Diversidade nas telas? Mesmo com avanços, a representatividade LGBTQIA+ ainda é um desafio
No Mês do Orgulho, o Museu da Diversidade Sexual reflete a sub-representatividade e a estigmatização da comunidade na mídia.
Pouca visibilidade e estigmatização são desafios enfrentados por personagens LGBTQIA+ em diferentes produções midiáticas. Segundo o levantamento Visual GPS 2021, da Getty Images, apenas 20% dos entrevistados globais afirmaram ver pessoas LGBTQIA+ representadas regularmente em imagens e, quando vêem, as representações são estereotipadas. Seja em novelas, filmes, séries ou até mesmo em reality shows, os conteúdos audiovisuais permanecem, em muitos casos, reproduzindo tabus, causando percepções negativas e trazendo finais trágicos às suas personagens.
Com um papel fundamental na formação de percepções sociais, a mídia pode contribuir significativamente para uma representação mais autêntica e equilibrada de pessoas LGBTQIA+. “É importante que os roteiros comecem a normalizar personagens LGBTQIA+ em seus elencos, sem tratar sua sexualidade como única característica importante. Nós também trabalhamos, temos família, problemas cotidianos… a sexualidade é apenas uma parte de quem somos. Retratar a diversidade de maneira mais ampla e respeitosa é o início de um trabalho que contribui para promover empatia e refletir o que é a realidade dessa comunidade”, pontua Tony Boita, Gerente de Conteúdo do Museu da Diversidade Sexual. Para ele, apesar dos avanços, a sub-representação de personagens ainda é um desafio a ser trabalhado nas produções audiovisuais.
“Em projetos que não são especificamente para o público LGBTQIA+, raramente se vê mais de um personagem da comunidade representado em tela, justamente para prevenir qualquer possibilidade de afeto. Quando existe um casal, as demonstrações de carinho são geralmente podadas para não desagradar parte do público”, explica.
Confira abaixo alguns personagens conhecidos pelo grande público no Brasil, e como tiveram suas histórias abordadas:
Rafaela e Leila (novela “Torre de Babel” – 1998):
|
O relacionamento entre Rafaela e Leila em “Torre de Babel” foi uma das primeiras representações de um casal lésbico em uma novela brasileira de horário nobre. A trama abordou os desafios enfrentados pelo casal devido à homofobia e preconceito social. Apesar do espaço dado às personagens, o tratamento da história foi controverso e polêmico na época, principalmente pelo fim dado às personagens, que morrem juntas queimadas na explosão de um shopping.
Rafaela e Clara (novela “Mulheres Apaixonadas” – 2003):
|
O relacionamento entre Rafaela e Clara na novela “Mulheres Apaixonadas” foi significativo por retratar um casal lésbico de maneira mais aberta e positiva, especialmente considerando que a novela foi ao ar em 2003, quando representações LGBTQIA+ na televisão brasileira ainda eram menos comuns e sempre estereotipadas. Ainda assim, por medo da rejeição do público, o autor evitou qualquer hipótese das personagens terem um beijo.
Crô (novela “Fina Estampa” – 2011):
|
Crô é um personagem da novela “Fina Estampa”, caracterizado como o mordomo afeminado e leal da vilã Tereza Cristina. Embora popular, era frequentemente utilizado como alívio c
ômico com traços exagerados e estereotipados de homens gays. Com uma representação superficial, a trama não apresentou desenvolvimento pessoal e relações afetivas, o que reforça clichês negativos e sub-explora as complexidades dos personagens da comunidade.
No Museu da Diversidade Sexual, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, a trajetória da representação LGBTQIA+ na mídia nacional está representada na exposição “Pajubá: a hora e a vez do close”, que pode ser visitada gratuitamente de terça à domingo, das 10h às 18h (entrada até às 17h30), no Metrô República. Mais informações no site.
Sobre o Museu da Diversidade Sexual
O Museu da Diversidade Sexual de São Paulo, é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, destinada à memória, arte, cultura, acolhimento, valorização da vida, agenciamento e desenvolvimento de pesquisas envolvendo a comunidade LGBTQIA+ – contemplando a diversidade de siglas que constroem hoje o MDS – e seu reconhecimento pela sociedade brasileira. Trata-se de um museu que nasce e vive a partir do diálogo com movimentos sociais LGBTQIA+, se propõe a discutir a diversidade sexual e de gênero e tem, em sua trajetória, a luta pela dignidade humana e promoção por direitos, atuando como um aparelho cultural para fins de transformação social.