Mestre no instrumento de sopro, ele reúne no novo trabalho obras compostas por grandes nomes da música brasileira: Francisco Mignone, Francis Hime e Sergio Roberto de Oliveira, sendo que os dois últimos compuseram especialmente para Alves
Imagine um concerto inteiro tocado apenas com um clarinete. Agora, se você concorda com o ditado de que “um é pouco, dois é bom e três é demais”, imagine três belos concertos brasileiros para clarinete num único álbum. Pois com o domínio de quem vem dedicando uma vida inteira à música, Cristiano Alves mostra toda a sua maestria para explorar o potencial e a versatilidade do instrumento, difundindo a produção literária concertante nacional em seu 5o álbum, “Clarinete Concertante”, já lançado nas principais plataformas de streaming.
O trabalho reúne obras de outros grandes nomes da esfera musical brasileira: o pianista Francisco Mignone, o compositor Francis Hime e o pianista, arranjador, maestro e compositor Sergio Roberto de Oliveira, sendo que os dois últimos compuseram especialmente para Alves.
“Há cerca de uma década, manifestei o desejo de gravar um repertório solista, esbarrando sempre na complexidade de elaborar projetos que envolvessem um organismo denso e complexo como se apresenta a orquestra sinfônica. Ao longo dos anos, encomendei ou recebi dedicatórias de concertos de vários compositores. Considero-me abençoado por lançar alguns desses registros e já tenho outros trabalhos em desenvolvimento”, comemora Alves, que sempre com uma dedicação suprema ao seu talento lançou seu primeiro CD solo em 2005, “Marcas D’Água” – considerado um dos três melhores lançamentos fonográficos daquele ano – e, em seguida, os trabalhos “A obra de Osvaldo Lacerda para Clarineta”, “T’Rio – Música Brasileira para Clarineta, Viola e Piano” e “Tutti Solo” (lançado recentemente , em 2022).
Mais uma vez, o repertório que escolheu é para ser aplaudido de pé. As três primeiras faixas do CD apresentam o “Concertino para Clarinete e Orquestra”, composto em 1957 por Francisco Mignone em homenagem ao grande mestre e decano do clarinete no Brasil, José Botelho. É a obra concertante que Cristiano Alves considera ter executado mais vezes em sua vida profissional, tanto no Brasil como em Portugal, na Argentina e na Guatemala. “Considero-a uma das melhores obras concertantes já escritas em toda a literatura mundial, em todos os tempos. Porém, por mais brilhante que seja, não se verifica até os dias de hoje, uma gravação comercial desta. Por isso, muito me orgulho de lançar este registro, com as devidas bênçãos do mestre Botelho que, aos 91 anos, segue tocando divinamente”, pontua Alves
As próximas três faixas do CD foram compostas por Francis Hime, com quem Alves toca há mais de 30 anos. “Sempre pedi um concerto para ele, que ria e consentia, deixando-me esperançoso. Eis que, quatro anos atrás, ele disse ‘já comecei, seu concerto vai sair’. Em 2019, estreamos a obra com a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa, na cidade sede da orquestra e, semanas depois, repetimos o concerto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sempre com regência de Daniel Guedes e com a presença do compositor. No Municipal, procedemos um registro ao vivo da obra, o qual compõe o CD”, conta Alves, enaltecido.
A última faixa do CD foi composta por Sergio Roberto de Oliveira, artista reconhecido no Brasil e no exterior, tendo sido agraciado com dois prêmios Grammy. “À ocasião da composição, já acometido pelo câncer que ceifou-lhe a vida, intitulou a obra por ‘Phoenix’, ressaltando sua própria luta e a eterna esperança no renascimento. “Phoenix” se configura como um concerto em movimento único e utiliza-se de uma linguagem moderna, com inventivas linhas polifônicas, estruturas rítmicas plurais e caracteristicamente brasileiras. Contornando todo o eixo conceptivo da obra, surge – no início e, recorrentemente, ao final – um lindíssimo tema, lento e comovente, que vem a ser, justamente, um dos primeiros compostos por Sergio, há quase trinta anos, por ocasião do nascimento de sua filha. Este tema, singelo e tão bem orquestrado, ilustra a ternura e a criatividade da obra deste grande compositor.
“Estreamos e gravamos a obra no início de 2018 e, meses depois, Sergio veio a falecer. Mas sua presença nos meios artísticos é extensa e sua obra jamais será esquecida. A mesma vocação que movia o querido amigo Serginho também me orienta, no sentido de produzir registros e execuções de obras concertantes brasileiras, fomentando a produção nacional para o instrumento que escolhi para ser um parceiro de vida e meu mais potente meio de expressão e transformação, através do trabalho que desenvolvo junto aos queridos alunos na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Viva a música brasileira, nossos grandes compositores e o clarinete, com toda a sua potencialidade e idiomatismo”, conclui e festeja Alves.
A parceira nesta empreitada foi a tradicionalíssima e icônica Orquestra Sinfônica Nacional da Universidade Federal Fluminense (OSN-UFF). A regência artisticamente consistente e especialmente comprometida ficou a cargo do querido maestro Tobias Volkmann.
Mais sobre o artista:
Doutor em Música pela UNICAMP e Mestre pela UFRJ, Cristiano Alves iniciou seus estudos musicais aos 7 anos de idade e aos 10 teve os primeiros contatos com a clarineta, na Banda de Música do Colégio Salesiano Santa Rosa, sob a orientação do maestro Affonso Reis. Natural de Niterói, foi aluno de José Carlos de Castro e recebeu orientações de muitos de nossos grandes clarinetistas brasileiros, bem como de inúmeros e renomados professores internacionais. Detentor de diversas premiações em importantes concursos, graduou-se com summa cum laude pela UFRJ.
Participou de centenas de gravações sinfônicas e camerísticas, atuando ainda junto a grandes artistas da MPB. Apresentando-se com frequência no exterior, é regularmente convidado a realizar recitais, concertos e mastersclasses em países como EUA, Canadá, Inglaterra, França, Alemanha, Portugal, Suíça, Argentina, Venezuela, Uruguai, Peru, Colômbia, Eslovênia, Cingapura e Vietnã.
Em 2005, lançou seu primeiro CD, junto à pianista Tamara Ujakova, o qual figurou como finalista do Prêmio Tim, sendo considerado um dos três melhores lançamentos de música erudita no Brasil.
É professor efetivo da cadeira de clarinetas na Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo seus alunos vencido inúmeros e importantes concursos, ocupando também destacados postos em orquestras e universidades brasileiras.
Atua em duo com o pianista Ricardo Ballestero, tendo se apresentado também com artistas como Maria João Pires, Jean Louis Steurmann, Fany Solter e Ricardo Castro. Com destacada carreira como solista, apresenta-se frequentemente à frente de orquestras sul-americanas, sendo responsável pelas primeiras audições, no Rio de Janeiro, dos concertos de Carl Nielsen, Jean Françaix e John Corigliano, além de diversas outras estreias nacionais e mundiais.
Há 30 anos, colabora com os naipes de orquestras como Orquestra Petrobras Sinfônica, OSB, OSESP, OSTM, Orquestra do Mercosul, entre tantas outras. Leciona em diversos Festivais de Música, tais como os realizados em Campos do Jordão (SP), Jaraguá do Sul (SC), Buenos Aires, Tucumán e Mendoza (Argentina), Manizales (Colômbia), Curitiba (PR), Brasília (DF), Ouro Branco (MG), Tatuí (SP), Recife e Olinda (PE), Domingos Martins (ES), Campos dos Goytacazes (RJ), além de ministrar, regularmente, workshops em inúmeras outras cidades brasileiras, bem como nas Américas do Sul e do Norte e Europa.
Vem dedicando relevantes esforços em prol da música brasileira e da clarineta, produzindo e lançando diversos títulos fonográficos, bem como métodos, artigos e livros. É diretor artístico do selo de gravação e estúdio A Casa. Desenvolve importante carreira camerística e dezenas de títulos lhe foram dedicados por grandes compositores da música brasileira.