Exposição ‘Existência Numérica – Emergências’ segue em cartaz no Futuros – Arte e Tecnologia com obras sobre dados que analisam questões contemporâneas da sociedade
Em sua segunda edição, projeto patrocinado pela Oi apresenta 11 instalações de nove artistas e coletivos, que abordam temas como fake news, mudanças climáticas, questões identitárias e a valorização da ciência
O centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia apresenta até 23 de junho a segunda edição da exposição Existência Numérica – Emergências, com artistas brasileiros e estrangeiros que utilizam dados como matéria-prima em uma representação artística sobre questões contemporâneas da sociedade. Com curadoria de Barbara Castro, Doris Kosminsky e Luiz Ludwig, a mostra, que em 2018 atraiu mais de 25 mil visitantes, aborda temas emergenciais que estão na pauta dos debates na atualidade, entre os quais as mudanças climáticas, as questões identitárias e a valorização da ciência.
São 11 obras criadas a partir dos pontos de vista dos nove artistas e/ou coletivos, desde aqueles que empregam tecnologias sofisticadas e grande volume de dados, aos mais focados em uma crítica social. Existência Numérica – Emergências tem patrocínio da Oi e da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e apoio cultural do Oi Futuro.
Se na primeira edição da exposição, os curadores desejavam apresentar ao público o que era a visualização artística de dados, nesta edição a equipe focou em trazer a arte baseada em dados de uma forma mais abrangente. Por outro lado, a curadoria tem um eixo temático mais delineado. As questões socioambientais das obras selecionadas evidenciam como artistas utilizam os dados para realizar questionamentos e reflexões mais densas do que o uso tecnológico, estratégico e corporativo no qual costumam estar associados.
“Estamos muito entusiasmados em receber esta nova edição de ‘Existência Numérica – Emergências’, que une a arte e a tecnologia de maneira muito orgânica, abordando diversos temas relevantes e contemporâneos. O Futuros – Arte e Tecnologia é um palco para as grandes reflexões apresentadas na mostra, como a questão das fake news e a importância da ciência, e as atrações com videoinstalações, animações, coleção de fotos, obras interativas e tantos outros destaques provocam essas discussões de maneira lúdica e atrativa para o público”, destaca Victor D’Almeida, gerente de cultura do instituto Oi Futuro.
AS OBRAS DE ‘EXISTÊNCIA NUMÉRICA’
Entre os destaques desta segunda edição, está a participação do físico hungáro Albert-László Barabási, reconhecido como o “Papa” da rede de dados, que aplica sua experiência em big data e ciência de redes para transformar pesquisas em arte. O artista virá ao Brasil para o seminário e apresenta três obras na mostra, entre elas, “Fake News”, uma animação 3D generativa, baseada nos dados do Observatório de Notícias Falsas do Network Science Institute, em Boston, Estados Unidos, que revelou os 12 perfis entre 200.000 que desempenharam papel crucial na disseminação das notícias falsas durante o lançamento da vacina contra a Covid-19 na plataforma X (ex-Twitter). Um linho bordado é o formato utilizado em “Emergências”, obra na qual o artista usa dados de ligações de telefones celulares em situações de emergência para rastrear a conexão das reações humanas em uma série de eventos ameaçadores à vida. Já em “150 anos de Nature”, uma homenagem à mais antiga e importante publicação de ciência, Barabási faz uma análise baseada em dados de toda a história da revista, mapeando a extensa rede de cocitação que conecta os 88.000 artigos publicados desde 1900.
A designer italiana Giorgia Lupi, defensora do humanismo de dados, traz para a exposição Existência Numérica – Emergências a instalação “A Sala de Mudanças”. Realizada no período em que a artista atuava no estúdio Accurat, a obra é uma ‘tapeçaria de dados’ com cerca de vinte metros de comprimento, que ilustra como múltiplos aspectos do nosso ambiente mudaram nos últimos séculos e como ainda estão em processo e, provavelmente, continuarão se transformando. Por meio da repetição de módulos visuais e da combinação de diversas fontes de dados que retratam o mundo tanto de uma perspectiva global quanto local, a instalação traz a possibilidade de observar as transformações que envolvem o planeta, os humanos e demais seres vivos ao longo da Era do Antropoceno.
Mimi Ọnụọha, artista nigero-americana que questiona e expõe as lógicas contraditórias do progresso tecnológico, traz a instalação “Nós Agregados 3.0”, uma coleção de fotos do arquivo pessoal de sua família – nunca publicadas online – ao lado de imagens que algoritmos de pesquisa reversa de imagem do Google categorizam como semelhantes às fotos do arquivo. Um vídeo com rolagem infinita aponta as coleções infinitas de dados capturados por empresas de tecnologia do Vale do Silício e as imagens evidenciam a ferocidade do ato de classificação social.
Na contramão da visualização de dados que utilizam símbolos para representar significados, o austríaco Dietmar Offenhuber traz a instalação “Rastros de Poluição”, que demonstra a poluição do ar. A obra chama a atenção para os resíduos de poeira nas superfícies da cidade e foram retratadas através do grafite reverso realizado em espaço público, tornando visível a poluição acumulada ao removê-la parcialmente.
Ainda sob a temática das questões atmosféricas, em uma abordagem sobre o impacto que tais condições podem causar na origem de diversos problemas de saúde, os pesquisadores Doris Kosminsky, que faz parte do conselho curatorial da exposição, ao lado de Claudio Esperança e Ximena Illarramendi, utilizam os dados do projeto Amplia Saúde, desenvolvido pela UFRJ e Fiocruz, para a produção da obra “Gestagrama, paisagem da desigualdade”. A obra apresenta a poluição atmosférica como uma das causas de baixo peso de bebês brasileiros ao nascer. Um vídeo randômico vai permitir a visualização dos dados de 400 municípios, em uma paisagem que busca estimular uma reflexão ampla sobre as desigualdades vividas no gestar e no nascer.
Projeto do português Pedro Miguel Cruz em parceria com a americana Chloe Hudson Prock, a obra “A Tempestade Perfeita” é uma instalação que usa o furacão como metáfora da sensação de ameaça iminente. O artista deseja que o público visualize a ligação entre os sistemas capitalistas e a mudança climática. A obra visualiza o contraste entre as emissões de gás carbônico e o índice de risco climático em diversos países, levando o público a uma reflexão sobre a dependência de combustíveis fósseis.
A crítica também está presente na obra inédita “Nortitude”, do designer brasileiro Luiz Ludwig, curador da mostra, que traz um desdobramento de sua pesquisa de doutorado. A obra aborda a trajetória que os dados fazem até que uma pessoa possa acessar um site e explora o fato que a maior parte das páginas acessadas pelos brasileiros estão hospedadas em servidores no exterior, em sua maioria no hemisfério norte, reforçando a continuidade do colonialismo, agora de forma digital. Através de uma tela touch, o visitante vai digitar um endereço na internet e descobrir onde estes dados estão armazenados.
O estudo de um grupo de antropólogos brasileiros do Museu Nacional e de pesquisadores de visualização de dados da Universidade de Potsdam estará demonstrado em “Emaranhados do Xingú”, uma videoinstalação interativa que mostra como as relações que as comunidades indígenas observam com seus objetos, lugares e ritos se diferenciam profundamente das que são estabelecidas pelos habitantes de comunidades urbanas. Os pesquisadores trabalharam junto a comunidades do Alto Xingú, identificando o entrelaçamento entre peças, mitos e entes espirituais na formação e modos de vida dessas populações. Nesta obra, os visitantes podem navegar em um diagrama interativo que vai reproduzindo vídeos sobre os conceitos selecionados.
O Brasil também está presente na obra “Mata”, da artista e curadora da mostra Barbara Castro, em uma visualização artística que utiliza um algoritmo para representação de dados de desmatamento na Amazônia Legal de 1988 a 2022. Os padrões matemáticos presentes nos algoritmos remetem às árvores e aos pulmões, em uma proposta interativa que convida o visitante a sincronizar sua respiração com a animação. Cada ano é um ciclo de respiração que se torna mais curto e menor de acordo com os dados da taxa anual de desmatamento disponibilizados pelo Governo Federal no projeto PRODES – Amazônia.
Serviço:
Exposição:
Existência Numérica -Emergências
Local: Espaço cultural Futuros – Arte e Tecnologia
Período: de 27 de março a 23 de junho
Endereço: R. Dois de Dezembro, 63 – Flamengo, Rio de Janeiro
Horário de funcionamento: de quarta a domingo – 11h às 20h (seg e ter fechado)
Sobre o Futuros – Arte e Tecnologia
Inaugurado há 18 anos com a proposta de democratizar o acesso a experiências de arte, ciência e tecnologia, o centro cultural Futuros – Arte e Tecnologia tem a Oi como fundadora e principal mantenedora. Em abril de 2023, sob a chancela do Oi Futuro, o equipamento cultural se abriu a novos parceiros: EY, Eletrobras Furnas e BMA Advogados são os primeiros patrocinadores anunciados pela instituição.
Com programação diversa que aposta na convergência entre arte contemporânea, ciência e tecnologia, o Futuros recebeu, em 2023, mais de 127 mil visitantes. O espaço abriga galerias de arte, um teatro multiuso, um bistrô e o Musehum – Museu das Comunicações e Humanidades, que detém um acervo de mais de 130 mil peças históricas sobre as comunicações no Brasil. O Musehum promove experiências imersivas e interativas que convidam a refletir sobre o impacto das tecnologias nas relações humanas.
As galerias do centro cultural já foram ocupadas por expoentes internacionais de diversas vertentes, como Andy Warhol, Nam June Paik, Tony Oursler, Jean-Luc Godard, Pierre et Gilles, David Lachapelle, Chantal Akerman; e brasileiros como Luiz Zerbini, Rosângela Rennó, Daniel Senise, Lenora de Barros, Iran do Espírito Santo, Arthur Omar, Marcos Chaves e outros. Nas artes cênicas, o espaço foi palco de espetáculos inéditos e premiados de Felipe Hirsh, Gerald Thomas, Enrique Diaz, Antonio Abujamra, Denise Stoklos, Victor Garcia Peralta, Aderbal Freire, João Fonseca e outros.
Com quase duas décadas de trajetória, Futuros – Arte e Tecnologia também sediou diversos eventos de destaque na cena cultural carioca, incluindo Festival do Rio, Panorama de Dança, FIL, Multiplicidade, Novas Frequências e Tempo_Festival, sendo os três últimos especialmente concebidos para a instituição.