou a mansão e criou um verdadeiro oásis para adultos. “Ninguém te julgava naquele ambiente luxuoso e glamoroso, era como uma Disneylândia para adultos”, lembrou León Kennedy, um dos amigos de Hugh, dos tempos mais inocentes da irmandade Playboy. “Éramos invisíveis, ele só dava ordens, éramos seus servos”, recordou também Stefan Tetenbaum, um dos mordomos da casa, acrescentando que “havia cerca de 150 regras para administrar na mansão e uma das mais importantes era que não devíamos falar com as meninas”. Uma curiosidade: todos os lugares da mansão tinham microfones e câmeras.
A ilusão de liberdade sexual não reprimida contrastava com a realidade de abuso físico e emocional de milhares de mulheres do mundo Playboy. Aliada ao aspecto brilhante de um universo que ostensivamente celebrava as mulheres, estava uma realidade sinistra, que por décadas permitiu comportamentos nefastos que incluíam violência sexual, abuso de drogas, e em que a prostituição, o suicídio e até o assassinato espreitavam nas sombras. A produção explora como o império de Hefner manipulava mulheres em um ambiente tóxico, silenciando suas vozes, colocando-as umas contra as outras e abrindo a porta para predadores sexuais. Segredos da Playboy rompe com a ilusão da caixa cristalina na qual o universo da Mansão esteve imerso por décadas. Uma bolha de sabão da qual ninguém queria sair e poucos ousavam furar.