Lançamento é do selo Nightbird Records
Luan Bates trata sua música como forma de exorcizar dilemas pessoais, mas ao mesmo tempo criando letras sinceras de rápida identificação. É assim “Nothing Left to Say”, novo disco do artista potiguar, que acaba de sair pelo selo Nightbird Records. Destilando referências do rock alternativo, indie e britpop, ele apresenta um lado mais intenso da sua sonoridade. O álbum já está disponível nas principais plataformas de streaming.
Luan construiu seu trabalho solo usando o violão como base, o que fez dele um artista associado ao folk. Com o novo disco, ele quer explorar um aspecto ainda desconhecido da sua musicalidade. Aqui, riffs e solos acompanham uma bateria marcante, remetendo a um rock noventista para embalar canções sobre saúde mental, religiosidade, amores platônicos, amizades separadas pelo tempo, sociedade, paranóias.
“O que eu desejo é tirar essa ideia de que, por ter gravado com meu violão antes, obviamente eu sou um artista folk ou de baladas. O disco é uma provação minha enquanto artista, ao mesmo tempo que é uma catarse enquanto pessoa. Eu acredito que o álbum será um salto para mim nesses dois lados, e que conseguirei me conectar melhor com quem escutar as músicas”, entrega Luan.
O processo foi todo feito pelo artista, que assina desde as composições, gravação, produção musical, mixagem e masterização, passando por voz e instrumentos (exceto vocais de Fernanda Fagundes em 2 faixas, guitarra de Toni Gregório e e clarinete de Leo Fazio, ambos no single “Casting Out a Devil”), culminando na finalização do design da capa feita por Jane Gomes. Mesmo diante dos desafios do atual período de isolamento social, “Nothing Left to Say” ganhou forma exatamente como foi planejado: gravado entre março e julho em uma imersão solitária de Bates.
Também produtor musical e agitador cultural, e após dois EPs sob codinomes (Scangledcrow, em 2014 e Tendre, em 2016), Luan se lançou como artista após um ano fazendo shows acústicos em Natal (RN). As canções intimistas geraram uma identificação forte cenário local, e o EP “Listen Up, Mates” ganhou espaço em sites e blogs independentes de música, gerando registros audiovisuais em canais de música como o Elefante Sessions.
Com o lançamento de seu segundo EP, “Distant Minutes”, Bates foi incluído no line-up da edição 2017 do Festival DoSol e indicado ao Prêmio Hangar de Música como revelação da música potiguar. Já em 2018, o músico colaborou com o produtor mineiro Thought Crimes para um remix da música “Squares and Farces” e lançou seu álbum de estreia, “The Morning Sun”, refletindo experiências e relações do cantor com Natal durante a transição da adolescência para a vida adulta.
Lançando suas faixas em inglês, devido à influência do rock alternativo dos anos 90 e do início dos anos 2000, Luan faz agora uma ruptura sonora e estética em “Nothing Left to Say”. O álbum é um registro de vivências e sentimentos em meio a conflitos com sua saúde mental e com a sociedade, além de aprofundar o entendimento sobre o período de transição do início de sua vida adulta.
“A ideia desse registro sempre foi de trazer um som mais pesado em relação aos meus trabalhos anteriores, mas também, de abordar minha condição mental de maneira mais realista, mesmo que mais sombria ou negativa, através das letras. Hoje em dia até os seus desabafos e crises são expostos de maneira mais polida, ‘do jeito que você quer divulgar’, e quando escrevi as faixas, estava numa depressão profunda que não me permitia fugir de pensamentos mais pesados”, revela.
Do violão ao peso das guitarras, Luan Bates se mostra um artista multifacetado na sua discografia. “Nothing Left to Say” vem para somar a essa obra unida por composições sinceras e uma lírica escancarada sobre aspectos pessoais e sociais. O álbum já está nas principais plataformas, através do selo Nightbird Records.
Assista a “Casting out a devil”: https://youtu.be/Q1qAeedWyWc
Ouça “Nothing Left to Say”: https://smarturl.it/
Confira o mini-doc do disco: https://youtu.be/BFy8NUYzW-0
Ficha técnica
Composto, gravado, produzido, mixado e masterizado por Luan Bates.
Gritos/backing vocals em “Sanity” e “Systematic” por Fernanda Fagundes.
Guitarra solo em “Casting Out a Devil” por Toni Gregório.
Clarinete em “Casting Out a Devil” por Leo Fazio.
Demais instrumentos e vozes por Luan Bates.
Capa do álbum por Jane Gomes; finalização/design por Luan Bates.
Faixa-a-faixa, por Luan Bates:
1. Sanity: primeiro single do álbum, “Sanity” dá o pontapé do disco com uma veia mais punk rock, lidando com as dualidades da nossa sociedade e a paranoia que resulta dessas dicotomias.
2. Waiting for the Madness: essa faixa surgiu despretensiosamente, criando esse riff que serviu de base pra linha vocal. Como o título sugere, ela trata de uma loucura enraizada em cada pessoa, que pode surgir de formas diferentes para cada um; no meu caso, em música. A próxima faixa é uma continuação dela.
3. Asylum: inicialmente seria conectada à Waiting for the Madness, pois sua base é uma variação da faixa 2. Asylum também trata de loucura e paranoia, mas mais direcionada às pessoas com as quais você se relaciona, e o modo como sua saúde mental te leva à distorcer e à tratar de forma agressiva seus amigos mais próximos.
4. Systematic: segundo single do disco, “Systematic” aborda a relação de pessoas comuns com o tempo, e de que modo ele determina as condições, visões e planos da maior parte da população, sendo definido ou controlado por uma parcela mínima da sociedade.
5. This Thing Has Grown: essa faixa é parte desse miolo meio blues/meio hard rock, lidando com alguns aspectos da depressão, especialmente sobre a dificuldade de identificar a gravidade dessa condição, e o modo como ela te desumaniza ou tira sua sensibilidade em relação ao mundo.
6. Casting Out a Devil: Foi escrita numa época em que alguns amigos de infância me levaram de volta à Igreja católica. Eu participei de algumas coisas novamente, mas não me sentia conectado à doutrina e enxergava algumas coisas que eram contraditórias ao que pregavam. É complicado falar de amor ao próximo e, em outro momento, dizer que ‘o homem deve amar a mulher’, isso num contexto em que só esse tipo de relação é válida, por exemplo. Então ‘Casting Out a Devil’ saiu dessas fontes e do meu conflito interno com o catolicismo, especificamente
7. White Tongue: essa é um rock “roque”, cujo riff eu tinha feito há alguns anos, mas não conseguia escrever uma letra em torno dele. Veio a ideia do título e ela guiou o restante. White Tongue é sobre a idealização do sexo, digamos, sobre desejos e satisfações.
8. Jana: junto com White Tongue, foram as duas músicas “novas” que fiz pro álbum – as outras faixas foram escritas há alguns anos e só precisavam ser arranjadas e gravadas. “Jana” surgiu de um loop, que virou a base da música (baixo, bateria e synth), e de alguns trechos de letras que também tinha guardado. Infelizmente, no início do ano uma antiga amiga minha faleceu e senti muito essa perda, mesmo não tendo uma relação próxima com ela nos últimos anos; então a faixa é motivada por ela, tentando entender como isso aconteceu e porque não pude ter maior proximidade com essa pessoa.
9. My Fleeting Sea: ela se conecta com Jana devido a essa ideia de relações passageiras, efêmeras. My Fleeting Sea fala disso baseado não só em relação a amizades, mas também de amores platônicos. O que poderia acontecer se, em vez de deixar passar essa ideia ou paixão, eu tentasse me aproximar de x ou y?
10. Soldier Life: é a minha música mais antiga, escrevi em 2007, tem um pouco daquela vibe Oasis que ainda não pude deixar de lado, mas é meio que o pontapé de tudo que falo no álbum. Talvez seja minha primeira ideia sobre depressão, sem que eu soubesse disso. Então ela traz esse lamento final: ame o “soldado”, não a vida dele.