APÓS SER DESTAQUE NO SXSW 2024, BIA FERREIRA LANÇA CLIPE FILMADO EM LISBOA E ANUNCIA OS PRÓXIMOS SHOWS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
A artista gravou o audiovisual de “A Conta Vai Chegar” durante sua World Tour do ano passado, com o apoio de expoentes do movimento afro-cultural de Portugal, e passa por 9 países de 3 continentes no primeiro semestre deste ano
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Bia Ferreira e o Coletivo Aurora Negra
No dia 1o de abril, a cantora, compositora e multi-instrumentista Bia Ferreira lança o clipe de “A Conta Vai Chegar”, faixa do álbum Faminta (2022). Com realização de Alets e direção e produção de TAUMKAOSAKI, conta com a participação de importantes personagens expoentes do movimento afro-cultural de Portugal. Filmado durante sua World Tour do ano passado, a escolha do local é simbólica: foi gravado às margens do Rio Tejo, no Cais das Colunas, onde o primeiro navio negreiro da história aportou, em frente à Praça do Comércio (Lisboa), onde os portugueses comercializavam os africanos escravizados.
“Essa música é uma profecia. É quando você profetiza coisas para um futuro não tão distante, sabe? ‘A Conta Vai Chegar’ fala sobre dívida histórica, sobre reparação, sobre como é importante que as pessoas negras e originárias, que sofreram com a colonização, consigam cobrar essa conta. A falta de oportunidades que temos na vida vem muito por essa dívida que o devedor não quer pagar. Então acho que essa canção vem como uma motivação, um ímpeto para que consigamos cobrar o que é nosso”, explica.
Bia se apresenta em Portugal desde 2018, levando para o país europeu as questões raciais, políticas e sociais que fazem parte de seu repertório. Desde aquela época, ela percebia que o debate sobre o racismo não estava tão avançado quanto no Brasil e, a partir de 2023, conectou-se com ativistas do movimento afro-cultural da terra de Camões.
“Eles têm uma resistência muito bonita, são forjados com muita luta e com um processo de invisibilização da luta muito grande, sendo necessário de ser dito. No Brasil, ainda temos a maioria da população negra. Então, em algum lugar, conseguimos nos fazer sermos vistos e ouvidos, temos um Ministério da Igualdade Racial, por exemplo. Em Portugal, eles são invisibilizados. O movimento negro em Portugal é usado para pautas específicas e depois não é abraçado nesse lugar de necessidade de luta”, esclarece Bia. “As pessoas vão falar que lutam pelas causas sociais, colocam várias pessoas negras, mas quando falamos das causas raciais, não tem tanto engajamento. Eu conheci as batucadeiras da Bandeirinhas Pan-Africanistas, conheci várias pessoas especiais que foram me situando como funciona o movimento negro em Portugal. Foram me introduzindo nesse lugar. A socióloga Cristina Roldão e a atriz Isábel Zuaa fizeram a ponte entre mim e várias pessoas desse movimento. E eu acho que cada vez mais tenho me aproximado da realidade e da luta do movimento negro em Portugal. Tenho sido muito acolhida. Inclusive, esse clipe conta com a participação da companhia de atores e atrizes Aurora Negra, que faz parte desse movimento”.
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Ilda Vaz, das Bandeirinhas Pan-Africanistas, Cláudia Simões e Bia Ferreira
(Crédito: reprodução – download de mais imagens Link)
Bia também trouxe para o videoclipe de “A Conta Vai Chegar” duas figuras muito importantes do movimento afro-cultural português. Uma delas é Ilda Vaz, líder das batucadeiras Bandeirinhas Pan-Africanistas, da comunidade Boba, um coletivo de mulheres cabo-verdianas empregadas domésticas que encontraram no batuque e na música a sua válvula de escape das mazelas do cotidiano.
“A dona Ilda é uma senhora cabo-verdiana que trabalha na limpeza e é uma compositora incrível. Canta com o coração. Me encontrei com ela pela arte mesmo. Fui apresentada a ela por Cristina Roldão e a gente já se adotou na vida. Nos temos como família. Eu sou muito grata por poder partilhar momentos de arte, de conhecimento e de cuidado com a dona Ilda. Ela me faz acreditar que eu vou conseguir chegar na idade dela fazendo arte e revolução como ela faz. Ela é uma inspiração pra mim”.
A outra personagem é Cláudia Simões, mulher negra portuguesa, símbolo recente da resistência à violência racista da polícia lusitana. Em 2020, Cláudia foi covardemente agredida por policiais porque não possuía no momento um cartão de transporte de ônibus de sua filha menor de idade. Ela foi tirada do veículo pela guarda e foi ferozmente espancada. Atualmente o seu caso corre na justiça portuguesa, que se recusa a reconhecer os excessos cometidos pela corporação. Em novembro de 2023, Bia realizou um show beneficente em Lisboa para captar recursos para o processo, que ainda está em curso.
“Cláudia Simões é uma mulher negra que sofreu violência policial em Lisboa da forma mais cruel possível e covarde. Ela foi violentada e eu não preciso falar muito dessa história porque há vídeos na internet mostrando sobre isso. As pessoas filmaram mas não fizeram nada para socorrer aquela mulher”, indigna-se Bia. “A presença dela no clipe é de extrema importância, quero mostrar que ela não está só e que a conta vai chegar. Essa profecia também foi feita para Cláudia: a conta vai chegar. Não importa o tempo que demore, não importa como eles tentam maquiar a situação. A conta vai chegar sim e a presença dela nesse clipe é para mostrar que, por mais que eles tentem, nós continuaremos de pé, vivas e lutando”!
O clipe de “A Conta Vai Chegar” marca a união do ativismo racial brasileiro de Bia Ferreira com expoentes do movimento afro-cultural de Portugal, denunciando que não importa em qual lado do Atlântico se esteja, as demandas por dignidade e contra a violência têm as mesmas urgências.
ASSISTA “A CONTA VAI CHEGAR”:
BIA FERREIRA NO MUNDO
A presença de Bia Ferreira no cenário internacional está em um constante crescimento. Seu primeiro show de 2024 aconteceu em janeiro, em Nova York, como a única representante brasileira em um dos principais festivais de world music do mundo, o globalFEST, no Lincoln Center. Em fevereiro, embarcou para a sua primeira turnê no Canadá, fazendo parte do Black History Month. Em março, foi destaque em um dos maiores festivais de inovação e criatividade do mundo, o South by Southwest (SXSW), com três apresentações aclamadas por público e crítica que a acompanharam em Austin, no Texas (EUA). E agora ela divulga a agenda restante do primeiro semestre. De janeiro a julho, são 36 concertos em 9 países de 3 continentes. Essas apresentações fazem parte da estratégia de internacionalização da carreira da artista.
Em janeiro de 2023, foi a única representante brasileira no projeto Tiny Desk meets globalFEST. Em maio, embarcou para a Europa para iniciar uma extensa temporada de shows no Hemisfério Norte que durou até novembro. Ao todo foram 50 apresentações, em 11 países da Europa e da América do Norte. Divulgando o afeto como tecnologia de sobrevivência, foi a artista independente brasileira que mais se apresentou nos principais festivais de world music do mundo.
AGENDA BIA FERREIRA
ABRIL
01/04 – Musicbox – Lisboa, Portugal
04/04 – La Nau – Barcelona, Espanha
05/04 – Festival Impulso – Caldas da Rainha, Portugal
06/04 – Teatro Sá da Bandeira – Santarém, Portugal
13/04 – Centro Cultural Olido – São Paulo, Brasil
20/03 – Casa de Cultura do Butantã – São Paulo, Brasil
MAIO
18/05 – Jam in Jette – Bruxelas, Bélgica
25/05 – Festival Aleste – Madeira, Portugal
26/05 – Festival Passagens – Lisboa, Portugal
27/05 – Queer Festival – Heidelberg, Alemanha
JUNHO
12/06 – Festival Ulmer Zelt – Ulm, Alemanha
15/06 – Festival Good Good – Gottingen, Alemanha
20/06 – Festival Brasis – Curitiba, Brasil
25-30/06 – Residência Artística – Colômbia
JULHO
11/07 – Festival Cruilla – Barcelona, Espanha
13/07 – Pod’ring Festival – Biel, Suíça
20/07 – Horizonte Festival – Koblentz, Alemanha
21/07 – Asphalt Festival – Düsseldorf, Alemanha
27/07 – Festival Latinidades – Brasília, Brasil
FICHA TÉCNICA @ “A CONTA VAI CHEGAR”
Realização: Alets
Direção e Direção de Fotografia: Pedro Barros (TAUMKAOSAKI)
Assistência de Direção: Mílian Dolla (TAUMKAOSAKI)
Produção de set: Letícia Tie
Styling: Isabél Zuaa
Beleza: Louphy
Montagem e Cor: Rodrigo de Carvalho
Figuração: Admila Cardoso, Cláudia Simões, Cleo Diára, Ilda Vaz, Isabél Zuaa, Márcia Mendonça, Nádia Yracema e Paulo Pascoal
Agradecimento: João Innecco
SOBRE BIA FERREIRA
Bia Ferreira é uma cantora, compositora, multi-instrumentista brasileira. Passeando por ritmos afrodiaspóricos como o soul, o r&b e o rap, mesclados a referências da música brasileira como o samba e o repente, faz arte para mexer com a mente e com o corpo das pessoas. Compositora reconhecida por letras contundentes, visa facilitar a compreensão de temas importantes como necropolítica, cotas raciais, antirracismo, a luta pelos direitos das mulheres, da população lgbtqiap+ e a afetividade destes corpes, a fim de pautar tecnologias de sobrevivência através da arte. Baseada no conceito de “escrevivência”, idealizado por Conceição Evaristo, Bia prioriza discorrer sobre sua vivência, trazendo com propriedade de vida coerência para suas canções.
Em 2018, com o single “Cota Não É Esmola” lançado pelo Sofar Sounds, atingiu o grande público. De lá pra cá, é o vídeo mais assistido do Sofar Sounds na América Latina e o quarto vídeo mais assistido desse mesmo projeto no mundo, além de ser leitura obrigatória para os vestibulares da Universidade de Brasília. Em 2019, fez sua primeira turnê pela Europa e, no mesmo ano, substituiu a atriz Larissa Luz no papel de Elza Soares nas apresentações do musical Elza, em São Paulo e Rio de Janeiro, em 3 temporadas do espetáculo. E ainda lançou seu álbum de estreia, Igreja Lesbiteriana, Um Chamado. Em dezembro de 2021, em sua primeira experiência como produtora musical, co-criou a faixa “Olhares Cruzados” pela plataforma Influência Negra para uma campanha publicitária de mesmo nome da marca Dove. Produção essa que foi premiada pelo prêmio IDBr Brasil. Depois de uma tour no verão europeu de 2022, Bia Ferreira foi destaque no WOMEX 22, principal feira de negócios de música no mundo, que aconteceu em Lisboa. E no fim do mesmo ano, lançou seu segundo álbum, Faminta, dividido em dois atos: MPSFN (love songs apresentadas para o público em outubro) e Evangelho de Libertação da Igreja Lesbiteriana (músicas de protesto disponibilizadas em novembro). Em janeiro de 2023, foi a representante brasileira no projeto estadunidense Tiny Desk meets globalFEST 2023. Em abril, fez o show de lançamento de Faminta, no Sesc Pompéia, sold out. De maio a outubro, ela fez uma extensa tour internacional de 50 shows, passando por 11 países entre Europa e América do Norte, e se apresentando nos principais festivais de world music do mundo. Em janeiro de 2024, foi a única representante do Brasil no globalFEST, no Lincoln Center (Nova York), em fevereiro fez uma tour no Canadá e, em março, foi destaque no SXSW. Em abril, embarca para uma tour na Península Ibérica.
SOBRE AS BANDEIRINHAS PAN-AFRICANISTAS
Sediado no Casal de São Braz, no Concelho de Amadora, em Lisboa, o grupo de batucadeiras Bandeirinhas Pan-Africanistas foi criado em 2016 por um conjunto de mulheres cabo-verdianas, empregadas domésticas, com o objetivo de construir um espaço de intimidade, cumplicidade e partilha, através do batuque. Gênero cultural cabo-verdiano, profundamente griótico (comunicação oral afro-guianesa) na sua metodologia, onde a palavra é cantada, dançada, performada a partir da língua cabo-verdiana. O grupo define o seu espaço como um território de “respiração”, onde cada elemento pode aliviar os problemas da vida sobretudo laboral, podendo expressar-se livremente e na totalidade, dando ao corpo todas as possibilidades de manifestação sem amarras nem preocupações e sobretudo, sem nenhuma forma de domesticação. Além de ser este lugar onde se tecem relações entre os membros, Bandeirinhas Pan-Africanistas desempenha um importante papel educativo no seio da comunidade da Boba e não só, tendo a memória e a história como principais instrumentos de trabalho. A condição da mulher negra, africana, mãe e trabalhadora, a juventude, África, o racismo, as injúrias e injustiças no mundo do trabalho, o respeito pelos mais velhos e pela comunidade, o direito à uma vida digna, o quotidiano, são alguns dos vários tema que atravessam o seu trabalho artístico que assume um posicionamento engajado do seu território político.
SOBRE CLÁUDIA SIMÕES
No dia 19 de janeiro de 2020, Cláudia Simões, então com 42 anos, se envolveu numa discussão com o motorista de um ônibus porque a sua filha, à época com apenas oito anos, esqueceu o passe. Chegados ao destino, o motorista decidiu chamar a polícia. Após alguns momentos de tensão, o agente Carlos Canha decidiu deter Cláudia Simões, junto à paragem do ônibus. O vídeo desta detenção viralizou. Cláudia Simões, deitada no chão, é agredida durante muitos minutos pelo policial perante testemunhas no local, que filmaram tudo. Por volta das 20h58, a detenção seria consumada, apesar de o relatório da polícia referir que apenas às 21h16 Cláudia Simões foi algemada, com as mãos atrás das costas, e levada para o interior da viatura, que chegou ao local com mais dois policiais. Ela então alega ter sido violentamente agredida e insultada pelo mesmo policial dentro da viatura por, pelo menos, meia-hora. “Grita agora, sua filha da p***, preta, macacos, vocês são lixo, uma merda”, bradava Carlos Canha, ao espancar a mulher. Deixada inconsciente à porta da delegacia, Cláudia foi transportada para o hospital pelos bombeiros chamados ao local. Deu entrada na unidade hospitalar às 22h18. Foi diagnosticada com um traumatismo crânio-encefálico com ferida. O rosto, desfigurado, demorou dias para sarar e denunciou a violência das agressões. No dia 8 de novembro de 2023, começou o julgamento do caso. Carlos Canha conseguiu que Cláudia Simões também fosse acusada de um crime de ofensa à integridade física qualificada por lhe ter mordido (para não ser sufocada). Ainda não há resultado do processo.
SOBRE COLETIVO AURORA NEGRA
Aurora Negra é o coletivo criado por Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema. As três formaram-se na ESTC (Escola Superior de Teatro e Cinema) e seguiram um percurso na interpretação e criação para teatro e cinema, nacional e internacionalmente. O projeto nasceu para criar um espaço onde pudessem contar as suas histórias com as suas próprias narrativas, ficções, vozes e corpos, celebrando a sua ancestralidade em todas as formas. Desde 2020 criaram os espetáculos Aurora Negra e Cosmos.