Primeira montagem brasileira da ópera La Fanciulla Del West, de Puccini, estreia nesta sexta-feira (14) no Theatro Municipal de São Paulo
O Theatro Municipal apresenta a ópera considerada por Giacomo Puccini como sua melhor criação. A obra, que tem direção de Carla Camurati, trará referências do cinema em uma trama que se passa na corrida do ouro estadunidense e terá sete récitas a partir do dia 14/07.
Baseado na peça The Girl of the Golden West, de David Belasco, famoso melodrama que ajudou a moldar o imaginário sobre o Velho Oeste – influenciando até o gênero western no cinema hollywoodiano – La Fanciulla Del West (A Garota do Oeste) é uma obra do compositor italiano Giacomo Puccini com libreto de Guelfo Civinini e Carlo Zangarini. Dividida em três atos, teve sua estreia em 1910, na Metropolitan Opera House, em Nova Iorque. A produção, que conta com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coro Lírico Municipal, será encenada entre 14 e 22 de julho, duração de 170 minutos, incluindo o intervalo de 20 minutos, e ingressos de R$ 12 a R$ 158 (inteira).
A Garota do Oeste conta a história de Minnie, proprietária de um saloon no Oeste dos Estados Unidos. Em meio à corrida do ouro, Minnie se torna o ponto central de uma trama que envolve amor, coragem e traição. Em um cenário inóspito de um campo de mineradores no qual bandidos, trabalhadores oprimidos e um xerife cruel, a única mulher da trama, de personalidade forte, vivencia questões como o amor, a saudade, a justiça e, por fim, o perdão. Musicalmente, esta é uma ópera tardia entre as produções “puccinianas” de maior inspiração do compositor, que faz uso de diversos motivos rítmicos e melódicos que remetem ao ethos local do faroeste americano, tão conhecido principalmente a partir da referência do cinema.
A montagem conta com Roberto Minczuk na direção musical e regência, enquanto Carla Camurati, atriz, diretora de cinema e teatro, assume a direção cênica. Ronaldo Fraga é responsável pelo figurino, trazendo uma mescla entre estilo da época do Velho Oeste e algumas referências modernistas e regionais brasileiras. Renato Theobaldo é responsável pela cenografia, Wagner Pinto assina o design de Luz, e Ronaldo Zero atua como assistente de direção. No elenco, dias 14, 16, 19 e 22: Martina Serafin (Minnie), Lício Bruno (Jack Rance), Gustavo Lopez Manzitti (Dick Johnson), e nos dias 15, 18 e 21: Daniela Tabernig (Minnie), Homero Velho (Jack Rance) e Enrique Bravo (Dick Johnson). Tanto Martina Serafin, quanto Daniela Tabernig, que farão Minnie, são solistas estrangeiras de grande renome. A primeira, é natural de Viena e já se apresentou nas grandes casas de ópera da Europa como Opera di Roma, Royal Opera House e Teatro alla Scala. Já a segunda, é uma solista argentina premiada como uma das cinco melhores vozes da ópera em seu país.
Um dos principais pontos da montagem é reconhecer o tamanho da influência da ópera para o cinema. Entre elas, o filme 1915, de Cecil B. DeMille, e nas versões subsequentes de Edwin Carewe, em 1923, e John Francis Dillon, em 1930. “Esse é um espetáculo muito cinematográfico. Não é trágico, é dramático. É como se Puccini estivesse fazendo um filme”, explica Carla Camurati, diretora cênica convidada.
Carla Camurati foi responsável pela direção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro entre 2007 e 2014. Além disso, trabalhou como atriz de novela da rede Globo de televisão até 1994 e, em seguida, dirigiu filmes, entre eles, um dos mais importantes da retomada do cinema brasileiro, “Carlota Joaquina, Princesa do Brazil” (1995) e “Copacabana” (2001). Hoje, tem sua carreira voltada para direção de ópera, com produções como Carmen, de Georges Bizet, entre outras.
Para ela, o autor de Madame Butterfly cria uma obra que remete diretamente à montagem e ao ritmo próprios do cinema, que remete à sua relação pessoal com o gênero do western. “Meu pai sempre amou esse gênero western spaghetti, que me marcou muito como ‘Duelo Ao Sol’, dirigido por King Vidor e William Dieterle, e ‘Dólar Furado’, de Giorgio Ferroni. Nesse sentido, eu quero fazer um western pop, alegre, diferente do que vemos na maior parte das montagens. E tem tudo a ver com as personagens, sempre em uma energia vigorosa, sempre felizes ou raivosos”, pontua.
Essa força premonitória do que viria ser um dos gêneros mais famosos do cinema hollywoodiano estará muito presente na produção: tanto nos figurinos de época, que irão se misturar com referências regionais, até os cenários de grande magnitude retratando os Canyons californianos e, a estética do bang bang como saloons, as minas de ouro, essa última essencial para tratar a questão do trabalho braçal e da exploração humana na construção da sociedade.
Trata-se de uma obra influenciada pelo verismo, uma corrente literária italiana surgida entre 1875 e 1895, baseada num conjunto de princípios realistas. O compositor se relacionava muito bem com essa ideia de realismo, principalmente, pelo princípio de trabalhar com personagens simples, mas de questões complexas, no que ele costumava chamar de “grandes dores em pequenas almas”.
“Perdoar é uma questão, e perdoar alguém que cometeu um crime são duas questões. Puccini cria toda essa dramaturgia para que a protagonista entre nesse conflito interno, sobre o que seria a coisa certa a se fazer. E a personagem da Minnie vai trazer isso de forma apaixonante”, explica a diretora.
Do ponto de vista musical, a obra encomendada pelo Metropolitan Opera de Nova York, teve influências dos compositores Claude Debussy e Richard Strauss, sem ser de forma alguma imitativa. Um gesto de homenagem entre o libreto e a obra de Richard Wagner também é algo atestado, embora alguns atribuam isso mais ao enredo original da peça e afirmem que a ópera permanece essencialmente italiana.
“Em 1910, quando estreou em Nova Iorque, o compositor italiano declarou que La Fanciulla era a sua maior composição de toda a sua carreira. Muitos discordaram, mas, ao longo dos anos, os críticos e historiadores chegaram a reconhecê-la, de fato, como a principal obra deste compositor, devido à maestria com a qual ele compôs essa peça, à sua orquestração e à bela utilização das vozes”, pontua Roberto Minczuk, diretor musical da ópera e maestro da Orquestra Sinfônica Municipal que regerá a obra.
A ópera La Fanciulla Del West foi encenada no palco do Theatro Municipal de São Paulo apenas uma vez: em 1 de outubro de 1915, por uma companhia lírica estrangeira. Essa será a primeira produção brasileira da ópera.
Para Andrea Caruso Saturnino, diretora do Theatro Municipal, a primeira montagem brasileira da obra será uma ocasião especial. “Nas vésperas das comemorações do centenário de morte de Puccini, escolhemos apresentar ao público a obra que ele elegeu como sua criação favorita. La Fanciulla del West, com direção de Carla Camurati, terá uma boa pitada de arte pop, com os figurinos de Ronaldo Fraga e referências do Velho Oeste, transita pelo universo cinematográfico, trazendo ao público uma montagem criativa e divertida. Minnie, única personagem feminina da trama, dona de um saloon de faroeste norte-americano, onde o amor, a saudade, a traição e a paixão são os fortes motes de jogo, conduz a história nas interpretações da grande diva Martina Serafin e da talentosa Daniela Tabernig, propiciando ao público um dos grandes momentos de nossa temporada de óperas de 2023.”, comenta a diretora do TMSP.
Seja para os amantes do cinema, da música clássica ou para os interessados nesse período marcante na cultura estadunidense, La Fanciulla Del West já é um evento histórico pelo próprio ineditismo e oportunidade única de ver essa obra repleta de alegria, conflitos e aventura no palco do Theatro Municipal de São Paulo.
A ópera terá sete datas no Theatro Municipal de São Paulo: 14/07, 15/07, 16/07, 18/07, 19/07, 21/07 e 22/07. Ingresso de R$ 12 a R$ 158 (inteira) e duração de 170 minutos, incluindo o intervalo.
Para mais informações sobre os espetáculos, confira a programação completa abaixo, ou acesse o site oficial do Theatro.
Serviço
Theatro Municipal
Praça Ramos de Azevedo, s/nº
Sé – São Paulo, SP
Capacidade Sala de Espetáculos – 1503 pessoas
Praça das Artes
Avenida São João, 281
Sé – São Paulo, SP
Capacidade Sala do Conservatório – 200 pessoas