FLAVIA CASTRO inicia filmagens de AS VITRINES em São Paulo
Longa é inspirado em período da infância da diretora, quando a família morava no Chile e se refugiou na Embaixada da Argentina em Santiago, durante a ditadura de Pinochet
A diretora e roteirista Flavia Castro iniciou filmagens de As Vitrines, seu terceiro longa-metragem. Em 2010, Flavia dirigiu o documentário Diário de uma Busca, que conta a trajetória de seu pai, o jornalista de esquerda Celso Castro, morto em circunstâncias suspeitas no apto de um ex-oficial nazista, em Porto Alegre. O filme foi contemplado com vários prêmios no Brasil e no exterior, assim como seu segundo longa, Deslembro, ficção que participou da seleção oficial do Festival de Veneza e foi premiada no Festival do Rio.
As Vitrines se passa dentro de uma embaixada durante uma ditadura, em um universo onde não existe passado, nem futuro, onde duas crianças dividem segredos e uma percepção muito particular do que os rodeia. Delimitado, o espaço representa um país dentro de outro, onde acaba de ocorrer um golpe militar.
No Chile, em setembro de 1973, muitos militantes de esquerda latino americanos se refugiaram na Embaixada da Argentina, à espera de um visto para poder ir embora. Em As Vitrines, a infância é o centro de tudo: filhos de brasileiros exilados no Chile, Pedro tem doze anos, Ana, onze. Ana olha para o mundo através dos cacos de vidro colorido que recolhe pelo jardim para construir suas “pequenas instalações”. Pedro sofre com a ausência da mãe, enquanto observa os adultos que revelam suas idiossincrasias na situação particular em que se encontram. No espaço circunscrito, eles testemunham o cotidiano dos adultos ritmado pelas reuniões políticas, brigas, jogos de xadrez e namoros.
Marcello Ludwig Maia, Vicente Amorim e Ilda Santiago são os produtores; as crianças Helena O’donnel (Ana) e Gael Nordio (Pedro) são as protagonistas do filme, que tem os atores Letícia Colin, Sara Antunes, Fabio Herford, Marcos de Andrade, Marina Provenzzano, Roberto Birirndelli, Julia Konrad e Gabriel Godoy no elenco
SINOPSE
A embaixada da Argentina é um dos poucos lugares seguros em Santiago depois do golpe de 1973, e acolhe centenas de refugiados. É lá que Pedro (12) e Ana (11) experimentam uma rara liberdade e a emoção do primeiro amor. Mas Pedro vive a angústia da mãe, que ainda está lá fora correndo perigo e Ana lida com a sua ansiedade construindo pequenas “vitrines” pelo jardim. Aos poucos, a ruptura que o golpe trouxe para suas infâncias se revelará…
NOTA DA DIRETORA
“Golpe” é uma das palavras mais antigas da minha vida. Nunca tive que perguntar o seu significado; eu já sabia. A palavra sempre entrava nas discussões políticas que se estendiam noite adentro lá em casa. Muitas vezes, eu adormecia embalada pelo ritmo de palavras como – trotskismo, luta-de-classes, resistência. Eram palavras íntimas, ainda que eu não entendesse o seu significado. Mas “golpe”, por ter afetado nossa vida de uma forma drástica e definitiva, eu já sabia o que queria dizer (ou achava que sabia). A história das crianças que acompanharam seus pais na luta contra a ditadura, é um exílio invisível, sobre o qual ainda foram colocadas poucas imagens ou pouco se falou.
O golpe de Pinochet foi de uma truculência inesperada. Minha família e eu, nos refugiamos na Embaixada da Argentina em Santiago, onde ficamos confinados durante três meses. Chegaram a ser mais de setecentas pessoas numa casa, a comida era contada, e às vezes, os ânimos se exaltavam. No entanto, quando penso na minha infância, apesar dos tiros, do risco, do medo, lembro da Embaixada como um dos momentos mais alegres da minha vida.
Ana e Pedro vivem numa vitrine onde o destino, o exército daquele país, os políticos, a política, seus pais e nós (que somos eles) os observamos. E onde eles se observam e se
descobrem nas relações com os outros, com os poderes constituídos na embaixada, na descoberta da amizade e do amor. Ana e Pedro estão expostos. Ana constrói vitrines com pedrinhas, clipes, baganas, botões e as cobre com cacos de vidro. Cacos de vida. Pequenas vitrines onde ela tenta criar um mundo sob controle. Tarefa que é bela por impossível, necessária embora fugaz. E assim, o microcosmo de um outro tempo se torna reflexo do nosso presente, em que uma pandemia nos trancou em espaços fechados, em confinamentos indispensáveis para nossa sobrevivência. Se por um lado o isolamento nos salva, nessa estufa, nessa vitrine onde estão crescendo suas alegrias e angústias (de Ana, Pedro e nossas), vemos exposta nossa própria vida, nossas fraquezas e nossos sonhos.
Sobre a diretora | FLAVIA CASTRO
Flavia Castro transita entre a ficção e o documentário. De volta ao Brasil, após muitos anos vivendo e trabalhando na França, escreveu e dirigiu o premiado documentário Diário de uma busca, em 2011, vencedor de dezenas de prêmio no Brasil e no exterior (Melhor Filme e prêmio FIPRESCI no Festival do Rio; Melhor Filme no Festival de Biarritz; Melhor Filme de investigação e Melhor Filme em língua portuguesa no DocLisboa; Prêmio do júri no Festival de Havana, entre outros). Escreveu e dirigiu dois curtas: Cada um com seu cada qual (2006), e Matemática (2015) – parte do longa-metragem The Empty Class, direção artística de Gael Garcia Bernal. Como roteirista, trabalhou com os diretores Eduardo Escorel, Vicente Amorim, Vinicius Reis e Roberto Berliner (Nise, Coração da loucura). Seu primeiro longa de ficção, Deslembro (2018), teve estreia mundial na seleção oficial do Festival de Veneza (Mostra Orizzonti), e conquistou vários prêmios de crítica e público, como no Festival do Rio e no Festival Latino Americano de Biarritz. O filme foi lançado nos cinemas em 2019.
Sobre o produtor | VICENTE AMORIM
Vicente, recentemente chamado de uma estrela em ascensão pela Variety, teve seu filme Um Homem Bom, com Viggo Mortensen, incluído entre os melhores do mundo pelo Hollywood Reporter e o New York Observer. Nos últimos dois anos, Vicente dirigiu Yakuza Princess, filme de ação, com Jonathan Rhys Meyers, e Duetto, com Giancarlo Giannini. É diretor de A Divisão, série de enorme sucesso no Globoplay sobre a onda de sequestros no Rio nos anos 90, indicada pela APCA em quatro categorias, incluindo melhor série e melhor diretor; Motorrad, Slasher, com Carla Salle e Emílio Dantas, único filme brasileiro em Toronto em 2017; o épico Samurai Corações Sujos; e O Caminho das Nuvens, com Wagner Moura, selecionado para Toronto, New Directors/New Films, San Sebastian, Rotterdam e outros festivais. Atualmente, Vicente Amorim é showrunner de uma série da HBO Max e diretor de uma série da Netflix Espanha.
Produ
Sobre o produtor | MARCELLO LUDWIG MAIA
O produtor Marcello Ludwig Maia fundou a República Pureza Filmes nos primeiros anos da chamada retomada do cinema brasileiro, em 1995, e desde o início, a produtora se dedicou a filmes independentes, autorais e de comunicação com o público. Entre os destaques dessa trajetória, Amarelo Manga, Febre do Rato, Big Jato e Piedade, de Claudio Assis; Um Passaporte Húngaro e Três Verões, de Sandra Kogut, A Erva do Rato e Educação Sentimental, de Julio Bressane, A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, Um Filme de Cinema, de Walter Carvalho, Faroeste Caboclo, de René Sampaio, A Frente Fria que a Chuva Traz, de Neville de Almeida, O Beijo no Asfalto, de Murilo Benício, e Domingo, de Clara Linhart e Fellipe Barbosa, entre muitos outros – longas, documentários, séries e projetos para a TV, curtas e especiais. Este conjunto de filmes conquistou prêmios e participações nos mais importantes festivais, como Berlim, Veneza, Locarno, Rotterdam, Toronto, Toulouse, Havana, Bafici, etc.
Sobre a produtora | ILDA SANTIAGO
Nascida no Rio de Janeiro, Ilda Santiago é uma das fundadoras e sócia do Grupo Estação – empresa de 30 anos, referência na exibição e distribuição do cinema de arte e de qualidade no Brasil. Foi responsável pela aquisição e lançamento de mais de 400 títulos, entre eles Buena Vista Social Club, de Wim Wenders, O Banquete de Casamento e Comer Beber Viver, ambos de Ang Lee. Organizou diversas retrospectivas de grandes diretores no Brasil e foi curadora de mostras de filmes brasileiros (Première Brazil) em Nova York (MOMA), Berlim (Haus der Kulturen der Welt) e também em Lisboa, Beijing e Washington D.C. Há 14 anos é representante do Festival de Cannes no Brasil e colaboradora do Marché du Film/Cannes e do Ventana Sur. É diretora executiva de programação do Festival do Rio, um dos principais eventos de cinema da América Latina, desde sua fundação, em 1999. Produtora da comédia Bem Casados, de Aluízio Abranches, produtora associada de Rio, Eu Te Amo, atualmente desenvolve, com a Fox/Disney, O Ponto e As Sertanejas, ambos com direção de Aluízio Abranches. Também desenvolve vários projetos com a produtora Mayra Faour Auad/MyMama, entre eles Réquiem Para Clara, de Mónica Demes, e Descasos, de Flávia Castro. É coprodutora de As Vitrines, com Marcello Ludwig Maia/Republica Pureza e Vicente Amorim.