Pinacoteca de São Paulo inaugura instalação de José Bento no Projeto Octógono
Na exposição Caminho de Guaré, artista apresenta instalação feita especialmente para o Octógono da Pinacoteca
|
Período: 23.03 a 01.09.2024
A partir de 23 de março, a Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, recebe mostra de José Bento. A instalação Caminho de Guaré apresenta três grandes gestos de José Bento, dois dos quais inéditos e feitos especificamente para ocupar o Octógono, com curadoria de Lorraine Mendes e Jochen Volz.
SOBRE A INSTALAÇÃO
Apresentados pela primeira vez, a escultura Morrotes (2024) é feita do que o artista chama de matéria desintegrada. Trata-se de madeiras de diversas espécies cujas serragens serviram para Bento apresentar massas topográficas diferentes entre si, seja no tamanho, cor ou no formato que a madeira toma ao ser partida. Sobretudo na obra Morrotes, a exposição acaba se tornando uma experiência sensorial e de lembranças. Os visitantes vão perceber nuances aromáticas das diferentes madeiras ali expostas: amarelinho, bálsamo, braúna, caixeta, itapicuru, pau-brasil, pau-pereira, peroba, roxinho e vinhático.
De qualquer local do Octógono o visitante conseguirá também vislumbrar a obra de maior altura exposta; Arco Íris (2024), também inédita é composta por feijões esculpidos de diferentes tipos de madeiras, densidades e características, sobrepostas uma a uma, que saem do chão da Pinacoteca em direção ao céu – uma ponte entre a terra e o cosmos. É um diálogo com a natureza, tão presente na obra de Bento, onde o grão é ao mesmo tempo alimento, cultura, semente e caminho. Por fim, a obra Ar (2021) traz esculturas no formato de cilindros de oxigênio, feitos de madeiras diversas em escala real. Apresentado pela primeira vez na 13ª Bienal do Mercosul em 2022, o conjunto escultórico traz a ideia de ar represado e da dificuldade de respiração em um mundo que assiste a graves e urgentes mudanças climáticas. Apesar da Bienal ter acontecido em um momento pós-pandêmico, a obra foi concebida já antes da pandemia. No entanto, sua apresentação naquele contexto ganhou mais uma camada de significado.
As obras expostas – Ar, Morrotes e Arco Íris – representam, em si, um ciclo de vida, que é a proposta de José Bento para o Octógono. O título que ele deu à exposição, é o nome pelo qual já foi conhecido justamente o local onde hoje encontra-se a Pinacoteca: O Caminho de Guaré passava pela região da Luz, é um caminho estabelecido pelos indígenas habitantes de São Paulo antes da chegada dos europeus. Esta escolha mostra como Bento procura localizar sua produção no território em que se situa. “Percorrer o Caminho de Guaré é compreender o espaço em que estamos como lugar de consciência, reconhecer a presença indígena nesse território e se entender também como parte dessa intrincada trama histórica”, afirma Lorraine Mendes, curadora da exposição.
É impossível falar de José Bento sem mencionar sua profunda ligação com a madeira, que é elemento central de seu estudo e repertório artístico desde os anos 80. Segundo Lorraine Mendes, Bento tem “uma familiaridade vital com essa matéria”. Uma característica da prática artística de José Bento é a busca por estar sempre ligado ao território, o que significa estreita relação com o local de origem de sua matéria prima e com pessoas e comunidades que têm em seu ofício a lida com a madeira. O artista constantemente reafirma seu compromisso com a natureza ao utilizar em seus trabalhos apenas madeiras legalizadas, de origem controlada. “José Bento é um artista profundamente comprometido com a forma, com método e também matéria – e tudo isso vem como veículo para a sua própria narrativa poética”, afirma Lorraine Mendes.
A instalação José Bento: Caminho de Guaré tem o patrocínio de Cescon Barrieu, na cota Prata.
OCTÓGONO ARTE CONTEMPORÂNEA
Localizado no eixo central da Pinacoteca, o espaço integra, há mais de 20 anos, o Projeto Octógono Arte Contemporânea, um local para exposições de artistas com trabalhos instalativos, que, desde 2003, comissiona obras e já soma mais que setenta exposições inéditas de artistas nacionais e internacionais.
SOBRE JOSÉ BENTO
Nascido em Salvador, Bahia, em 1962, José Bento muda-se em 1966 para Belo Horizonte, onde mora e trabalha até hoje. Ao longo de sua trajetória, dedicou-se à fotografia, desenhos, ações e vídeos. Mas quem vê de perto sua obra entende que seu pensamento é, antes de tudo, escultórico. Na experimentação deste campo, lança mão de materiais como vidro, metal, pedra, tecido, madeira, entre outros, além de animais e até mesmo o ser humano, que ativam e constituem a obra. Bento tem importante influência do mineiro Amilcar de Castro.
Autodidata, inicia sua prática artística durante a década de 1980, com a produção de maquetes artísticas que foram apresentadas em sua primeira individual, realizada em 1989 no Palácio das Artes em Belo Horizonte. A partir dos anos 1990, passa a produzir grandes esculturas, principalmente com madeira, explorando a organicidade natural e a transformação da matéria, ativando o espaço ao redor da obra. Sua escultura Chão (2004), feita com tacos oriundos de demolições, foi montada na 32a Bienal de São Paulo –Incerteza viva, em 2016, ocupando uma área de 672 m2. Participou de outras mostras como a Bienal de Benin, em 2012; e, em 2022, da 13ª Bienal do Mercosul – Trauma, sonho, fuga, em Porto Alegre, Brasil.
SOBRE A PINACOTECA DE SÃO PAULO
A Pinacoteca de São Paulo é um museu de artes visuais com ênfase na produção brasileira do século XIX até a contemporaneidade e em diálogo com as culturas do mundo. Museu de arte mais antigo da cidade, fundado em 1905 pelo Governo do Estado de São Paulo, vem realizando mostras de sua renomada coleção de arte brasileira e exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais. A Pina também elabora e apresenta projetos públicos multidisciplinares, além de abrigar um programa educativo abrangente e inclusivo.
Serviço
José Bento: Caminho de Guaré
Período: 23.03. a 01.09.2024
Curadoria: Lorraine Mendes e Jochen Volz
Pinacoteca Luz Octógono
De quarta a segunda, das 10h às 18h (entrada até 17h)
Gratuitos aos sábados – R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia-entrada), ingresso único com acesso aos três edifícios – válido somente para o dia marcado no ingresso
Quintas-feiras com horário estendido B3 na Pina Luz, das 10h às 20h (gratuito a partir das 18h)