Gustavo Pacheco e Natércia Pontes lançam Granta neste sábado (23/9) na Livraria Megafauna
O codiretor da revista literária e a autora de “Os tais caquinhos” conversam sobre literatura contemporânea em São Paulo
No sábado (23/9), às 15h, Gustavo Pacheco, codiretor da revista literária Granta em Língua Portuguesa, publicada pela Tinta-da-China Brasil, e Natércia Pontes, autora de “Os tais caquinhos”, se encontram para lançar a 10ª edição de Granta. O jornalista Ruan de Sousa Gabriel mediará a conversa entre os escritores na Livraria Megafauna, em São Paulo, sobre a publicação lançada, literatura contemporânea e os trabalhos que vêm desenvolvendo.
Pacheco também assina a tradução de “Picasso”, conto de César Aira, publicado neste volume da revista, é autor de Alguns humanos e colunista da Megafauna. Pontes escreveu “Vida doçura”, trecho de um romance inédito publicado nesta edição de Granta. Ali Smith, Valério Romão e Janet Malcolm são outros dos autores presentes no 10º número da revista, que traz o tema “O Outro” e acaba de ser publicado pela Tinta-da-China Brasil.
A cada edição, a revista Granta em Língua Portuguesa publica o que de melhor está sendo produzido na literatura contemporânea, com curadoria dos diretores Gustavo Pacheco e Pedro Mexia. Juntos, eles selecionam contos, ensaios e trechos de romances de autores lusófonos e estrangeiros de diferentes gerações; os textos se somam ao trabalho de dois artistas visuais convidados por Daniel Blaufuks para completar o volume.
Vida doçura
“Vida doçura” abre com uma epígrafe tirada de “There there”, canção do Radiohead: “Just ‘cause you feel it, doesn’t mean it ‘s there”. Um tecladinho meloso dá o tom do prelúdio, ao qual se seguem cenas alternadas em dois ambientes: o apartamento pequeno de Jocasta, dona de um gato rajado e viciada em Vick VapoRub, e a casa de Jovana, Duda e o pai, cuja rotina é transmitida por vídeos no YouTube.
“Dobradiça de espelhos. Eu, Jocasta, me observo num espelho com dobradiça, cada lado do rosto reproduzindo novos ângulos ao infinito. Não almocei. Depois vou ver no YouTube se tem vídeo novo da Jovana.”
“Jovana faz brincadeira de pum com a boca na barriga da filha. Deitada sobre o tapete de relevo alto, a pequena Eduarda engasga de rir. Os nós das mãos de Jovana são grossos e machucam a filha de leve; a mãe investe em mais uma rodada de cosquinhas até Eduarda sufocar a ponto de não conseguir pedir para a mãe parar.”
Picasso
Bem distante do comezinho, o conto do argentino César Aira gira em torno das reflexões delirantes de um narrador que, ao se deparar com um gênio, precisa fazer uma escolha: ele prefere ser Picasso ou ter uma obra do pintor espanhol?
“Quem não gostaria de ter um Picasso? Quem recusaria um presente assim? Mas, por outro lado, quem não gostaria de ser Picasso? Que outro destino individual, na história moderna, era tão desejável? Nem mesmo os privilégios dos maiores poderes terrenos estão à altura, porque são sempre ameaçados pela política ou pela guerra, enquanto o poder de Picasso, transcendendo o de qualquer rei ou presidente, é invulnerável.”
Granta 10: Entre outros
O “outro” aparece sob os mais variados aspectos neste volume da revista Granta – o estrangeiro, por exemplo, é tema tanto do ensaio autobiográfico de Janet Malcolm, retirado do livro Still Pictures (inédito no Brasil), quanto do diário de Ernesto Mané, “Eu sou o outro do outro”, que também conta uma experiência sua: uma viagem pela Guiné-Bissau, em fins de 2010, em que ele pretende recuperar a história da família paterna.
Valério Romão, destacado autor português, trata também da emigração para a França, em um conto que remói conflitos pessoais e sociais em um patoá inventivo, zangado, divertido e triste.
A alteridade também assume a forma das diferenças entre classes sociais, como se vê em “Conceição”, estreia da cantora portuguesa Marta Hugon na ficção. Comentando o hiato entre realidades, o escritor Adam Dalva relata sua correspondência com Jeb Bush, ex-governador da Flórida.
Os embates pessoais e suas tentativas de superação são igualmente tema de Aparecida Vilaça, que em “Tsunamis” recorre a inúmeras referências da literatura – Elena Ferrante, Rosa Montero, Joan Didion – para buscar conforto diante de um abandono. Teresa Veiga investiga o mesmo campo movediço dos afetos em ‘Betânia”, conto que flerta com o “outro” da estranheza. Os desencontros amorosos ganham contornos e metáforas náuticos, gamers, geológicos no conto “Súbito continente”, de Olavo Amaral.
A celebrada autora escocesa Ali Smith publica nesta edição de Granta o conto “O clamor humano”, em que devaneia entre a vida e a morte de D.H. Lawrence e a contestação de uma fraude em seu cartão de crédito. Ao fim da edição, Francesca Wade ensaia em torno do trabalho do escritor que se dedica a contar histórias de vida, exemplificando com diversos livros os pontos que traz para discussão.
Encerrando o volume, Isabela Figueiredo conta em seu “Diário da canícula” que em julho de 2022 se mudou temporariamente para uma casa no vilarejo alentejano de Outeiro do Mato e resgata figuras esquecidas ou desprezadas.
Granta em imagens
A jovem fotógrafa Mag Rodrigues assina “A cor da Luz”, o ensaio visual sobre albinismo que compõe esta edição. Formada em Fotografia, ela é autora de diversos trabalhos documentais e de autor e, no último ano, abriu em Paris a exposição FAMÍLIA — Retratos de famílias LGBTQIA+.
“Pontos de vista” é o segundo ensaio visual do volume, composto por oito fotografias dos anos 70, 80 e 90 que Eduardo Viveiros de Castro realizou como antropólogo. As imagens estiveram presentes na exposição Variações do Corpo Selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo, realizada em 2015 no Sesc Ipiranga, em São Paulo, com curadoria de Veronica Stigger e Eduardo Sterzi. Stigger fez a seleção das imagens para a Granta.
A Granta em português
A revista Granta estreou no Brasil em 2012, durante a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, com uma edição que celebrava os melhores jovens escritores do país e reunindo textos de nomes como Antonio Prata, Michel Laub, Tatiana Salem Levy e Vanessa Barbara. Um ano depois, do outro lado do Atlântico, foi lançada, pela Tinta-da-China, a Granta Portugal. Em 2018, as duas revistas se tornaram uma só, com a unificação na Granta em Língua Portuguesa, tendo um editor brasileiro e um português.
A Granta foi fundada em 1889 por estudantes da Universidade de Cambridge e tem em seu histórico o peso de ter revelado nomes como Sylvia Plath e Ian McEwan. Susan Sontag, Milan Kundera e Gabriel García Márquez também passaram por suas páginas. Além da edição britânica, a Granta tem onze edições internacionais: Bulgária, China, Finlândia, Itália, Japão, Noruega, Espanha, Suécia, Turquia, em hebraico e em língua portuguesa.
Após um hiato pandêmico de dois anos, a Granta em Língua Portuguesa voltou a circular no país pela Tinta-da-China Brasil, com periodicidade semestral. Em formato de livro, a Granta em Língua Portuguesa é o espaço de fermentação de novas escritas, de novas gerações de autores e da presença dos grandes escritores nacionais e internacionais, sob os cuidados dos editores Pedro Mexia (Portugal) e Gustavo Pacheco (Brasil). A direção de imagem é de Daniel Blaufuks.
Sobre a Tinta-da-China Brasil
A Tinta-da-China Brasil é uma editora de livros independente, que publica o melhor da literatura clássica e contemporânea, além de livros de história, jornalismo, humor, literatura de viagem, ensaios, fotografia, poesia, a edição em língua portuguesa da mais importante revista literária da era moderna — a britânica Granta — e a mais bonita coleção de Fernando Pessoa em qualquer língua.
Fundada em 2005 em Portugal, a editora aportou no Brasil em 2012 e desde 2022 é controlada pela Associação Quatro Cinco Um, organização sem fins lucrativos dedicada à difusão da cultura do livro.
Lançamento Granta 10
Gustavo Pacheco e Natércia Pontes, em conversa com Ruan de Sousa Gabriel
Livraria Megafauna (Av. Ipiranga, 200, loja 53 – Centro – São Paulo)
Dia 23/9, sábado, às 15 horas