Entre o concreto e o simbólico, a Madama Butterfly em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo em março traz horizonte que se desfaz e diálogo com o cinema
Montagem do clássico de Puccini com direção de Livia Sabag, sucesso recente no Theatro Colón de Buenos Aires, abre a temporada de óperas a partir de 15 de março. Serão sete récitas homenageando o compositor no ano do centenário de sua morte.
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Foto da montagem no Teatro Colón, de Buenos Aires. Crédito: Victor Braga
Uma ópera que conta uma tragédia tão marcante que já foi remontada e relida no cinema e no teatro em diferentes contextos e épocas por diretores como Bob Wilson e em obras como Miss Saigon é o destaque no Theatro Municipal de São Paulo no mês de março. O drama da jovem gueixa Cio-Cio-San, que tem um filho com o oficial da marinha americana Pinkerton e é por ele abandonada, é o destaque do início da temporada de óperas de 2024. Com sete récitas, um dos títulos mais aclamados e adaptados da história, Madama Butterfly, comemora o centenário de morte de Puccini, em 2024.
A montagem que aporta no Theatro Municipal de São Paulo a partir de 15 de março vem de uma bem-sucedida estreia no Teatro Colón, de Buenos Aires (Argentina), porém com um elenco distinto, que inclui as respeitadas sopranos Carmen Giannattasio e Eiko Senda, cantoras com familiaridade com o papel. Nessa versão da obra, a premiada diretora Livia Sabag ressalta em todos os aspectos da obra, o declínio social e o empobrecimento que acontecem na vida de Cio-Cio-San, a protagonista que se apaixona por um marinheiro americano e tem com ele um filho, evidenciando aspectos socioculturais e de gênero que desembocam no desfecho trágico da trama. O trabalho tem a cenografia de Nicolàs Boni, a iluminação de Caetano Vilela, o figurino de Sofia Di Nunzio, Matias Otálora no vídeo e Mercedes Marmorek na assistência de direção cênica.
A ópera estreou em Milão, em 1904. Puccini trabalhou com um libreto de Luigi Illica e Giuseppe Giacosa, que se inspiraram na obra”Madame Butterfly”, publicada em 1898 por John Luther Long, inspirada em um drama supostamente real, e transformada em peça de teatro por David Belasco.
“Essa montagem traz uma leitura tradicional, pois a ação se passa no período do libreto, mas ao mesmo tempo nova, ao enfatizar o declínio social da protagonista e ao propor uma abordagem concreta e ao mesmo tempo simbólica de seu destino trágico”, explica Livia Sabag. “Tanto no cenário, nas projeções, quanto na ação cênica, há uma sugestão de que a casa de Butterfly está instalada em um lugar alto, ermo, e que em um determinado momento é destruída por um desastre natural, como um deslizamento de terra. É como se Butterfly se instalasse e fosse instalada por todos que a rodeiam em um terreno perigoso, prestes a ruir. Quando ela se casa com Pinkerton está completamente vulnerável, e sua vida é arrasada pela sequência dos acontecimentos que a conduzem ao suicídio”, explica.
“A encenação propõe uma ênfase na questão do empobrecimento e do declínio social da protagonista. É um dado que está claro no libreto, mas que muitas vezes passa batido nas produções. A casa da nossa encenação é uma casa simples, que os japoneses chamam de minka (casa do povo). Não é rica nem perfeita. O cenário é árido e não há luxo. No segundo ato os kimonos de Cio-Cio-San, Suzuki e da criança estão sujos e desgastados. Desse modo, a pobreza que a ronda está clara em seu entorno”, completa, a respeito da cenografia e caracterização de figurino.
A partir de projeções em vídeo e até um desabamento de terra, incluindo cenas de filmes do cineasta Kenji Mizoguchi, em especial de um filme chamado ‘A Vida de Oharu’, a natureza e a vida íntima da personagem seguem em consonância ao longo do espetáculo.
Mizoguchi é considerado o primeiro cineasta feminista da história e tem uma obra potente que influenciou a montagem da diretora cênica da ópera. Livia explica a escolha: “Quase toda a obra desse cineasta é marcada por um fator biográfico importante, o pai vendeu a sua irmã para resolver problemas financeiros. Esse filme é especialmente dedicado a ela e a trajetória da protagonista Oharu tem muitos pontos em comum com a de Butterfly. A personagem é usada e descartada diversas vezes, e vai empobrecendo ao longo da vida. Além de usarmos elementos do filme como inspiração para o cenário e figurinos, projetamos cenas de “A vida de Oharu” no Intermezzo. São sugestões de imagens que passam pela cabeça de Cio-Cio enquanto ela passa a noite acordada esperando que Pinkerton retorne.”
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Foto da montagem no Teatro Colón, de Buenos Aires. Crédito: Victor Braga
A regência da Orquestra Sinfônica Municipal é de Roberto Minczuk nos dias 15, 16, 17, 19 e 20 e de Alessandro Sangiorgi nos dias 22 e 23. Participa ainda o Coral Paulistano, sob a regência de Maíra Ferreira.
Como a protagonista Cio-Cio San, as sopranos Carmen Gianattasio e Eiko Senda se dividem nas sessões, ambas experientes intérpretes do repertório de Puccini. No primeiro elenco, que se apresenta nos dias 15, 17, 20 e 23 de março, Celso Albelo interpreta Pinkerton, Ana Lucia Benedetti é Suzuki e Douglas Hahn interpreta Sharpless. Nas récitas de 16, 19 e 22 de 23, Enrique Bravo é Pinkerton, Juliana Taino, Suzuki, e Michel de Souza, Sharpless. Todas as apresentações contam com Elaine Martorano como Kate Pinkerton; Jean William como Goro; Carlos Eduardo Santos como Príncipe Yamadori, Andrey Mira como Bonzo, Márcio Marangon como Yakuside, Leonardo Pace como Comissário Imperial, Sebastião Teixeira como Notário, Magda Painno como mão de Cio-Cio-San, Caroline de Comi como Prima de Cio-Cio-San e Graziela Sanchez como Tia de Cio-Cio-San. Cenografia, figurinos e adereços serão os mesmos apresentados no Theatro Colón em 2023, de modo que o público poderá conferir a personalidade deste trabalho agora em São Paulo. A duração aproximada é de 170 minutos com intervalo, a classificação indicativa, de 12 anos e os ingressos vão de R$12 a R$165.
Madama Butterfly teve sua primeira montagem das cerca de 40 que o Theatro já recebeu, em 1911, pela companhia lírica do barítono Titta Ruffo, e também ela estreou primeiramente na principal casa de óperas argentina. De lá até 2008, data da última montagem do título no Theatro Municipal de São Paulo, sob direção de Jorge Takla e com cenário de Tomie Ohtake, já foram realizadas aproximadamente 40 montagens do drama Pucciniano.
Madama Butterfly
Ópera em três atos de Giacomo Puccini com libreto de Luigi Illica
Datas:
15 sexta 20h
16 sábado 17h
17 domingo 17h
19 terça 20h
20 quarta 20h
22 sexta 20h
23 sábado 17h
Local: Sala de Espetáculos – Theatro Municipal
Orquestra Sinfônica Municipal
Coral Paulistano
Roberto Minczuk, direção musical e regência (15, 16, 17, 19, 20)
Alessandro Sangiorgi, regência (22, 23)
Livia Sabag, direção cênica
Maíra Ferreira, regente do Coral Paulistano
Nicolàs Boni, cenografia
Caetano Vilela, iluminação
Sofia Di Nunzio, figurino
Matías Otálora, vídeo
Tiça Camargo, visagismo
Mercedes Marmorek, assistente de direção cênica
*Cenografia, figurinos e adereços: produzidos pelo Teatro Colón de Buenos Aires
Dias 15, 17, 20 e 23
Carmen Giannattasio, Cio-Cio San / Madama Butterfly
Celso Albelo, Pinkerton
Ana Lucia Benedetti, Suzuki
Douglas Hahn, Sharpless
Dias 16, 19, 22
Eiko Senda, Cio-Cio San / Madama Butterfly
Enrique Bravo, Pinkerton
Juliana Taino, Suzuki
Michel de Souza, Sharpless
Todas as datas
Elaine Martorano, Kate Pinkerton
Jean William, Goro
Carlos Eduardo Santos, Príncipe Yamadori
Andrey Mira, Bonzo
Márcio Marangon, Yakusidé
Leonardo Pace, comissário imperial
Sebastião Teixeira, notário
Magda Painno, mãe de Cio-Cio-San
Caroline De Comi, prima de Cio-Cio-San
Graziela Sanchez, tia de Cio-Cio-San
Ingressos de R$12 a R$ 165 (inteira)
Classificação indicativa – Não recomendado para menores de 12 anos – pode conter histórias com agressão física, insinuação de consumo de drogas e insinuação leve de sexo.
Duração total: Aproximadamente 170 minutos (com intervalo)
Serviço
Theatro Municipal de São Paulo
Praça Ramos de Azevedo, s/nº
Sé – São Paulo, SP
Capacidade Sala de Espetáculos – 1503 pessoas
SOBRE O COMPLEXO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO
O Theatro Municipal de São Paulo é um equipamento da Prefeitura da Cidade de São Paulo ligado à Secretaria Municipal de Cultura e à Fundação Theatro Municipal de São Paulo.
O edifício do Theatro Municipal de São Paulo, assinado pelo escritório Ramos de Azevedo em colaboração com os italianos Claudio Rossi e Domiziano Rossi, foi inaugurado em 12 de setembro de 1911. Trata-se de um edifício histórico, patrimônio tombado, intrinsecamente ligado ao aperfeiçoamento da música, da dança e da ópera no Brasil. O Theatro Municipal de São Paulo abrange um importante patrimônio arquitetônico, corpos artísticos permanentes e é vocacionado à ópera, à música sinfônica orquestral e coral, à dança contemporânea e aberto a múltiplas linguagens conectadas com o mundo atual (teatro, cinema, literatura, música contemporânea, moda, música popular, outras linguagens do corpo, dentre outras).
Oferece diversidade de programação e busca atrair um público variado. Além do edifício do Theatro, o Complexo Theatro Municipal também conta com o edifício da Praça das Artes, concebido para ser sede dos Corpos Artísticos e da Escola de Dança e da Escola Municipal de Música de São Paulo.
Sua concepção teve como premissa desenhar uma área que abraçasse o antigo prédio tombado do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e que constituísse um edifício moderno e uma praça aberta ao público que circula na área.
Inaugurado em dezembro de 2012 em uma área de 29 mil m², o projeto vencedor dos prêmios APCA e ICON AWARDS é resultado da parceria do arquiteto Marcos Cartum (Núcleo de Projetos de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura) com o escritório paulistano Brasil Arquitetura, de Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz.
Quem apoia institucionalmente nossos projetos, via Lei de Incentivo à Cultura: Nubank, Bradesco, IGC Partners, Lefosse, Banco Daycoval e Grupo Splice. Pessoas físicas também fortalecem nossas atividades através de doações incentivadas.
SOBRE A SUSTENIDOS
A Sustenidos é a organização responsável pela gestão do Conservatório Dramático e Musical de Tatuí, do Theatro Municipal de São Paulo e dos programas Musicou, Som na Estrada e MOVE (Musicians and Organizers Volunteer Exchange); e pelos festivais Ethno Brazil e Big Bang. Foi responsável pela gestão do Projeto Guri, programa de ensino musical, no litoral e no interior do Estado de São Paulo, incluindo os polos da Fundação CASA, de 2004 a 2021. Além do Governo de São Paulo, a Sustenidos, eleita a Melhor ONG de Cultura de 2018, conta com o apoio de prefeituras, organizações sociais, empresas e pessoas físicas. Instituições interessadas em investir na Sustenidos, contribuindo para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, têm suporte fiscal da Lei Federal de Incentivo à Cultura e do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FUMCAD). Pessoas físicas também podem ajudar. Saiba como contribuir no site da Sustenidos.
Quem apoia nossos projetos: Nubank, CTG Brasil, VISA, Bradesco, IGC Partners, Lefosse, Banco Daycoval, Bayer, Cipatex, Sicoob, Grupo Splice, Lei Paulo Gustavo e Microsoft.