Mostra propõe diálogo a partir de uma perspectiva contemporânea entre o artista Miguel dos Santos e as artistas Erika Verzutti, Gokula Stoffel e Pélagie Gbaguidi
1- Miguel dos Santos (1944), Escravo da imaginação, 1980. Crédito: Ding Musa / Cortesia do artista e Galatea
2- Gokula Stoffel, Pensando, 2020. Crédito: Eduardo Ortega Eduardo Ortega/ Cortesia da artista e Fortes D’Aloia & Gabriel
Inaugurando o calendário de 2025, a Galatea Salvador une-se à Fortes D’Aloia & Gabriel, em parceria inédita, para inaugurar a mostra Corpos terrestres, corpos celestes. Com curadoria de Tomás Toledo, a coletiva propõe uma interlocução entre Miguel dos Santos (1944, Caruaru), representado pela Galatea, e as artistas Erika Verzutti (1971, São Paulo), Gokula Stoffel (1988, Porto Alegre) e Pélagie Gbaguidi (1965, Dakar), representadas pela Fortes D’Aloia & Gabriel. A abertura ocorre no dia 30 de janeiro e se alinha ao calendário festivo da cidade, que celebra Iemanjá no dia 2 de fevereiro.
Ao colocar Miguel dos Santos em diálogo com Verzutti, Stoffel e Gbaguidi, três artistas mulheres de repertórios distintos, a curadoria joga luz sobre a obra do artista pernambucano radicado em João Pessoa a partir de uma perspectiva contemporânea, criando justaposições entre a sua obra, sobretudo dos anos 1970 e 1980, e a produção recente das artistas convidadas.
O retrato é uma tipologia marcante na obra de Santos e reflete as suas diversas influências estéticas, como o Movimento Armorial, as máscaras da arte tradicional africana e a deformação formal de caráter expressionista. A partir desse interesse temático, a exposição toma a representação da figura humana na obra dos quatro artistas como fio condutor, explorando as deformações, transformações, transmutações e fusões de imagens do corpo. Dividida em seis núcleos, Retratos, Máscaras, Corpo fragmento, Vênus-mãe, Corpo celeste e Totens, a mostra percorre os pontos de convergência e fricção entre os trabalhos em pintura, desenho e escultura.
Curador e sócio fundador da Galatea, Tomás Toledo comenta a parceria com a Fortes D’Aloia & Gabriel e a abordagem da exposição: “Parte fundamental do projeto da Galatea Salvador é criar um espaço de trocas, de intercâmbio intelectual e cultural entre o Sudeste e o Nordeste e, nesse sentido, a parceria com a Fortes D’Aloia & Gabriel inaugura uma série de colaborações que pretendemos realizar com outras galerias. Nesta exposição, colocamos em diálogo com um artista nordestino, Miguel dos Santos, duas artistas do Sudeste, Gokula Stoffel e Érika Verzutti, junto com uma artista senegalesa, Pélagie Gbaguidi, investigando como diferentes tradições e contextos artísticos podem se entrelaçar em torno de questões comuns. Para além de celebrar as singularidades de cada artista, também buscamos abordar a obra de Miguel dos Santos em uma perspectiva ampliada, conectada às práticas artísticas globais na contemporaneidade.”
Márcia Fortes, sócia-fundadora da Fortes D’Aloia & Gabriel, discorre sobre as correspondências existentes entre Miguel dos Santos e Pélagie Gbaguidi, Gokula Stoffel e Érika Verzutti, representadas pela sua galeria: “As pinturas de Miguel dos Santos parecem retratos, imbuídas de um desejo escultórico latente. Ao passo que suas esculturas incorporam mistérios, como máscaras. Tudo em sua obra acontece naquele lugar além da realidade física e visível. É nesse território intangível que a obra de Miguel encontra os trabalhos de Pélagie Gbaguidi, de Gokula Stoffel e de Érika Verzutti. Ao mesmo tempo pintoras e escultoras, as obras dessas artistas imprimem formas do corpo enquanto emanam auras. A conversa entre todos os trabalhos flui naturalmente. O que temos aqui são quatro artistas transitando livremente entre corpos terrestres e corpos celestes.”
A parceria entre as galerias se dá no primeiro aniversário da Galatea em Salvador, e reforça o seu intuito de fazer da sede na capital baiana um posto avançado para galeristas e curadores no Nordeste, além de um ponto de convergência para intercâmbios e trocas entre artistas, agentes culturais, colecionadores e o público em geral. A chegada da galeria na cidade, em 31 de janeiro de 2024, vinculou-se a um momento em que o centro histórico de Salvador passou a receber diversas iniciativas de restauração dos seus edifícios emblemáticos e de recuperação da sua vida turística e cultural. Situado na Rua Chile, primeiro logradouro do Brasil, o Edifício Bráulio Xavier, onde se encontra a Galatea, traz em sua lateral o mural intitulado A colonização do Brasil, feito pelo artista Carybé em 1962, hoje tombado pelo IPHAN.
Durante o período da exposição, a artista senegalesa de origem beninense Pélagie Gbaguidi estará na capital baiana em residência no Pivô Salvador, aprofundando sua pesquisa sobre a herança afrodiaspórica na cidade, seus desdobramentos na cultura popular, na dança e na música, e a maneira como esse complexo histórico se relaciona com o colonialismo.
Sobre Miguel dos Santos
Miguel dos Santos (1944) nasceu em Caruaru, PE, e, desde 1960, reside em João Pessoa, PB, onde estabeleceu seu ateliê. Artista autodidata, desde o início da sua produção explorou linguagens diversas, como a pintura, a cerâmica e a escultura em mármore e madeira, combinadas a referências da cultura popular do Nordeste, das mitologias dos povos originários das Américas e da arte iorubá trazida pelos povos da África. Ao lado de nomes como Ariano Suassuna, Francisco Brennand e Gilvan Samico, fez parte do Movimento Armorial lançado no Recife em 1970. Figuras como Aleijadinho e Mestre Vitalino também influenciam amplamente a sua produção.
Entre as suas principais exposições, estão: A forma do fim: esculturas no acervo da Pinacoteca, Pinacoteca de São Paulo, 2024; Movimento Armorial – 50 Anos, CCBB Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, 2022; Arte do Brasil no século 20, MASP, São Paulo, 2020; A ressacralização da arte, SESC Pompeia, 1999; Tradição e ruptura – síntese de arte e cultura brasileiras, Fundação Bienal, São Paulo, 1985; Os ritmos e as formas na arte contemporânea, Kunsthal Charlottenborg, Copenhague, 1989; 14ª Bienal Internacional de São Paulo, 1977; 2º Festival Mundial de Artes e Cultura Negra e Africana – FESTAC ‘77, Lagos, Nigéria, 1977; Miguel dos Santos: pinturas e cerâmicas, MASP, São Paulo, 1974; Miguel dos Santos, Galeria Bonino, Rio de Janeiro, 1972.
Suas obras fazem parte de importantes coleções permantenes, tais como: Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB Brasília, Brasil; Centro Cultural Benfica – UFPE, Recife, Brasil; Instituto Bardi | Casa de Vidro, São Paulo, Brasil; Museu de Arte de São Paulo – MASP, Brasil; Museu Casa de Cultura Hermano José, João Pessoa, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM Bahia, Salvador, Brasil; Museu da Casa Brasileira – MCB, São Paulo, Brasil; Sítio Roberto Burle Marx – IPHAN, Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca de São Paulo, Brasil.
Sobre Erika Verzutti
Erika Verzutti (1971, São Paulo) vive e trabalha entre São Paulo e Bruxelas. Utiliza materiais como papel machê, bronze, gesso, concreto, tinta acrílica, óleo e cera, ocupando a zona de contato entre a pintura e a escultura, numa prática abrangente e onívora. Suas formas podem partir de ovos, animais, frutas e verduras, como também de um processo empírico de moldagem manual. As superfícies de suas esculturas são frequentemente rugosas, riscadas, escavadas e recortadas, impondo notações da artista às formas reconhecíveis ou abstratas. Sua prática encontra um intercâmbio entre propriedades materiais e carga simbólica, reprocessando tanto a escultura modernista quanto a construção vernacular. A artista conecta uma temporalidade arqueológica com o ritmo contemporâneo, como um scroll infinito, através do seu fazer tátil que abriga elementos díspares sem hierarquizá-los. A rede de alusão criada pelas esculturas de Verzutti produz um campo de ressonâncias entre as figuras construídas e as referências culturais que seus contornos e silhuetas evocam.
Suas exposições individuais incluem: The life of sculptures, LUMA Arles, Arles, França (2024); Notizia, ICA Milano, Milão, Itália (2024); Erika Verzutti: New Moons, CCS Bard Galleries, Annandale-On-Hudson, Estados Unidos (2023); Tantra, Museo Experimental El Eco, Cidade do México, Mexico (2023); Churros and rain, Andrew Kreps Gallery, Nova York, Estados Unidos (2022); A indisciplina da escultura, Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil (2021); Erika Verzutti, Centre Pompidou, Paris, França (2019); Venus Yogini, Aspen Art Museum, Aspen, Estados Unidos; Carne Sintética, Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo (2019) e Ex Gurus, Andrew Kreps Gallery, Nova York, Estados Unidos (2018). Participou também das exposições coletivas Geneva Biennale–Sculpture Garden, Genebra, Suíça (2022); Joseph Beuys, Horia Damian, Ana Lupas, Mihai Olos, Erika Verzutti, Plan B, Berlin, Alemanha (2021); O Canto do Bode, Casa da Cultura de Comporta, Comporta, Portugal (2021); Crumple, Vin Vin Gallery, Viena, Áustria (2020); ANOZERO – Bienal de Arte de Coimbra, Coimbra, Portugal (2019); Wiggle, Galerie Greta Meert, Bruxelas, Bélgica (2018)
A artista tem trabalhos em importantes coleções públicas, tais como Arizona State University Museum – ASU Art Museum, Tempe, Estados Unidos; Carnegie Museum of Art, Pittsburgh, Estados Unidos; Centre Georges Pompidou, Paris, França; Colección Cisneros, Caracas, Venezuela; Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami, Estados Unidos; François Pinault Collection, França; Inhotim, Brumadinho, Brasil; MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil; MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil; Muzeum Susch, Zernez, Suiça; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Tate Modern, Londres, Reino Unido e The Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, Estados Unidos.
Sobre Gokula Stoffel
Gokula Stoffel (1988, Porto Alegre) vive e trabalha em São Paulo. As suas obras nascem da atenção ao seu entorno, a familiaridade com seus materiais é fornecida pelo contexto em que produz, e seus trabalhos são informados e alimentados pelo encontro e a troca. A artista incorpora tecidos que ganhou de presente, ramos de lavanda colhidos nas imediações de seu ateliê, exercícios diários quase meditativos, conversas com amigos e conhecidos. Estofados, urdiduras, resinas, fibras naturais e sintéticas compartilham o espaço em composições que articulam a execução livre com uma intensidade emocional palpável, numa pesquisa que atravessa suportes como pintura, escultura, tecelagem e desenho. Stoffel usa as mãos em um trabalho, pincel e linha de costura em outros, descobrindo uma ordem subjacente às suas obras, escorada não na fidelidade a uma técnica e sua execução límpida, mas numa prática sinuosa, que incorpora o acaso e as propriedades inerentes da matéria.
Suas exposições individuais incluem The Moon Between My Teeth, Elizabeth Xi Bauer, London, UK (2023) Espantália, Lanterna Mágica | Projeto Vênus, São Paulo, Brasil (2023); Persona, Fortes D’Aloia & Gabriel (2021) Fevereiro, Mendes Wood DM, São Paulo, Brasil (2019); Change-Change Project, Budapeste, Hungria (2018); Para-Sol, Pivô, São Paulo, Brasil (2018); Alvorada de Vênus, Auroras, São Paulo, Brasil (2018). Entre as suas exposições coletivas estão Paêbirú: o caminho do sol, Espaço Delirium, São Paulo, Brasil (2024); Nunca só essa mente, nunca só esse mundo, Carpintaria, Rio de Janeiro, Brasil (2023); Drops, Galeria Index, Brasília, Brasil (2021); Punk Alegria Tropical, Galeria Dândi, São Paulo, Brasil (2019); Nightfall, Mendes Wood DM, Bruxelas, Bélgica (2018); Individuation as an Instrument of Abstraction, Kunsteverein, Berlin, Alemanha (2016) e Abre Alas #12, A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, Brasil (2016).
Sobre Pélagie Gbaguidi
Pélagie Gbaguidi (1965, Dakar) vive e trabalha em Bruxelas. A artista articula as correntezas sociais e simbólicas do legado colonial e pós-colonial, processando os significantes do trauma por meio de imagens materialmente incorporadas. Em suas pinturas e desenhos, a artista produz uma coreografia em pigmentos vívidos e borrados, em que o espaço é disputado por corpos e silhuetas sobrepostas. Os confrontos tensos entre a demarcação abstrata e a referência figurativa reproduzem choques entre reconhecimento e estranhamento. A artista se descreve como uma griot contemporânea – uma contadora de histórias da África ocidental, redefinindo a dimensão da oralidade na herança tradicional por meio de sua própria abordagem plástica. Gbaguidi frequentemente alude a eventos esquecidos, livrando-os das simplificações e arquétipos produzidos pela dita historiografia oficial.
Entre suas exposições individuais recentes destacam-se Quel est le sens de la vie sur terre et la fabrique de la conscience, Repaire Urbain, Angers, França (2024); De-fossilization of the Look, Mimosa House, Mimosa House, Londres, Reino Unido (2023); Pélagie Gbaguidi: Disclosed Traces and Triadic Apparitions, Sulger-Buel Gallery, Londres, Reino Unido (2018) e El Mundo sans le corps, Sulger-Buel Gallery, Londres, Reino Unido (2016). A artista participou também das coletivas Motel Corona. Resilience Acquisitions by the Flemish Community, S.M.A.K., Municipal Museum of Contemporary Art, Ghent, Bélgica (2023); Ecrire, c’est dessiner, Centre Pompidou-Metz, Metz, França (2021), Manifesta 13 – Paralleles du sud, Nfinite Village, Marseille/Nice, França (2020) e documenta 14, Neue Galerie, Kassel, Alemanha; Documenta 14, Athens Conservatoire (Odeion) / Benaki Museum of Islamic Art, Atenas, Grécia (2017).
A artista tem obras em importantes coleções públicas, tais como S.M.A.K. Municipal Museum of Contemporary Art, Ghent, Bélgica; KANAL-Centre Pompidou, Bruxelas, Bélgica; Holocaust Memorial Foundation, Chicago, Estados Unidos e Kunstmuseum Basel, Kupferstichkabinett, Basel, Suiça.
Sobre a Fortes D’Aloia & Gabriel
Fundada como Galeria Fortes Vilaça em 2001, a Fortes D’Aloia & Gabriel estabeleceu-se como uma das principais galerias de arte contemporânea do mundo, mantendo uma programação dinâmica de aproximadamente 15 exposições por ano em seus espaços em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de presença marcante nas principais feiras de arte. Márcia Fortes, Alessandra D’Aloia e Alexandre Gabriel comemoram mais de duas décadas de atividade com um time de 44 artistas, sendo 31 brasileiros. A galeria dedica-se a nutrir relacionamentos duradouros com seus artistas representados, incentivando vozes emergentes, cultivando carreiras estabelecidas e expressões relevantes, além de promover relações com museus e curadores em todo o mundo. Empenhada na construção de modelos inovadores, a Fortes D’Aloia & Gabriel também investe em colaborações com outras galerias e instituições em projetos independentes e híbridos.
Sobre a Galatea
Sob o comando dos sócios Antonia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo, a Galatea conta com dois espaços vizinhos na cidade de São Paulo: a unidade localizada na Rua Oscar Freire, 379 e a nova unidade localizada na Rua Padre João Manoel, 808. A galeria também tem uma sede em Salvador, na Rua Chile, 22, no centro histórico da capital baiana.
A Galatea surge a partir das diferentes e complementares trajetórias e vivências de seus sócios-fundadores: Antonia Bergamin, que foi sócia-diretora de uma galeria de grande porte em São Paulo; Conrado Mesquita, marchand e colecionador especializado em descobrir grandes obras em lugares improváveis; e Tomás Toledo, curador que contribuiu para a histórica renovação institucional do MASP, saindo em 2022 como curador-chefe.
Com foco na arte brasileira moderna e contemporânea, trabalha e comercializa tanto nomes consagrados do cenário artístico nacional quanto novos talentos da arte contemporânea, além de promover o resgate de artistas históricos. Idealizada com o propósito de valorizar as relações que dão vida à arte, a galeria surge no mercado para reinventar e aprofundar as conexões entre artistas, galeristas e colecionadores.
Serviço:
Corpos terrestres, corpos celestes – Galatea + Fortes D’Aloia & Gabriel
Local: Galatea Salvador
Endereço: R. Chile, 22 – Centro, Salvador – BA
Abertura: 30 de janeiro | 18h às 21h
Período expositivo: 30 de janeiro a 24 de maio de 2025
Horários: Terça a quinta das 10 às 19h| Sexta das 10h às 18h | Sábado das 11h às 15h
Mais informações: https://www.galatea.art/
Instagram: @galatea.art_