Lançamento da Edusp, “Emergências Culturais”, analisa mutações de décadas sobre setor cultural aceleradas pela pandemia
Obra é organizada pelo antropólogo argentino Nestor García Canclini e feito em parceria do Itaú Cultural e do IEA da USP
Analisar as transformações nas relações entre instituições, artistas trabalhadores e políticas públicas na América Latina é a proposta do livro “Emergências Culturais: Instituições, Criadores e Comunidades no Brasil e no México”, organizado pelo antropólogo argentino Néstor García Canclini e lançado pela Editora da Universidade de São Paulo (Edusp) em coedição com o Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP). A obra apresenta pesquisas do organizador e dos autores Juan Ignacio Brizuela , Sharine Machado C. Melo e Mariana Martínez Matadamas que foram feitas durante a pandemia de covid-19, inicialmente para abordar todas as mutações da indústria cultural causada muito pelos avanços tecnológicos e novos hábitos do público, mas que se aceleraram com todas as dificuldades impostas pela necessidade de isolamento social.
A publicação é a quinta da coleção da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, uma parceria do Itaú Cultural e do IEA-USP. Canclini é o titular no biênio 2021-22 da cátedra, que é um espaço de discussão interdisciplinar sobre artes, gestão cultural, academia e sociedade, nos âmbitos regional e global.
Entre os problemas apontados pelo organizador do livro estão os cerca de 2,6 milhões de postos de trabalho no setor cultural mundial comprometidos durante a crise pandêmica, mas que ocorrem depois de décadas de mudanças em conceitos relacionados à cultura. São anos em que a tecnologia e novos comportamentos do público e dos próprios artistas modificaram a forma de encarar questões como propriedade intelectual, financiamento, políticas públicas, estratégias de exibição e de comunicação, além da desestabilização dos modos clássicos de produção cultural ao agravar a precariedade das condições de trabalho.
As pesquisas apresentam problemas, mas também mostram iniciativas que buscam dar base a uma reação dos agentes culturais. Por um lado, criadores de produções audiovisuais, música, artes visuais, teatro e literatura perderam aproximadamente 35% da arrecadação mundial de direitos somente em 2020, no primeiro ano de pandemia. De outro, setores mais bem organizados coordenam respostas via ferramentas de comunicação online como Zoom e Google Meet, com a participação de milhares de gestores, ativistas, artistas da periferia e do centro, moradores de comunidades indígenas e afro, entre outros, para elaborar uma lei de auxílio nacional no Brasil, por exemplo.
Além da introdução de Canclini, o livro traz as pesquisas “Pela Onda Luminosa: A Articulação em Rede a Favor da Lei Aldir Blanc no Contexto das Políticas Culturais Brasileira”, da pós-doutoranda e gestora cultural na Funarte Sharine Melo; “Fora de Jogo? Territórios Latino-Americanos e Instituições Culturais no Brasil”, do pós-doutorando Juan Brizuela; e “México: Instituições, Monumentos e Movimentos”, de Canclini e de sua assistente de pesquisa, a antropóloga Mariana Martínez.
Os autores
Néstor García Canclini é professor-pesquisador da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM) e pesquisador emérito do Sistema Nacional de Pesquisadores, ambos no México. O antropólogo é titular da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência – IEA/USP.
Juan Ignacio Brizuela é doutor pelo Programa Multidisciplinar de Pós-graduação em Cultura e Sociedade no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos – IHAC, UFBA e pesquisador de pós-doutorado da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência – IEA/USP.
Sharine Machado C. Melo é gestora cultural na Funarte São Paulo, doutora em comunicação e semiótica pela PUC-SP e pesquisadora de pós-doutorado da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência – IEA/USP.
Mariana Martínez Matadamas é graduada em Antropologia Social pela Universidade Autônoma Metropolitana Iztapalapa e assistente de pesquisa do Sistema Nacional de Pesquisadores.