Casarão histórico aberto a quem mais precisa é retratado em “A Casa da Mãe dos Homens”, de Ione Mattos
Um romance que traz para o centro da narrativa a diversidade dos corpos e as feridas dos julgamentos sociais.
Um lugar onde, sem julgamentos, todes são abrigados, acolhidos e cuidados: assim pode ser descrito o casarão centenário, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, que protagoniza A Casa da Mãe dos Homens, de Ione Mattos. O livro, publicado em 2023 e lançado recentemente, conecta momentos históricos da cidade às vivências pessoais dos moradores da casa, vivos e mortos.
O enredo não-linear foge ao tradicional, intercalando passagens dos atuais residentes da Casa com as vivências dos mais antigos, os quais, mesmo mortos, marcam presença irreverente, libertária e sensual nas singularidades da trama. O leitor, ao acompanhar a narrativa, é também convidado a refletir sobre fobias sociais ─ de gênero (LGBTQIA+), raça, sexo, pobreza, aparência ─ e de como tais medos violentam a vida e as aspirações das pessoas escolhidas como alvo dessas projeções.
Costurando o enredo, temos a história de Lemuel, trazido do orfanato onde cresceu para a Casa da Mãe dos Homens por Mãe Mirtila, figura que se coloca à frente do lugar e faz de tudo para garantir amparo aos seus protegidos. Mas Lemuel é muito jovem e cheio de sonhos: haverá espaço para seus desejos pessoais entre aquela gente sem perspectiva de futuro? Os acontecimentos avançam, expondo segredos, envolvendo o jovem, a casa, seus habitantes e seu entorno em conexões imprevistas, fazendo explodir a violência gerada e alimentada pelo medo.
O livro, de 322 páginas, tem o texto dividido em capítulos, que contam a história, e intervalos temáticos, chamados interlúdios pela autora: as ‘Narrativas de Pedra e Pó’ – considerações da própria Casa; ‘Fragmentos de Justino’ – notas jornalísticas do personagem de mesmo nome; e, ‘Animal Poético’ – poemas de amor de outro personagem, Sebastião das Neves.
A autora acrescenta ainda, em apêndice, suas “Referências Viveográficas”, explicitação das intertextualidades da obra com autores e livros marcantes para a construção do texto: Machado de Assis, Clarissa Pinkola Estés, Humberto Maturana, Vera Malaguti Batista, Conceição Evaristo, Clarice Lispector, Manoel de Barros, Fernando Pessoa, Kaká Werá Jecupé, Eduardo Galeano, Bartolomeu Campos de Queirós, Gilka Machado e outros.
Sobre a autora
Ione Mattos é socióloga e professora aposentada. Está nas coletâneas: 14 novos autores brasileiros (contos), organizada por Adriana Lisboa (Mombak, 2015) e Raízes – Brazilian women poets in translation, organizada pelo Mulherio das Letras Estados Unidos (Venas Abiertas, 2022). Isoladamente, publicou em 2017 o livro de contos Vovó usava barba (Editora Oito e Meio), e em 2023, A casa da Mãe dos Homens (Editora Telha). Contribuiu alguns capítulos para o livro de Yara Mattos, Abracaldabra – Uma aventura afetivo-cognitiva na relação museu-educação (Editora Ufop, 2010).
Ficha Técnica
A casa da mãe dos homens: o amor nos utopia
Ione Mattos | Editora Telha, 2023 | Rio de Janeiro
322 páginas; 15,5 X 23 cm
ISBN: 978-65-5412-294-8
R$ 82,90 físico | R$ 35,00 digital