Últimos dias para conferir “Leão Rosário” no CCBB BH
Adyr Assumpção celebra 50 anos de carreira em espetáculo solo. Montagem tem dramaturgia autoral inspirada em Rei Lear, de Shakespeare, e no universo poético e encantador de Arthur Bispo do Rosário
Considerada uma das obras-primas da maturidade de William Shakespeare, “Rei Lear” foi o ponto de partida para o desenvolvimento da dramaturgia do espetáculo protagonizado pelo ator, diretor, escritor, roteirista e produtor, Adyr Assumpção. O solo “Leão Rosário” segue em cartaz até a próxima segunda-feira, dia 22 de Abril, no Teatro II do CCBB BH. A peça, que também teve como inspiração as criações do artista visual sergipano Arthur Bispo do Rosário, responsável pela produção de um acervo composto por mais de 800 obras com reconhecimento nacional e internacional, aborda temas como o tempo, a morte, a velhice, o poder, o engano e a razão. Os ingressos custam R$30 (inteira) e R$15 (meia), e podem ser adquiridos no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB-BH.
“Leão Rosário” é uma tragédia teatral cuja história se passa em uma África atemporal e mescla elementos de diversos povos, países e reinos africanos para formar o Reino de Oió, Ifé e Benguela, na costa atlântica da África, lugar de origem de milhões de brasileiros. A trama tem início quando o velho rei decide dividir seu vasto império entre suas filhas, deixando a maior parte para aquela que mais o ama e, por vaidade, toma uma decisão insensata com trágicas consequências.
A obra “Rei Lear”, na qual a montagem foi inspirada, reflete, entre outros aspectos, sobre o envelhecimento. Ao ser associada à personalidade de Bispo do Rosário, traz para mais próximo as questões dos mais velhos na nossa sociedade, a nossa memória africana, as heranças simbólicas, a criatividade e principalmente os limites da sanidade. A construção do espetáculo tem ainda como referência os dramaturgos Wole Soyinka e Abdias do Nascimento que, partindo das estruturas canônicas da tragédia, recriaram no teatro aspectos determinantes da cultura de suas sociedades, tanto na África, quanto no Brasil.
“Minha estreia no teatro foi interpretando o personagem Puck na peça Sonho de uma Noite de Verão. Ao longo de toda a minha carreira já flertei muito com a obra de Shakespeare. Então, é muito representativo para mim celebrar 50 anos de atuação com uma obra que teve como inspiração um de seus textos mais emblemáticos. Apesar de não ser uma versão de sua obra, o espírito shakespeariano está presente, ao lado de diversas outras referências importantes para a minha trajetória como artista”, destaca Adyr Assumpção.
O mote para a criação da dramaturgia se confunde com a própria trajetória do artista. Inicialmente pensada como um musical, a ideia acabou se transformando para dar vazão a uma história que mistura a potência dos universos de Rei Lear e de Arthur Bispo do Rosário, personagem que Assumpção teve a oportunidade de conhecer e de conviver durante os anos 80, no período em que fez parte do coro do Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez Corrêa, na época de sua reabertura, com o retorno de Zé Celso do exílio.
Nesse sentido, a dramaturgia proposta para “Leão Rosário” tem como foco apresentar temas centrais que exploram pautas de inclusão, promovendo reflexões sobre temas considerados urgentes e necessários há várias décadas, envolvendo questões políticas, raciais e ideológicas. “Estamos preparando um espetáculo que, apesar de tratar de temas que são muito duros, ele consegue ser muito afetuoso com o público”, destaca Adyr.
“Leão Rosário” conta com um time de peso. A direção é assinada por Eduardo Moreira, direção musical de Ernani Maletta, cenografia de Jorge dos Anjos, Lúcio Ventania e Eliezer Sampaio, trilha sonora original de Heberte Almeida e preparação corporal de Camilo Gan.
Sinopse
Em uma África atemporal, no Reino de Oió, Ifé e Benguela banhado pelo Oceano Atlântico, um velho rei, Leão Rosário, desejoso de se retirar de suas obrigações, decide repartir seu vasto império entre suas três filhas e deixar a maior parte para aquela que mais o ama. As mais velhas, Makeda e Akosua, com adulações e falsas afirmações, dizem que o amam acima de tudo. Agotimé, a mais nova e verdadeira, surpreende afirmando que seu amor por ele é do tamanho de seu dever. O Rei se enfurece com a resposta, deserda e expulsa Agotimé, que parte e se casa com o Rei das Florestas. Leão Rosário divide o reino entre as duas outras filhas, com a condição de morar, em ciclos mensais, com cada uma das duas.
No caminho de Leão Rosário surgem Sundiata, que passa a servi-lo, e Sotigui, o griot que procura acordar a consciência do rei. Ao contrário do que pensava o Rosário, Makeda trama para obter o poder total e junto com Akosua acabam por abandoná-lo à própria sorte.
Leão Rosário sofrendo por suas escolhas, sem a força e a razão que outrora o fizeram um grande rei, perambula atormentado por suas terras transformadas em um céu abismal enquanto invoca os elementos da natureza e conversa com vozes e objetos.
Com essa encenação, Adyr Assumpção celebra 50 anos de teatro.
Sobre Adyr Assumpção
Adyr Assumpção é ator, diretor, escritor, roteirista e produtor, graduado em Artes Cênicas pela UFMG e Mestre em Artes pela UNICAMP. Iniciou sua carreira há 50 anos, como ator em “Sonho de uma Noite de Verão”, de William Shakespeare. Seu mais recente trabalho como diretor e dramaturgo foi o espetáculo “Sortilégio: Mistério Negro de Abdias Nascimento”, na abertura da exposição do Quarto Ato “O Quilombismo: Documentos de uma Militância Pan-Africanista”, do Instituto Inhotim.
Em outubro do ano passado, estreou no Festival do Rio o filme “Coro do Te- Ato”, que conta o início de sua trajetória como ator do Coro do diretor Zé Celso Martinez. Adyr criou e integrou o Grupo de Teatro Kuzala durante uma década, responsável por espetáculos, como “Tatuturema”, de Sousândrade, e “Círculo de Giz Caucasiano”, de Bertold Brecht. Desde então, atuou, dirigiu e produziu mais de uma centena de produções, incluindo cinema, televisão, web e artes cênicas. Foi curador e diretor artístico do Festival de Arte Negra de Belo Horizonte, o FAN, e produtor do Festival Internacional de Teatro – FIT-BH. Além dos trabalhos citados acima, fez recentemente a direção do “Quilombo de Bach” para o Projeto !PULSA! Movimento Arte Insurgente (2023). Atuou na série “Colapso”, produção Quarteto Filmes (2023), e também fez parte do filme “O Silêncio das Ostras”, com direção de Marcos Pimentel (em finalização).
Ficha Técnica
Concepção, dramaturgia e atuação: Adyr Assumpção
Inspirado na obra Rei Lear, Autor: William Shakespeare, Tradução: Millôr Fernandes.
Direção: Eduardo Moreira
Assistente de direção: Letícia Castilho
Personagens:
Leão Rosário- Rei de Oió, Ifé e Benguela – Adyr Assumpção
Vozes (Elenco secundário):
Makeda – Michelle de Sá
Akosua – Elisa de Sena
Agotimé – Iasmim Alice
Sundiata – Eduardo Moreira
Sotigui – Ernani Maletta
Rei das Matas – Reibatuque
Direção Musical e Preparação Vocal: Ernani Maletta
Trilha Sonora Original e Músico: Heberte Almeida
Preparação corporal: Camilo Gan
Cenografia – Artes Visuais: Jorge dos Anjos
Cenografia – Arquitetura: João Diniz
Cenografia – Objetos e Adereços: Lúcio Ventania
Cenografia – Iluminação: Eliezer Sampaio
Cenotécnico: Henrique Fonseca
Figurinos: Stella Guimarães, Silvia Reis e Rosângela Cristina de Oliveira (Ára Ateliê)
Produção Executiva: Tâmara Braga e Maíz d’Assumpção
Produção Local: Dominique Machado Bezerra
Assessoria de Imprensa: A Dupla Informação
Fotografia: Pablo Bernardes
Vídeos: Alex Queiróz
Programação Visual: Flávio Vignoli
Gestão Financeira e Prestação de Contas: Renata Figueiredo
Estúdio de Gravação: Leonardo Marques – Ilha do Corvo
Idealização e Produção: T’AI Criação e Produção
SERVIÇO
CCBB-BH recebe temporada de estreia do Espetáculo “Leão Rosário”
Data: Até 22 de abril
Horário: de sexta a segunda, às 19h
Local: Teatro II – Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte
Endereço: Praça da Liberdade, 450 – Funcionários – Belo Horizonte – MG
Ingressos: R$30 inteira e R$15 meia
Vendas: pelo site ccbb.com.br/bh e pela bilheteria do CCBB BH
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 60 minutos