Oscar 2024 premia sem surpresas, mas faz justiça à qualidade dos filmes do ano
Por Hugo Harris, cineasta e jornalista, coordenador do curso de Jornalismo
da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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No último dia 10 de março, o filme “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, foi considerado a melhor produção do ano passado. Com sete estatuetas, a história a respeito do criador da bomba atômica, desde seus anos de formação até os problemas políticos que teve na era macarthista, torna-se a grande confirmação de Nolan como um dos cineastas mais importantes do mundo. Após lançar títulos como “Dunkirk”, a trilogia “Batman”, “A Origem” e “Interestelar”, sua consagração se dá com um filme com uma trama mais sisuda, que transita entre dois períodos principais – a construção da bomba atômica e os polêmicos depoimentos durante os anos 1950 –, com um forte elenco. O protagonista do filme, Cillian Murphy, ficou com a estatueta de melhor ator, e Robert Downey Jr., que interpreta um antagonista dele, com a de ator coadjuvante. Nolan ficou com o Oscar de melhor diretor, e o filme ainda levou os prêmios técnicos de fotografia, montagem e música original.
O segundo filme mais premiado da noite foi “Pobres criaturas”, de Yorgos Lanthimos, que ficou com o reconhecimento para Emma Stone, como melhor atriz principal, melhor direção de arte, figurinos e maquiagem. Trata-se de um filme impressionante em sua originalidade e ousadia, ao tratar a história de Bella Baxter, uma mulher que passou por um experimento científico e teve um cérebro de bebê implantado em sua cabeça. A obra é uma mistura de ficção científica e comédia, com doses de horror e nonsense, algo típico na obra do cineasta grego, que já havia apresentado abordagens semelhantes, em especial em “O Lagosta”. O reconhecimento para a criação visual do filme foi muito merecido, visto que a direção de arte elabora os cenários e toda a ambientação, os figurinos estão alinhados a essa concepção e têm inspiração nas vestes dos séculos XVIII e XIX e a maquiagem transformou os atores para que ficassem em sintonia com os gêneros que buscaram tratar. Emma Stone tem o melhor papel de sua carreira, com um domínio físico que impressiona, ao demonstrar o desenvolvimento mental de sua personagem, desde uma possível infância que aquele cérebro de bebê estaria vivendo, até a maturidade e independência intelectual. Trata-se de uma performance artisticamente emocionante.
Os prêmios de roteiro foram muito bem atribuídos. Como sempre, é uma das categorias mais fortes do Oscar. O roteiro original ficou para a belíssima produção francesa “Anatomia de uma Queda”, de Justine Trier, que também foi vencedora da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2023. Uma das maiores qualidades do roteiro é a articulação dos acontecimentos dentro do filme, que nos fazem transitar entre dúvidas e certezas a respeito da autoria de um assassinato que está em julgamento no tribunal. O questionamento sobre o que é a verdade e como as narrativas são construídas para tentar comprová-la é muito instigante. O melhor roteiro adaptado ficou para “Ficção Americana”, de Cord Jefferson, que trata com muita acidez a história de um escritor negro que, insatisfeito com o mercado editorial, que somente aceita autores negros que falem de forma estereotipada a respeito de questões de sua etnia, resolve escrever um livro cheio de lugares comuns que teoricamente seriam aceitos pelos editores. Resultado: o livro é um sucesso e ele ganhará muito dinheiro com isso, o que o deixa ainda mais revoltado.
Houve dois momentos politicamente muito significativos durante a festa. O primeiro deles foi quando Jonathan Glazer venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional por “Zona de Interesse”, e chamou a atenção para as vítimas na guerra entre Israel e Gaza. Seu filme trata exatamente dos horrores do Holocausto e da banalidade do mal. Um pouco depois, o documentário ucraniano “20 dias em Mariupol”, de Mstyslav Chernov, venceu o prêmio de melhor documentário, e foi a oportunidade do realizador fazer um incisivo comentário sobre os horrores da invasão russa em seu país, o que também é tema do filme.
A festa terminou o épico de Martin Scorsese, “Assassinos da Lua das Flores”, sem prêmio algum, e o popular “Barbie”, de Greta Gerwig, apenas com o Oscar de melhor canção.
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
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