Artistas fluminenses participam da mostra Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, exposição dedicada à produção de artistas negros, em São Paulo
O estado do Rio de Janeiro estará representado por 36 artistas naexposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, a mais abrangente mostra dedicada exclusivamente à produção de artistas negros já realizada no país. Com abertura agendada para o dia 02 de agosto, no Sesc Belenzinho, em São Paulo, a mostra parte da premissa de dar luz à centralidade do pensamento negro no campo das artes visuais brasileiras, em diferentes tempos e lugares.
Com curadoria assinada por Igor Simões, em parceria com Lorraine Mendes e Marcelo Campos, Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, apresentará ao público obras de cerca de 240 artistas negros – entre homens e mulheres cis e trans, de todos os Estados do Brasil – em diversas linguagens como pintura, fotografia, escultura, instalações e videoinstalações, produzidos entre o fim do século XVIII até o século XXI.
“Como uma instituição que tem na diversidade uma de suas principais marcas, o Sesc busca por meio de suas ações dar voz aos mais diversos segmentos sociais, estimulando o debate e ajudando a registrar a história e cultura de nosso povo em toda sua abrangência e riqueza. Dentro dessas premissas, o projeto Dos Brasis lançou um olhar aprofundado sobre a produção artística afro-brasileira e sua presença na construção da história da arte no Brasil. Um trabalho que contou com nossos analistas de cultura em todo o país, em um grande alinhamento nacional. A exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro é a culminância desse processo e oferece ao público não só a oportunidade de conhecer a obra de artistas e intelectuais negros, com também de refletir sobre sua participação nos diversos contextos sociais”, disse o Diretor-Geral do Departamento Nacional do Sesc, José Carlos Cirilo.
Trajetória – A ideia nasceu em 2018, um projeto de pesquisa fruto do desejo institucional do Sesc em conhecer, dar visibilidade e promover a produção afro-brasileira. Para sua realização, foram convidados os curadores Hélio Menezes e Igor Simões. Em 2022, o projeto passa a ter a curadoria geral de Simões com os curadores adjuntos Marcelo Campos e Lorraine Mendes. A partir de 2024 uma parte da mostra circulará em espaços do Sesc por todo o Brasil pelos próximos 10 anos.
Para se chegar a esse expressivo e representativo número de artistas negros, presentes em todo o território nacional, foram abertas duas importantes frentes. Na primeira, foram realizadas pesquisas in loco em todas as regiões do Brasil com a participação do Sesc em cada estado, com o objetivo de trazer a público vozes negras da arte brasileira. Essas ações desdobraram-se em atividades e programas como palestras, leituras de portfólio, exposições, entre outros, com foco local. Vale ressaltar que esse processo teve uma atenção especial para que não se limitasse apenas às capitais do país, englobando também a produção artística da população negra de diversas localidades, como cidades do interior e comunidades quilombolas.
A equipe curatorial pesquisou obras e documentos em ateliês, portfólios e coleções públicas e particulares, para oferecer ao público a oportunidade de conhecer um recorte da história da arte produzida pela população negra do Brasil e entender a centralidade do pensamento negro na arte brasileira.
A segunda frente foi a realização de um programa de residência artística online intitulado “Pemba: Residência Preta”, que contou com mais de 450 inscrições e selecionou 150 residentes. De maio a agosto de 2022, os integrantes foram orientados por Ariana Nuala (PE), Juliana dos Santos (SP), Rafael Bqueer (PA), Renata Sampaio (RJ) e Yhuri Cruz (RJ). A residência, que reuniu artistas, educadores e curadores/críticos, contou ainda com uma série de aulas públicas com a participação de Denise Ferreira da Silva, Kleber Amâncio, Renata Bittencourt, Renata Sampaio, Rosana Paulino e Rosane Borges, disponíveis no canal do Sesc Brasil no YouTube.
Núcleos – A proposta curatorial rompe com divisões como cronologia, estilo ou linguagem. Para esta exposição de arte negra, não caberá a junção formal, estilística ou estética.
Dessa maneira, os espaços expositivos do Sesc Belenzinho contarão com sete núcleos: Romper, Branco Tema, Negro Vida, Amefricanas, Organização Já, Legítima Defesa e Baobá, que têm como referência pensamentos de importantes intelectuais negros da história do Brasil como Beatriz Nascimento, Emanoel Araújo, Guerreiro Ramos, Lélia Gonzales e Luiz Gama.
EXPOSIÇÃO DOS BRASIS – ARTE E PENSAMENTO NEGRO
Do Rio de Janeiro
Agrade Camiz – Rio de Janeiro (RJ), 1988
Núcleo Negro Vida
Graffiti, pintura e instalação são linguagens da artista Agrade Camiz. Nascida na zona norte do Rio de Janeiro, é formada em Pintura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua pesquisa articula a estética da arquitetura – como o uso de adinkras – com as discussões ligadas à sexualidade, à estética e à opressão vivenciadas por mulheres periféricas. Ora celebrando o corpo feminino não normativo, ora indicando situações de violência, há em sua produção um diálogo ambíguo entre pertencimento e território.
Aline Motta – Niterói (RJ), 1974 – em parceria com Dona Romana – Natividade (TO), 1941
Núcleo Amefricanas
Em sua trajetória, Aline Motta já exibiu trabalhos em Buenos Aires (Argentina) e Nova York (EUA), bem como em exposições individuais no Museu de Arte do Rio (MAR) , e no Sesc Belenzinho. Com vestígios documentais, reconfigura as memórias que ligam fronteiras entre África e Brasil para construir novas narrativas, em uma percepção não linear do tempo. Em pesquisas recentes, tem mergulhado na sua própria origem – uma maneira de estabelecer conexões afetivas com as raízes africanas.
André Vargas – Cabo Frio (RJ), 1986
Núcleo Organização Já
Graduando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o artista visual, poeta e compositor André Vargas trabalha por meio da arte as bases negras da cultura brasileira. É comum em sua produção o uso da escrita combinada com elementos visuais do candomblé, o que evoca a força da herança africana presente no discurso do artista. As bandeiras e as faixas surgem como elementos políticos e poéticos, que apontam para uma linguagem fincada na cultura afro-brasileira.
Antonio Rafael Pinto Bandeira – Niteroi (RJ), 1863 – Rio de Janeiro (RJ), 1896
Núcleo Branco Tema
Matriculou-se aos 16 anos na Academia Imperial de Belas Artes (Aiba), Pinto Bandeira, um dos poucos negros a estudar ali, conquistou o prêmio Imperatriz do Brasil, na categoria Pintura, em 1885. Posteriormente, lecionou no Liceu de Artes e Ofícios de Salvador (BA). Transitou entre os vários gêneros da pintura. Suas naturezas-mortas e paisagens são de alta precisão técnica. Nos retratos e pinturas de gênero, o artista representava os diferentes tipos sociais do Brasil do final do século XIX.
Arjan Martins – Rio de Janeiro, RJ, 1960
Núcleo Organização Já
Desde os anos 1990, participa de exposições coletivas e individuais. Já apresentou sua obra em bienais, dentre elas a 4a Bienal de Dakar (2006), no Senegal, e a 34a Bienal de São Paulo (2021). Nota-se em suas pinturas um conjunto de figuras que abordam os trânsitos coloniais afro-atlânticos. Mapas, símbolos da escravidão, globos e caravelas são elementos do repertório do artista, alinhados com um discurso franco sobre o horror do tráfico negreiro e as disputas dos territórios africanos.
Arthur Timótheo da Costa – Rio de Janeiro (RJ), 1882-1922
Núcleo Branco Tema
Junto do irmão João Timótheo da Costa, estudou na Casa da Moeda, onde era aprendiz de Desenho. Foi cenógrafo durante 5 anos, o que influenciou a dramaticidade de suas pinturas. Ingressou em 1894 na Escola Nacional de Belas Artes. Participou de diversas edições da Exposição Geral de Belas Artes, até 1921, ano de sua morte. Em suas pinturas, nota-se o interesse pelos diferentes agentes que habitavam a cidade. A presença do negro nos seus retratos preserva uma imagem positiva.
Caio Luiz – Nova Iguaçu (RJ), 1998
Núcleo Negro Vida
Caio Luz já realizou diversos projetos de pintura em mural. Ministrou oficinas artísticas em diversas instituições, como o Sesc de São João de Meriti e o Espaço Cultural Tribos. Sua pesquisa busca o resgate paisagístico periférico, no qual representa e valoriza a força de trabalho local, as cenas corriqueiras e o estilo de vida, em um processo criativo que mescla o uso de fotografia e memória pessoal.
Chico Tabibuia – Silva Jardim (RJ), 1936 – Casimiro de Abreu (RJ), 2007
Núcleo Baobá
Chico Tabibuia praticou, desde criança, as tecnologias da construção de moradia com elementos da terra, transmitidas pelo bisavô. Na adolescência, exerceu a função de cambono em um terreiro de umbanda, em que a maioria das entidades que baixavam eram exus. A partir de 1986, passou a representar com frequência, embora não somente, os exus em suas esculturas de madeira. Sua relação artística ambígua em torno dessa figura resulta dos encontros com as entidades que, segundo ele, estavam presentes na natureza.
Cipriano – Petrópolis (RJ), 1981
Núcleo Baobá
É pós-graduado em Metodologia do Ensino de Artes pelo Centro Universitário Internacional e mestrando em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A partir de sua poética guiada pela intersecção entre arte afro-brasileira e pensamento ubuntu, Cipriano utiliza elementos gramaticais e dos cultos afro-brasileiros, como carvão e pemba, para nomear seus trabalhos artísticos. Busca referências em símbolos da umbanda, filosofia africana, Rubem Valentim e Glenn Ligon.
Diambe – Rio de Janeiro (RJ), 1993
Núcleo Amefricanas
Diambe realizou exposições individuais na Galeria Quadra, em São Paulo, e no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Faz parte de coleções públicas, como as do Museu de Arte do Rio (MAR) e do Museu de Arte de Anápolis. Sua prática é centrada na realização de esculturas e coreografias nas quais matérias vivas são agenciadas. É comum em sua produção o uso e a reflexão sobre as formas das raízes alimentares e as possibilidades inventivas nelas contidas.
Estevão Silva – Rio de Janeiro (RJ), 1845-1891
Núcleo Romper
Estevão Silva foi o primeiro artista negro formado na Academia Imperial de Belas Artes (AIBA). Matriculou-se na instituição em 1864 e, em seus estudos de Pintura, encontrou predileção pela natureza-morta, embora também tenha pintado retratos e pinturas históricas. A partir de 1880, passou a lecionar no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. A luminosidade acentuada nas frutas e flores marca a produção pictórica do pintor.
Grêmio Recreativo Estação Primeira de Mangueira – Rio de Janeiro (RJ), 1928
Núcleo Amefricanas
A origem da Mangueira parte do morro homônimo, localizado na zona norte do Rio de Janeiro. O local serviu de abrigo para escravizados alforriados e seus descendentes, que ali celebravam as tradições e crenças afro-brasileiras, como o candomblé́ e a batucada. A escola de samba foi fundada no terreiro da Tia Fé, em 1928. Dentre os fundadores, o cantor e compositor Cartola, que foi quem atribuiu as cores verde e rosa como símbolos da agremiação. A Mangueira realiza desfiles desde 1932 e já conquistou 20 títulos de campeã̃ do carnaval carioca
Heitor dos Prazeres – Rio de Janeiro (RJ), 1898-1966
Núcleo Baobá
Pintor, compositor e músico, marcou o círculo cultural carioca do século XX, sendo influência fundadora das escolas de samba Mangueira e Portela, além de autor das mais variadas músicas que marcam a identidade brasileira. Sua produção plástica inicia-se com o infortúnio do falecimento de sua esposa, assim, quando Heitor dos Prazeres descobre sua nova faceta artística, passa a retratar cenas de seu cotidiano no agitado quarto que ocupava, onde se expressavam através de encontros, saberes da cultura afro-brasileira das mais diversas rodas.
Ismael David – Rio de Janeiro (RJ), 1988
Núcleo Baobá
Artista visual e professor de Artes Visuais graduado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), participou do programa de fundamentação artística e de diversos cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Realiza diversos trabalhos na área de arte educação em museus, centros culturais e ONGs. Atualmente desenvolve pesquisa teórico-prática, em que trabalha sua ancestralidade africana e afro-brasileira, transitando entre os “processos” ancestrais e o “fazer” contemporâneo.
Jade Maria Zimbra – São Gonçalo (RJ), 1994
Núcleo Amefricanas
Multiartista, participa como residente no Programa de Residência Artística Vila Sul, do Goethe-Institut Salvador-Bahia. Taróloga-feiticeira-poeta, sua poética reflete as questões que atravessa em sua vivência, em busca da cura e transposição do tempo ocidental, expressa pelas formas e signos que guiam sua espiritualidade.
Jota – Rio de Janeiro, RJ, 2001
Núcleo Romper
Artista plástico original do Complexo do Chapadão, Johny Alexandre Gomes, ou Jota, desde a infância apresentava uma afinidade com o desenho, e iniciou sua carreira divulgando seus quadros, incentivado por um colega de escola. As obras produzidas por Jota suscitam questões advindas das narrativas que habitam sua comunidade, abordando os temas mais diversos da vivência de um jovem negro e da experiência da vida na favela, dentro das linguagens que produz a partir de sua perspectiva.
Lorran Dias – Rio De Janeiro (RJ), 1994
Núcleo Legítima Defesa
Cineasta, diretor cinematográfico, roteirista, curador e artista visual, graduado pela Escola de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É responsável pela TV Coragem. Nascido e residente na Favela da Maré. Captura, por meio do audiovisual, reflexões, aspirações, conflitos e narrativas da população negra carioca.
Lucia Laguna – Campos dos Goytacazes (RJ), 1941
Núcleo Negro Vida
Professora de Literatura Brasileira, Portuguesa e Latina, frequentou diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV). Em busca de um prazer pela vida, Lucia, juntamente a seus assistentes, retrata seu entorno e a paisagem de seu cotidiano: está entre o subúrbio, sua casa e seu ateliê, transformando narrativas em uma abstração de cores, formas e signos.
Mariana Rocha – Rio de Janeiro (RJ), 1988
Núcleo Negro Vida
Artista visual e professora, graduada e mestre em Artes Visuais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), vive e trabalha em Niterói. Na interseção do desenho, da pintura, da fotografia e da performance, em manifestações que celebram as cores, Mariana explora uma jornada nas águas de seu íntimo, comparando fisiologias, origens, histórias e universos, em busca de saberes ancestrais e da liberdade, contemplando aos estudos do corpo e da memória.
Matheus Marques Abu – Rio de Janeiro (RJ), 1997
Núcleo Romper
Artista visual, tem sua experiência calcada na arte da linguagem do pixo, fortemente influenciada pela cena do rap no Rio de Janeiro. Por meio de sua poética, desenvolve uma pesquisa independente, que reflete sobre a ancestralidade e as religiosidades afro-diaspóricas.
Miguel Afa – Rio de Janeiro (RJ), 1980
Núcleo Legítima Defesa
Artista visual grafiteiro, é formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem o seu trabalho marcado pela dualidade de linhas fluidas e a geometria, pelas cores vibrantes das composições de retratos, e por outras experimentações da materialização de seu imaginário, além de mensagens realizadas em murais.
Mulambö – Saquarema (RJ), 1995
Núcleo Organização Já
Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), possui trabalhos presentes em coleções como a do Museu de Arte do Rio e Pinacoteca de São Paulo. Ao afirmar que “não tem museu no mundo como a casa da nossa avó”, Mulambö se utiliza de símbolos e materiais do dia a dia como meio de refundação das narrativas que cercam as manifestações do povo. O futebol, o carnaval, a família e a história popular desdobram-se em linguagens que vão da pintura à instalação e a bandeiras.
Odaraya Mello – Rio de Janeiro (RJ), 1993
Núcleo Legítima Defesa
Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) e possui obras no acervo do Museu de Arte da Bahia e no Museu de Arte do Rio. Artista multidisciplinar, tem o Movimento Negro Afro-Brasileiro e o Movimento das Mulheres Negras do Brasil como pilares para a construção de sua pesquisa e de seu pensamento crítico. Sua investigação permeia os elementos semióticos do culto de Oxum, orixá de quem é filhe, e elementos sinestésicos, biológicos e sagrados.
Pandro Nobã – Rio de Janeiro (RJ), 1984
Núcleo Legítima Defesa
Artista urbano e arte educador, iniciou sua carreira com o graffiti em 1998. Desde então, dedica seu tempo a trabalhos de instrução do graffiti em escolas públicas, projetos sociais e instituições de medidas socioeducativas. Participou de exposições como Um defeito de cor e Clara Nunes, ambas no Museu de Arte do Rio. Além da linguagem urbana, o artista dedica-se à pintura sobre tela e sobre objetos e ferramentas utilizados em cultos de matriz africana, que materializam sua pesquisa sobre a ancestralidade e suas vivências em terreiros.
Panmela Castro – Rio de Janeiro (RJ), 1981
Núcleo Legítima Defesa
É mestra em Processos Artísticos Contemporâneos pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e criadora da Rede NAMI. Possui obras nos acervos do Museu Nacional da República, Pinacoteca de São Paulo e Urban Nation Museum, de Berlim. Utilizando diferentes linguagens, a artista, originária do pixo, conceitua seu trabalho como “uma busca incessante por afeto”, desdobrado em práticas e questões relacionadas ao sentimento de pertencimento do corpo feminino marginalizado em relação à urbe.
Quilombo do Campinho – Adilsa Conceição Martins, Ismael Alves Conceição e Nelba Brasilicia – Paraty (RJ), 1954
Núcleo Organização Já
Fundado pelas mãos de Vovó Antonica, Tia Marcelina e Tia Maria Luiza, o Quilombo do Campinho da Independência tem na base matriarcal o desenvolvimento de sua história, desde o final do século XIX. Localizado no município de Paraty, recebeu do estado do Rio de Janeiro o título de propriedade definitiva de suas terras em 1999, após lutas de sua comunidade contra a especulação imobiliária na região, durante os anos 1970. A sustentabilidade e a agroecologia são bases para suas atividades, que contam com a criação de objetos confeccionados com sementes, bambus, fibras de bananeira e cipós. Um de seus representantes, Ronaldo dos Santos, é secretário no Ministério da Igualdade Racial do atual Governo Federal.
Rafael Simba – Rio de Janeiro (RJ), 1998
Núcleo Organização Já
Estudou Arte no Centro de Artes Calouste Gulbenkian e Pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), ambos no Rio de Janeiro. Teve seu trabalho exposto nas galerias LadoB e Artur Fidalgo. Com foco na pintura e no desenho, estabelece relações de suas vivências familiares com a religião e a religiosidade popular. Retrata sua cidade natal e o Brasil em crônicas que permeiam a fé e as festas, o sagrado e o profano, aludindo ao céu e ao inferno de nossa própria existência, por meio daquilo que caminha no campo invisível da fé e dos sonhos.
Renata Sampaio – Rio de Janeiro (RJ), 1988
Núcleo Amefricanas
Mestra em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e graduada em Artes Cênicas pela UniRio, é artista multidisciplinar, educadora e curadora. Pesquisa identidade, intimidade e território, e de que forma esses três temas informam a arte e a educação no Brasil, pensando a presença de seu corpo como meio gerador do trabalho, desdobrado em linguagens como performance, fotografia e vídeo. Foi curadora do 1º Festival Internacional de Artes do Rio e é a atual gerente de Participação e Educação do Museu de Arte Moderna do Rio.
Rona – Rio de Janeiro (RJ), 1968
Núcleo Organização Já
Nascido e criado no Morro dos Pretos, a Folia de Reis de sua comunidade e a criatividade presente nas atividades cotidianas e nas soluções do viver por parte de seus pais e avós foram desde cedo as maiores referências para entrar no mundo da arte. O candomblé e o carnaval também são referências na produção do artista, que possui prêmios de teatro, como roteirista, figurinista e cenógrafo. Sua pesquisa plástica transita em linguagens como a pintura, o desenho, objetos e performance.
Sérgio Vidal – Rio de Janeiro (RJ), 1945
Núcleo Romper
Com uma produção dedicada à pintura, seu trabalho apresenta-se como crônicas do cotidiano e de costumes, retratos do convívio popular e da mão de obra solitária, como a dos alfaiates, fotógrafos e pedreiros. De uma família ligada à música – pai regente de coral e mãe organista de igreja –, iniciou-se na pintura nos anos 1960, ao visitar o ateliê de Heitor dos Prazeres. Cursou Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro e foi presidente da Associação dos Artistas Plásticos e Amigos das Artes da Pedra de Guaratiba, entre 2000 e 2002.
Seu Valentim Conceição – Quilombo do Campinho da Independência – Paraty (RJ), 1925-2023
Núcleo Branco Tema
Nasceu, viveu e trabalhou no Quilombo do Campinho da Independência. Importante figura da comunidade, griô e artesão, criou peças a partir de seu olhar sensível ao entorno, capturando traços e formas elementares de pessoas, pássaros, bois e outros animais, traduzidos para a madeira – um material extraído da região do Quilombo do Campinho e ressignificado pelas técnicas de encaixe e entalhe –, e pela pintura em cores vivas.
Tadáskía – Rio de Janeiro (RJ), 1993
Núcleo Negro Vida
É mestra em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem em sua trajetória importantes exposições, como o 37º Panorama de Arte Brasileira (Museu de Arte Moderna de São Paulo), entre outras. Artista trans e negra, seu trabalho explora o desenho, a fotografia, a arte têxtil e instalações para mobilizar paisagens inventadas e místicas, elaborando experiências imaginativas em torno da diáspora negra.
Vitória Cribb – Rio de Janeiro (RJ), 1996
Núcleo Amefricanas
É formada pela Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Para a construção de sua pesquisa, investiga o seu subconsciente e os atravessamentos do comportamento social perante as novas tecnologias de informação, experimentando técnicas como Animação CGI, Realidade Aumentada e Ambientes Imersivos para a web.
Wallace Pato – Rio de Janeiro (RJ), 1994
Núcleo Organização Já
Por meio da pintura, o artista carioca cria crônicas visuais sobre o Brasil, ligando das paisagens nordestinas ao imaginário carioca. O samba, os festejos, o subúrbio do Rio de Janeiro e outras diversas manifestações culturais brasileiras, ligadas à música, culinária e dança, são elementos fundantes para a criação de suas imagens. Seu trabalho já foi exposto no Museu de Arte do Rio e Museu de Arte de São Paulo, entre outras instituições.
Walter Firmo – Rio de Janeiro (RJ), 1937
Núcleo Amefricanas
Conhecido como “o mestre da cor”, é uma das referências brasileiras da fotografia. Iniciou sua carreira no fotojornalismo como aprendiz no jornal Última Hora, em 1955, e colaborou com diversos jornais e revistas. Recebeu prêmios como o Esso de Fotografia, em 1963, publicou dez livros e foi diretor do Departamento de Fotografia da Funarte. Seu trabalho é reconhecido pelo retrato de festas populares do Brasil e de personalidades nacionais, e pela excelência no uso da fotografia em cores.
Yhuri Cruz – Rio de Janeiro (RJ), 1991
Núcleo Romper
Artista visual, escritor e dramaturgo, é pós-graduado em Jornalismo Cultural pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Seu trabalho foi visto em mostras como Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros (Instituto Moreira Salles) e 10ª Bienal Internacional de Arte da Bolívia. Tensionando diálogos com espaços de poder, crítica institucional e relações de opressão, utiliza criações textuais e proposições performativas e instalativas para ativar questões e aspectos da memória coletiva e individual.