DAN Contemporânea apresenta o livro Latência do artista Dee Lazzerini
Lançamento ocorre nos últimos dias de exposição na FAAP
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Sábado, dia 27 de julho, das 15h às 18h, no Mezanino do MAB, Dee Lazzerini recebe o público e realiza visitas guiadas no encerramento da mostra com curadoria de Laerte Ramos. O livro tem coordenação editorial de Carolina Splendore e reúne todos os trabalhos apresentados na exposição.
Selecionado via projeto Dan Acredita, Dee Lazzerini é um artista representado pela galeria. Multidisciplinar, ele esculpe em placas de poliuretano corpos orgânicos que são a representação dos estudos nanobiológicos do artista — memória recente de seu trabalho na engenharia de biomateriais, assim como relaciona histórias pessoais e mitos.
Um cuidado, uma cura
Para Dee um alfinete alude à agressão, e um milhão deles, proteção. Assim introduzimos aqui a percepção do artista, diante de suas obras apresentadas no Mezanino do Museu de Arte Brasileira – MAB/FAAP. Em sua infância, com referência forte de sua mãe, tias e avós, Lazzerini se entrelaçava em tecidos, linhas, barbantes, agulhas e alfinetes – um lugar lúdico para uma criança e ao mesmo tempo de muito trabalho entre suas referências. Naquele tempo, os alfinetes eram guias, marcações de medidas, de ajustes e de superstições. Os alfinetes, depois de um dia de trabalho e uso, descansavam em uma pequena almofada arredondada, criando ali uma das principais referências para Dee.
Os ponteiros avançam e Dee se forma como dentista, ampliando pesquisas com mestrado e doutorado em engenharia de biomateriais, profissão não mais exercida pelo artista, apesar dela influenciar até hoje na construção de corpos artificiais. Mais uma vez, diante das mãos de Lazzerini, pequenas formas arredondadas se encontram com metais pontiagudos – dentes (dentina, cálcio, osso e gengiva) e brocas, raspadores, pinças e curetas. O orgânico e as ferramentas, nas mãos de Dee, com a missão de limpeza, restauro e cura.
Para um artista, tudo que se experimenta em vida vira processo e estudo, mesmo quando nem se tem intenções claras e objetivas: as mãos e as memórias fluem e encontram outros caminhos de ações. E assim, a arte foi ganhando espaços dentro e fora de Lazzerini.
Na obra “Latência” (substantivo feminino 1º período durante o qual algo se elabora, antes de assumir existência efetiva), que leva também o nome da exposição, fica claro como o artista transcende sua experiência de vida, nos convidando a perceber o tempo de seu pensamento, da construção, e o passo a passo das estruturas físicas de seu processo. Nos fazendo sentir na pele o calor do verão, o florescer da primavera, o frio do inverno e a luz única de outono, através de um time-lapse escultórico.
Suas obras nos convidam ao deslocamento, não apenas o físico de circundar os volumes, mas de tentar entender e desvendar o material, de ver de perto a organização impecável dos alfinetes – todos em harmonia entre si – como na natureza, em um dente de leão – a flor que se desfaz ao sopro.
Aqui as esculturas proporcionam duas camadas, a de dentro e a
de fora. Com uma estrutura frágil e macia de poliuretano (espuma) por baixo, recebe forma e cores, e por cima uma chuva de alfinetes que, mesmo perfurando de maneira organizada a escultura, a protege. Como no caule e troncos de algumas espécies de plantas e árvores, que evoluíram e se transformaram para se proteger – mas neste caso com espinhos para fora.
Dee assume esta dor em nosso lugar, protegendo sua arte, seu bem maior, com as pontas dos alfinetes para dentro – criando uma segunda camada de proteção para nossos olhos como espectadores. Um cuidado, uma cura, digna de um mestre acupunturista que conhece os corpos independente das formas que possuem: consegue ser preciso e dominar volumes com as pontas dos dedos.
por Laerte Ramos Curador da exposição Latência
Serviço:
Latência do artista Dee Lazzerini
Lançamento livro e encerramento da exposição
Dia 27 de julho, das 15h às 18h
Mezanino do MAB – FAAP
Rua Alagoas 903
101 pgs/R$98
Apoio: DAN Contemporânea
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