FLAFE Master Shot (Formação Livre de Audiovisual Fora do Eixo) e outras iniciativas valorizam a sétima arte e mostram o potencial regional
Quem gosta de cinema vive feliz em São José dos Campos. Se a cidade com pouco mais de 720 mil habitantes não tem a variedade de salas, filmes e cursos de metrópoles como São Paulo, também não faz feio com sua programação atraente para os cinéfilos – e também para quem pensa em atuar na área, que movimenta bilhões de reais a cada ano e tem uma demanda crescente de profissionais especializados.
As salas de cinema em quatro shoppings mantêm um leque de opções de filmes com maior apelo popular, enquanto espaços como o Cine Santana, Museu Municipal, Cine Teatro Benedito Alves, Sala Cineva, Teatro Marcelo Denny, Sesc e Sesi garantem espaço para produções mais alternativas, do cinema autoral e de fora de Hollywood. A cidade também já recebeu eventos importantes como o In-Edit, referência mundial em festivais de documentários musicais, que teve uma edição itinerante.
O público conta com uma programação eclética, que mistura masterclasses, como as promovidas pela FLAFE Master Shot (Formação Livre de Audiovisual Fora do Eixo) com figuras proeminentes da produção nacional – Vera Hamburguer, Ed Côrtes, Minom Pinho, Newton Cannito e Hélcio Alemão Nagamine, sessões de clássicos como “Charada” (do diretor Stanley Donen, com Cary Grant e Audrey Hepburn) e “2001: Uma Odisseia no Espaço” (do cineasta Stanley Kubrick), mostra de cinema chinês e novidades como o mais recente filme do diretor italiano Nanni Moretti, “O Melhor está por Vir”, e o documentário nacional “Corpos Invisíveis”, de Quézia Lopes, que está passando pelo circuito de festivais.
Formação em audiovisual
Mas não é só como espectadores que os joseenses estão ligados ao cinema. Neste ano, a FLAFE Master Shot chegou como um novo polo para quem sonha em trabalhar com o audiovisual. O curso, que desde abril promove aulas, workshops e dinâmicas com um grupo de 45 estudantes, vai ter seu encerramento no dia 19 dezembro, com exibição de dois curtas produzidos pelos alunos, entrega de certificados e lançamento de uma exposição sobre o trabalho desenvolvido pela FLAFE neste ano.
“A FLAFE deu muito certo, desde o processo seletivo, com uma procura muito grande, até o engajamento dos alunos, que mostraram seu talento com os trabalhos durante o curso. Esperamos que seja o primeiro passo para carreiras em diversas áreas do audiovisual”, afirma Marcella Arnulf, idealizadora da FLAFE Master Shot, ao lado de Leo Grego.
Os tentáculos da FLAFE vão se expandindo pela cidade. Neste último bimestre do ano, estão sendo realizadas quatro ações multiplicadoras. Os encontros, três deles em bairros periféricos, abordam narrativas inclusivas, o ambiente de um set de filmagem, atuação, caracterização de personagens, desafios e conquistas de profissionais da área. As atividades, gratuitas e abertas à comunidade, têm o objetivo de despertar o público para a sétima arte e as possibilidades de atuação profissional no audiovisual.
Polo regional de audiovisual
Tom Freitas, presidente da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, uma das apoiadoras da FLAFE Master Shot, comentou sobre a importância da iniciativa.
“A FLAFE é algo inovador, um projeto vinculado a processos criativos e sociais, trabalhando o coletivo em produções artísticas, oferecendo um diálogo com o cinema contemporâneo. A Marcella e o Leo são grandes parceiros nossos para pensar o audiovisual no Vale do Paraíba, já realizamos outros projetos. Como gestor e responsável pelas políticas públicas, ter parcerias como essa, construindo em conjunto, é fundamental”, diz.
Freitas destaca que a FCCR vem articulando uma proposta de tornar São José dos Campos um polo para produção audiovisual. “Antes mesmo da Lei Paulo Gustavo, a gente já pensa em uma política pública específica, pois entende a potência do setor”, disse, citando a recente gravação da série “O Escolhido” (Netflix) em locações joseenses, como o Parque da Cidade e o Vicentina Aranha.
Para ele, é preciso investir em iniciativas no tripé “formação, produção e difusão” para fortalecer o setor audiovisual. Por isso, está articulando a Film Comission, para tentar explorar o potencial da área.
“A ideia é unir as secretarias de inovação e Desenvolvimento Econômico; Mobilidade Urbana; Turismo; Comunicação, e ter um diálogo para regulamentar os processos de gravação na cidade para produções profissionais. Isso movimenta a economia local. Depois, criar e mapear possíveis locações e, mais para frente, pensar em incentivos fiscais. A gente se inspira em modelos que dão certo e precisa ter esse diálogo com políticas públicas estaduais e federais”, destaca Freitas.
A FCCR mantém parcerias com o Ponto MIS, do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, e com a Aliança Francesa para trazer produções que passaram por festivais, cults e clássicos, além de promover workshops com profissionais experientes, como Marcelo Lyra, que comandou oficina sobre literatura e cinema, focando nas obras “O Poderoso Chefão”, “Harry Potter e a Câmara Secreta”, “Rebecca, a Mulher Inesquecível” e “Janela Indiscreta”.
“Esse ecossistema tem que ser alimentado. A FLAFE é uma potência também para formação de público, a gente vê os alunos frequentando atividades de outras áreas, porque o cinema é transversal, engloba várias artes. Meu sonho é tornar São José um polo de economia criativa, com o audiovisual, games, arte e tecnologia”, revela o presidente da Fundação Cultural.
O Grande Cineasta
Podcast O Grande Cineasta |
Outra iniciativa idealizada em São José, o podcast “O Grande Cineasta” revela as experiências de profissionais renomados do audiovisual brasileiro. A primeira temporada, com seis episódios, está disponível gratuitamente no Spotify, e tem a presença de Lina Chamie, Lee Taylor, Ju Lourenção, Gui Merlino, Michely Ascari, Alice Marcone, Laura Barzotto, Fábio Rodrigo, Lua Castilho, Maria Galant, Newton Cannito, Julia Priolli e Laura Carvalho.
A apresentadora e atriz Marcella Arnulf, que assina o roteiro do podcast junto com o diretor Deivid Mendonça, é quem recebe os convidados para bate-papos sinceros sobre os desafios e caminhos para a produção independente.
O portal de pesquisas “Cinema das Margens”, que reúne publicações sobre o cinema feito fora dos grandes centros, é outro projeto em andamento, que também tem participação de profissionais envolvidos na FLAFE Master Shot. A intenção é oferecer conteúdo gratuito como entrevistas, estudos de caso, reflexões, pesquisas acadêmicas e ensaios.
A Cia Teatro da Cidade também incentiva o setor. O projeto Sala Cineva do CAC Walmor Chagas, contemplado por leis de incentivo à cultura, tem programação constante de filmes e debates, como o recente encontro com cineastas do Vale. Auíra Ariak, Cris Vale, Iara Cardoso, Camila Rica e Marcella Arnulf participaram do evento que tem o objetivo de debater sobre a produção de filmes na região, o mercado de trabalho para mulheres, além do universo feminino atrás das câmeras.
Sobre a FLAFE Master Shot
A FLAFE Master Shot é a primeira escola independente de longo prazo de ensino de produção audiovisual de São José dos Campos, que tem o objetivo de formar novos profissionais na região do Vale do Paraíba, de maneira prática e alinhada com a realidade local. A formação busca partir do básico e ser abrangente, com aulas presenciais três vezes por semana. O curso, com 45 alunos, começou em abril e vai até dezembro.
Além das aulas sobre os fundamentos globais do audiovisual e um aprofundamento em núcleos de especialização em roteiro, direção, produção, direção de foto, arte e de som, o projeto foca em dar passos em direção ao sonho de solidificar um novo mercado da economia criativa fora da capital, trazendo conteúdos sobre novas mídias e outras possibilidades contemporâneas de se trabalhar no setor audiovisual criativo. As masterclasses (com os nomes citados no começo do texto) foram um dos destaques.
Os alunos também têm a oportunidade de produzir curtas-metragens e conteúdos audiovisuais como parte da formação. Ao final do curso, participarão de uma montagem coletiva e também de uma seleção para participação na coprodução de um longa-metragem profissional financiado pela Lei Paulo Gustavo.
A FLAFE é uma produção da EntreNova, com idealização e coprodução da Master Shot, conta com apoio da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, da Prefeitura Municipal de São José dos Campos, do Parque de Inovação Tecnológica e da AFAC. Realização: Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Governo Federal e Ministério da Cultura, via Lei Paulo Gustavo. #LeiPauloGustavoSP #tudoviracultsp
Sobre a Master Shot
A Master Shot é uma escola independente de ensino de produção audiovisual criada em 2017, que capacita jovens para produções de baixo orçamento e empreendedorismo criativo. Com uma abordagem prática e inovadora, a Master Shot tem sido pioneira na formação de novos talentos no Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira, impactando mais de 6.000 artistas e novos profissionais em suas ações gratuitas e mais de 500 alunos em seus cursos formativos. Recebeu os primeiros lugares no edital da Lei Paulo Gustavo, do governo estadual, para o desenvolvimento do projeto FLAFE, no qual reafirma o compromisso em democratizar o acesso ao conhecimento audiovisual e incentivar a produção de obras regionais significativas e representativas.