Salve, salve minhas queridas capivaras.
Militante de longa data da cultura negra e do samba, Marcos Sampaio de Alcântara, leia-se Marquinhos de Oswaldo Cruz, na noite da última quarta-feira, foi homenageado com o conjunto de medalhas de Mérito Pedro Ernesto.
Nascido e criado em Oswaldo Cruz, o compositor incorporou em seu nome o tradicional bairro, e vem há anos resgatando em suas letras, voz, e o samba regado com muita história.
“Uma honraria que a gente nunca imaginou, estou muito feliz”, declarou o maior homenageado.
A emoção rolou solta, com Dorina cantando a música “Verde Bandeira”, acompanhada por Tiago Prata, o Pratinha. Palinha ainda de Nina Rosa cantando “Santo Amaro a Madureira”, narração de um texto feito por sua enteada Maria Clara (filha de sua mulher Maria Machado), finalizado com a declarando por ser sua maior fã.
Em um dos momentos de comoção, Marquinho veio às lágrimas ao conferir com os convidados fotos antigas exibidas em telão, com registros ao lado de Dna Ivone Lara, família e momentos de shows.
Ganhou ainda vídeos gravados com mensagens de felicitação dos jornalistas Chico Pinheiros e Flávia Oliveira, assim como de Milton Cunha e outros.
A iniciativa da homenagem partiu do vereador Lindbergh Farias (PT). A mesa, montada para a solenidade, no Salão Nobre do Palácio Pedro Ernesto, na Câmara Municipal do RJ, foi composta por Marcus Faustini – secretário de cultura de Eduardo Paes, deputado estadual Eliomar Coelho; cantora Dorina, o músico Pratinha, Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos, Lindbergh e a grande estrela da noite.
Marquinhos recebeu ainda o carinho de Rita Fernandes, Marcelo dos Santos – Rede Carioca de Rodas de Samba, entre outros.
“Marquinhos significa a força da cultura do subúrbio. Um militante político, militante cultural, uma pessoa que representa muito essa resistência carioca”, declarou o vereador do PT.
Pode-se dizer que Marquinhos tem um espólio genuinamente carioca. Tem parceiros baluartes da música brasileira, como Jongo da Serrinha, Candeia, Arlindo Cruz, Argemiro Patrocínio, Pedro Luís, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento, entre muitos outros. Gravou com os grupos Raça, Pirraça; também com a cantora Beth Carvalho – esta última eternizou em sua voz a canção “Geografia Popular”, um dos maiores hinos do samba carioca.
“Marquinhos é um grande merecedor desta homenagem, com garra, traz sob seu domínio representativos projetos, como a Feira das Yabás e Trem do Samba, que são grandes expressões às tradições afro-brasileiras da região. À ele, todas as honras”, declarou o Babalawô Ivanir dos Santos.
A Feira das Yabás, projeto de imensa relevância, foi declarada, inclusive, como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do RJ, em 2018. Em 2006, Marquinhos decidiu promover um evento mensal gratuito no bairro de Oswaldo Cruz, misturando samba à tradicional culinária local. Assim nasceu a feira, festa que faz homenagem às divindades das religiões afro-brasileiras, ao mesmo tempo em que destaca o protagonismo do matriarcado na região da grande Madureira, virando um sucesso desde a sua estréia.
Sua paixão pelo samba foi a inspiração para que Marquinhos desenvolvesse muito s projetos. Entre eles o Trem do Samba, tornou-se uma das festas mais tradicionais do Rio, fazendo parte do calendário oficial da cidade. Seguindo o traçado do trem, em paradas por diversos bairros, até Oswaldo Cruz, instalaram-se comunidades que originaram os principais grupos de bambas cariocas. No próprio trem, os sambistas se reuniam no trajeto do Centro da cidade até a estação de suas casas. Para resgatar a relação de bairros da Zona Norte do Rio com o samba, reavivar a memória e celebrar o Dia Nacional do Samba, 2 de dezembro, atrações musicais se apresentam em palcos montados nas estações e em vagões de trem. Já reuniu uma multidão de mais de 200 mil pessoas. O Trem do Samba, já fez parada até na França.
Marquinhos é oriundo do bairro que é uma espécie de África no RJ, região que se destaca pelo protagonismo do matriarcado e pela importância das “tias” locais. Um bairro, enfim, definido pelo compositor como “um Museu do Louvre de bens culturais imateriais”. Marquinhos traz toda essa rica herança em suas inúmeras composições, bem como em sua militância e projetos, sempre visando a preservação dessa rica memória. Sempre atento e conectado ao seu tempo e espaço foi um dos fundadores do “Movimento Acorda Oswaldo Cruz”.
No início dos anos 2000, sua música o levou a protagonizar outro grande projeto: a criação da Feijoada da Família Portelense, evento que serviu de referência para várias outras escolas de samba. Marquinhos pode ser caracterizado como “incansável”. Em 2019, sua música rompeu barreiras continentais, trazendo para o Rio de Janeiro a Fête de la Musique, que acontece na França desde a década de 80.
Atualmente, o compositor segue firme em sua militância pela valorização do samba, da ancestralidade africana e, claro, de seu bairro natal.
Afinal, ele é o principal condutor desse legado.
Fotos de Rozangela Silva