São Paulo recebe monólogo sobre transtornos alimentares com uma pitada de humor ácido
Protagonizado por Fefê Marques, atriz e dramaturga, espetáculo nasce para enaltecer a diversidade e pluralidade de corpos e alertar as mulheres sobre os perigos de comportamentos que afetam a saúde física e mental
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Anorexia, compulsão alimentar e bulimia. Esses são alguns dos temas centrais do monólogo que estreia em São Paulo no dia 20 de março, no Teatro Espaço Elevador. Escrito e protagonizado por Fefê Marques, com Direção de Vanise Carneiro, o espetáculo Devora aborda os distúrbios psíquicos e sociais desenvolvidos por uma mulher que sofre um transtorno alimentar, desdobrando questões aparentemente pessoais para o campo sócio-político.
Com uma trilha sonora tipicamente brasileira e tendo o humor como pano de fundo, Devora aprofunda de forma ácida e irônica os espaços de fome que foram reservados às mulheres desde o início da Idade Moderna, mostrando como o corpo feminino, agora livre, reivindica seu lugar e expõe as crenças incrustadas no imaginário de uma geração que fez do seu próprio corpo um campo de batalha.
Durante os 55 minutos de espetáculo, Fefê une autobiografia e ficção para trazer, através de uma linha do tempo que entrelaça momentos históricos – como a Idade Média e Revolução Industrial, com foco no silenciamento e nos padrões de comportamento servil -, relatos biográficos e de mulheres que foram acometidas por algum transtorno.
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“A encenação apresenta um corpo colapsado, que em diferentes momentos precisou se encaixar nos padrões de comportamento e trabalho para garantir sua sobrevivência”, comenta Fefê. “A partir da temática dos transtornos alimentares e da dismorfia da imagem, esse projeto alerta para os perigos de comportamentos, ditos saudáveis, que colocam a forma à frente da saúde física e mental”, complementa.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar. E, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 10 milhões de brasileiros sofrem de alguma compulsão ou transtorno. As mulheres são as maiores vítimas desses distúrbios, sendo a anorexia em maior incidência no público de 12 a 17 anos, a bulimia mais presente no início da vida adulta e a compulsão durante todas as fases da vida adulta.
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O espetáculo solo Devora reúne teatro, performance, dança e recursos audiovisuais a partir de um texto não linear que retrata os diferentes modelos de corpo ideal ao longo do tempo. Corpo esse que é reprimido e se molda para caber em espaços pequenos, fazendo com que suas subjetividades desapareçam.
“Comecei a escrever esta peça em 2019, com a ajuda de grandes amigos e profissionais do meio artístico que acreditaram e abraçaram a minha ideia. Hoje, Devora estreia em São Paulo sem o apoio de nenhum edital, mas com a missão de conseguir abordar um assunto tão sério e importante através da arte, de forma densa e bem-humorada. Nosso corpo sempre foi atacado e diminuído. Agora é a vez de dar o protagonismo para ele e deixá-lo contar essa história”, finaliza Fefê.
O corpo como campo de batalha
Além da peça, Fefê Marques vai promover um espaço de troca e informação sobre os riscos para saúde física e mental da convivência com os transtornos alimentares e alerta de gatilhos e enaltecimento da diversidade e pluralidade dos corpos com a presença de psicanalistas especialistas em transtornos alimentares.
Essa mesa de conversa para falar sobre o corpo hiperestimulado será realizada após duas sessões, nos dias 27 e 28 de março. No primeiro dia, serão tratados assuntos que refletem sobre os mecanismo de controle do corpo desde o início da acumulação primitiva, assim como a sua identificação com as máquinas, dando ênfase em quais são as consequências físicas e mentais para um corpo que se enxerga a partir da lógica do controle e do auto rendimento.
Já no segundo dia, a conversa será sobre a procura cada vez maior por procedimentos estéticos e quais são as possíveis consequências a longo prazo dessa prática para a dismorfia corporal, tendo como gancho o fato de que a procura por procedimentos está cada vez mais precoce, e que isso revela sobre como lidamos com o processo de amadurecimento dos corpos.
SERVIÇO:
● O quê: Espetáculo Devora
● Quando: 20.03 a 04/04 (quartas e quintas-feiras)
● Onde: Teatro Espaço Elevador
● Classificação: 16 anos
● Ingressos: Sympla
Ficha técnica
● Atuação e Dramaturgia: Fefê Marques
● Direção: Vanise Carneiro
● Dramaturgismo: Carol Pitzer
● Cenário e Figurino: Carol Reissman e Bia Pieratti
● Iluminação: Thatiana Moraes
● Trilha Sonora: Felipe de Paula
● Vídeo Mapping: Carol Costa
● Coreografia do Funk: Leandro Vieira
● Adereços: Fernanda Frate e Bruno Mazzaro
● Fotos: Cristiano Pepi
● Design gráfico: Karen Cardoso – KGC ART
● Social Media: Vívian Salva
● Psicólogo orientador Bate Papo: Bruno Lima
● Assessoria de Imprensa: Leandro Simões
● Direção de Produção: Mariana Leme
● Influência: Mosaico
● Realização: Cia Teatro Líquido
SINOPSE
DEVORA é o novo espetáculo da Cia Teatro Líquido que aborda os distúrbios psíquicos e sociais desenvolvidos por uma mulher que sofre um transtorno alimentar, apresentando de forma ácida e com uma pitada de bom-humor os espaços incômodos que foram reservados às mulheres desde o início da Idade Moderna, e que, agora, tendo consciência de que seu corpo é livre, reivindica seu lugar e expõe crenças incrustadas no imaginário de uma geração que fez do seu próprio corpo um campo de batalha. Com Direção de Vanise Carneiro, Fefê Marques, Atriz e Dramaturga, traduz através da arte, em suas mais variadas formas, histórias autobiográficas e de outras mulheres que foram acometidas por distúrbios alimentares e ignoraram, por muito tempo, riscos à saúde em busca de um corpo magro.
Sobre o Teatro Líquido
Atuando em São Paulo desde 2012 a Cia Teatro Líquido, criada em Porto Alegre em 2006, vem desenvolvendo seu trabalho na capital paulista desde então. Desde seu surgimento a Cia tem o foco em textos inéditos de autores contemporâneos e busca valorizar a dramaturgia brasileira. O Teatro Líquido desenvolve projetos autorais. Ao longo de sua trajetória realizou espetáculos teatrais com diversas temporadas e participações em festivais de teatro, turnês e residências artísticas nacionais e internacionais, pesquisas, oficinas de teatro e de cinema e curtas-metragens. Em 2021 inicia um projeto de curta-metragem com roteiro e atuação de Vanise Carneiro e Produção de Fefê Marques que se agrega a Cia. TUDO O QUE CRESCE E VOA, que recebeu o Prêmio ROTA / Cabíria de Melhor Protagonista Feminina no V ROTA de roteiro audiovisual. E teve sua estreia no 25º Festival do Rio em 2023.
Sobre Fefê Marques
Atriz, professora e bailarina graduada em dança pela Faculdade Angel Vianna e com formação técnica em atuação pelo Teatro Escola de Porto Alegre, Fefê Marques atuou em mais de 15 espetáculos de teatro e participou de festivais internacionais como Porto Alegre em Cena e FIL Niños Guadalajara. Além disso, dirigiu o espetáculo Móveis imóveis, onde atuou e assinou sua primeira dramaturgia, idealizou o projeto de performance Genius da Burrice, e recebeu o prêmio Açorianos de teatro, em 2010, na categoria Melhor Produção” pelo espetáculo Wonderland e o que MJ encontrou por lá. Atualmente, se dedica à produção do espetáculo Devora, junto com a Cia Teatro Líquido.
Sobre Vanise Carneiro
Atriz, diretora, preparadora de elenco, educadora e produtora, Bacharel em Artes Cênicas pela UFRGS. Como diretora recebeu o Prêmio Açorianos de Melhor Direção em 1998 por “Ella” e a indicação ao Prêmio Tibicuera por “Dráuzio – um vampiro diferente”. Em teatro trabalhou com diversas companhias em Porto Alegre e São Paulo. Em 2010 recebeu o Prêmio Açorianos de Melhor Atriz pelo monólogo “9 Mentiras Sobre a Verdade”. Em 2014 foi contemplada pelo programa Iberescena de coprodução internacional para residência artística em Barcelona e criação do espetáculo “Ela, lugar que chove dentro”. Em 2018 estreou “Funâmbul@s” texto de Priscila Gontijo com direção de Eric Lenate, no CCSP, Prêmio Zé Renato de teatro. Realizou a preparação de elenco de curtas e longas como: “New Life S/A”, de André Carvalheira, “Ainda temos a imensidão da noite” de Gustavo Galvão e “A primeira morte de Joana” de Cristiane Oliveira. Ministra oficinas de atuação em teatro e cinema desde 1996.