Poeta popular que virou fenômeno no Brasil, o cearense Bráulio Bessa percorreu as cinco regiões do país indo ao encontro de pessoas que tiveram suas vidas impactadas por suas poesias, na série documental original Globoplay ‘Poesia que Transforma’, que estreia no dia 22 de dezembro.
Idealizada por Duda Martins em parceria com Bráulio, com direção de Duda e de Chico Walcacer, e roteiro assinado por Douglas Vieira, a obra conta as histórias de vida desses brasileiros que, no momento certo, se cruzaram com a vida e obra do próprio Bráulio.
‘Poesia que Transforma’ é dividida em cinco episódios: raízes, amor, igualdade, fé e recomeço. Em cada um deles, três pessoas de 10 diferentes estados do país têm suas trajetórias revisitadas desde as origens até o momento em que seus caminhos se cruzam com os versos de Bráulio. O documentário ainda navega por temas da atualidade, como racismo, homofobia, intolerância religiosa, desigualdade social, xenofobia e tantos outros assuntos que também atravessam a obra de Bráulio. Com a vida do autor também como pano de fundo para “bordar” as experiências dos personagens, o documentário ainda traz depoimentos de sua família, como o da esposa, Camila Mendes, e conta a trajetória do poeta desde as suas raízes.
Durante quatro meses de viagens e gravações, o poeta e a equipe da série captaram de perto histórias, momentos e imagens de um Brasil múltiplo, com o olhar e a sensibilidade do diretor de fotografia Lucas Oliveira, parte fundamental para a narrativa, que junta periferia, favela, floresta e sertão, depois de percorrerem mais de 10 estados e 15 cidades, de Norte a Sul do país. Entre elas estão a terra natal de Bráulio, Alto Santo; Juazeiro do Norte; Assaré; Jaguaribe; Jaguaruana, Fortaleza; Pau dos Ferros; Salvador; Cuiabá; São Paulo; Porto Alegre; Rio de Janeiro; Reserva Amanã, em Manaus; Brasília; Poconé; Santarém; Óbidos; Tefé e Maraã.
Histórias “costuradas” pela poesia
Raízes – É o tema que une as histórias do primeiro episódio. Seu Zé (SP), a pequena poetisa Quitéria Jales (RN) e o professor idealista Alex Alves (AM). Três pessoas, de três gerações e culturas diferentes, se encontram no orgulho que sentem das suas origens.
Amor – É o sentimento que inspira Agnes Mariá Cardoso (RS), Géslei Santos de Jesus (DF) e Sandro Lucose (MT). Eles contam como o amor e a poesia podem ser agentes de transformação.
Igualdade – O terceiro episódio exalta a vontade de fazer do mundo um lugar sem diferenças, que aproxima as lutas diárias de Ana Paula Hilário (SP), Faela Maya (CE) e Stanley Moreira e seu filho, Wesley Lima (CE). Um caminho permeado de batalhas por direitos iguais, melhores condições de vida e equidade acima de tudo. Esse episódio mostra como poesia pode servir como forma de combate à desigualdade social e a favor da diversidade.
Fé – É o tema que norteia o episódio quatro e que move os personagens Thalita (CE), Josi (SP), e os amigos Kalina e Dom (BA), cada um com sua religião. Histórias que mostram a riqueza cultural do Brasil e a fé que é tão característica desse povo.
Recomeço – Todo mundo pode recomeçar como, quando e onde quiser. Na vida, vale se reconstruir, se reinventar, se renovar, se reconectar, se redescobrir com o que te faz bem. Foi assim com o pequeno poeta, de 8 anos, Mateus Marinho (PA), a inspiradora Rosângela Sá (RJ) e o barbeiro e rapper Gutto (CE), que contaram com o poema mais famoso de Bráulio, o “Recomece”, como incentivo para dar a volta por cima. Esse episódio também fala de como a vida de Bráulio se transformou através da poesia. São esses os “Recomeços” que embalam o episódio cinco da produção.
‘Poesia que Transforma’ é uma série documental Globoplay, criada por Duda Martins e Bráulio Bessa, desenvolvida por Bianca Lopes, com apresentação de Bráulio Bessa. A série tem direção de Duda Martins e Chico Walcacer, redação de Douglas Vieira e produção de Beatriz Besser. Rafael Dragaud é o diretor executivo, e a produção executiva é de Mariano Boni e Erick Brêtas, com direção de gênero de Mariano Boni.
Conheça os personagens de ‘Poesia que Transforma’
Ana Paula Hilário, Paulinha, 39 anos, SP.
Moradora da Vila Guarani, em São Paulo, Paulinha, como gosta de ser chamada, sempre batalhou pela própria independência e representa muitas mulheres desse Brasil. Mãe solo do Kairê (13 anos), negra, mulher de candomblé e do samba, ela começou a trabalhar ainda na adolescência e seu caminho é marcado por desafios, superados por sua força e garra. Desde que conheceu a poesia de Bráulio, Paulinha também aumentou sua esperança para enfrentar os obstáculos e criou um hábito: todo dia, antes de trabalhar, escolhe um livro do poeta, abre ao acaso e escolhe um poema que será, como ela descreve, seu guia. Atualmente ela concilia a rotina de entregadora de aplicativo com os ensaios da “Vai-Vai”, sua escola de samba desde a infância. Um amor que também passou para seu filho, apaixonado como a mãe pela agremiação.
Agnes Mariá Cardoso, 29 anos, Porto Alegre.
Educadora social, MC, escritora e slammer, Agnes Mariá vive em Porto Alegre. Para ela, morar em um estado em que apenas 18% da população se declara negra e ter orgulho de quem se é, resume o amor-próprio. Filha da empregada doméstica Silvia Regina, Agnes cresceu sem referência paterna e conquistou seu espaço com muita luta. Leitora voraz desde a infância, a gaúcha começou a escrever seus próprios poemas na adolescência. Na faculdade, a escolha por Letras foi natural. Nessa época, ela também teve o primeiro contato com a poesia de Bráulio Bessa.
Alex Alves, 31 anos, reserva do Amanã, AM.
A paixão pela poesia e por suas raízes falou mais alto na vida de Alex Alves, professor, escritor, poeta e declamador, que vem se destacando na Literatura de Cordel e decidiu apresentar, através de poemas, o linguajar “amazonês”. É em uma escola na Reserva do Amanã, no coração da Floresta Amazônica, às margens do Rio Copeá, que o educador ensina e repassa sua paixão por poesia para alunos com idade entre 4 e 30 anos, todos descendentes de indígenas. Ao ver Bráulio Bessa pela primeira vez no ‘Encontro com Fátima Bernardes’, Alex foi invadido pela arte do cearense e percebeu que também era possível usar o regionalismo como fonte de inspiração para criar suas rimas e levar cultura e educação para uma comunidade ribeirinha.
Faela Maya, 29 anos, Jaguaribe (CE).
Roteirista, diretora, atriz e influenciadora, Faela Maya é uma das moradoras mais populares de Jaguaribe, um pequeno município do interior do Ceará, e nem imaginava a reviravolta que sua trajetória teria. Hoje, as mais de duas milhões de pessoas que seguem a artista em suas redes sociais acompanham vídeos divertidos sobre situações cotidianas. Mas sua vida nem sempre foi motivo de risos como a webnovela “Pobreza Brasil”, criada por ela. Faela é uma mulher trans e sofreu muito preconceito quando decidiu, finalmente, fazer a transição de gênero, aos 20 anos. Em um dos momentos mais difíceis que enfrentou, se apegou ao poema “Se”, de Bráulio, e seguiu os conselhos dos versos: “Se renove, siga em frente. Se arrisque, se prepare. E se cair jamais pare. Se levante, se refaça”.
Géslei Santos de Jesus, 40 anos, Brasilia (DF).
Géslei Santos de Jesus tem uma forte relação com a mãe, Eliete, que batalhou para fazer da vida do filho, que nasceu com uma limitação motora, mais fácil. Hoje, ele vê a situação se inverter após descobrir o Alzheimer da mãe. Baiano, de Feira de Santana, Géslei nasceu com uma deficiência decorrente da Síndrome de Escobar, que afetou seus membros inferiores, impossibilitando que ele esticasse as pernas. Quando ele tinha 5 anos de idade, Eliete resolveu deixar os outros três filhos na Bahia e se mudou com Géslei para Brasília, em busca de atendimento público e gratuito. Um sacrifício de mãe que mudou a trajetória do filho para sempre. Géslei operou ainda na infância o alongamento de tendão e conseguiu ter movimento nas pernas. Hoje, com 40 anos, é o auxiliar de estúdio quem cuida da mãe. Uma conexão entre mãe e filho que Géslei confia ser bem traduzida pelos poemas de Bráulio sobre o amor materno.
Gutto, 22 anos, Fortaleza.
Os versos de Bráulio foram decisivos para o recomeço do Rapper e barbeiro Gutto, cria de Sarapiranga, comunidade em que nasceu e vive em Fortaleza. A paixão que move sua vida desde cedo é a música. Gutto começou aos 15 anos cantando músicas de conteúdo violento que faziam apologia ao crime e às drogas. Ao ver Bráulio no ‘Encontro com Fátima Bernardes’, a poesia trouxe reflexões para o músico, que mudou os temas das suas rimas. Para ele, o rap e o cordel andam lado a lado.
José Alves Primo, Seu José, 67 anos, SP.
Seu José nasceu e viveu até os 17 anos em Lavras da Mangabeira, no interior do Ceará. Hoje, com 67 anos, mora em São Paulo e revisita o passado com as lembranças da infância, desde o trabalho na lavoura para ajudar os pais, até o que mais marca sua memória, os eventos da antiga escola onde sempre era chamado para declamar poemas. Nessa época, Seu José tinha menos de 10 anos, mas, até hoje, sabe todos os versos. O amor pela poesia acompanha o aposentado pela vida afora e, desde que conheceu a obra de Bráulio, foi encanto de primeira. Para ele, mergulhar nesses poemas é uma forma de viver o presente, mas voltando ao passado, em sua terra, que não visita há anos.
Josi Teodora Bechtloff, 53 anos, SP.
Os versos de Bráulio também ajudaram Josi Teodora Bechtloff a se reconectar com sua fé depois da perda do filho, Guilherme. Ela, que carrega o budismo como herança da mãe e, desde criança, sempre foi muito dedicada aos rituais da religião indiana, perdeu a esperança na vida e entrou em um quadro de depressão com a morte dele em um assalto. Três meses depois, a dona de casa, que mora em São Paulo, recebeu um vídeo de Bráulio declamando um poema que mudou seu rumo. Para ela, a poesia teve um poder transformador e lhe deu forças para ir em busca de justiça e fazer as pazes com sua fé. Josi foi atrás de ajuda psicológica em um grupo formado por pessoas que também perderam familiares por causa da violência e, hoje, as poesias fazem parte das sessões de conversa.
Kalina Lopes, 35 anos, e Dom Chicla, 49 anos, Salvador (BA).
Em Salvador, na Bahia, a amizade de Kalina Lopes e de Ricardo de Lima, mais conhecido como Dom Chicla, se fortaleceu com as poesias de Bráulio e o respeito que um tem pela religião do outro. Nascida no interior da Paraíba, desde menina Kalina sonhava em morar na capital baiana. Depois de ler o livro ‘Poesia que Transforma’, de Bráulio, veio o estímulo que faltava para ela ir rumo à Bahia. É aí que Dom entra em cena. Antes mesmo de se mudar, ela era amiga virtual do músico, que se tornou seu maior apoiador na nova cidade. Além da paixão pela música, a conexão com a divindade faz parte da vida dos dois. Enquanto Kalina é evangélica, Dom é do candomblé. Religiões tão diferentes até poderiam ter afastado os amigos, mas, na prática, o que aconteceu foi o contrário. Dom percebeu em Kalina preconceito em relação aos cultos de matriz africana, pelo fato de ter crescido distante desse universo, e resolveu ensiná-la sobre o candomblé. Já a paraibana apresentou ao amigo os poemas de Bráulio, que o compositor define como “profeta dos tempos modernos”.
Mateus Marinho, 9 anos, Óbidos (PA).
Uma campanha na internet para dar uma casa em boas condições de moradia para o Mateus Marinho e sua avó, deficiente audiovisual, viralizou nas redes e fez de anônimos e famosos uma legião de admiradores do menino de 9 anos. Foi a poesia de Bráulio, ídolo do ribeirinho, e o apoio de sua Tia Lúcia, que ajudaram a transformar a vida do pequeno poeta. Criado pela avó, até então responsável por Mateus, o menino desenvolveu uma agressividade que comprometia a socialização com outras pessoas. Ao ver um vídeo de Bráulio, Mateus se identificou e quis virar poeta para mudar a vida da avó.
Quitéria Jales, 12 anos, Pau dos Ferros (RN).
Em Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte, quem é fã de Bráulio também conhece Quitéria Jales, de 12 anos. Desde os seis, a estudante recita como ninguém os versos do poeta de Alto Santo. Tão bem que um vídeo seu, declamando um dos poemas, viralizou e chegou até ele. A poetisa mirim tem o sonho de falar ao Brasil sobre o amor às suas raízes.
Rosângela Sá, 53 anos, RJ.
Rosângela Sá, de 53 anos, é inspiração pura de vida. Ao conhecer um pouco a trajetória da ex-vendedora, que mora em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, você pode se perguntar como alguém que enfrentou a violência doméstica pode se sentir mais feliz e viva hoje, do que antes de ter 65% do corpo queimado pelo ex-marido. A resposta vem com seu sorriso no rosto e sua vontade de seguir em frente. Apesar de todas as cicatrizes que ficaram, Rosângela conseguiu ressignificar sua vida e motiva a mudança de tantas outras pessoas com palestras e poesias. A transformação começou quando ela foi presenteada com o livro ‘Recomece’, de Bráulio.
Sandro Lucose, 47 anos, Pantanal (MT).
Sandro Lucose é professor, ator e ativista, e mora em Cuiabá. Diz o ditado que quem vê cara, não vê coração. Por trás da figura rústica, da barba vasta e do inseparável chapéu de couro que Sandro ostenta, existe um homem sensível e apaixonado. Na produção, ele relembra sua história com Carla, que conheceu durante uma roda de samba. O amor do casal venceu a distância entre Brasil e Portugal e foi selada com um casamento que teve como cenário um lugar que não poderia ser mais a cara dos noivos: um curral, assim como o de Bráulio e Camila Mendes, que selaram a união em sua terra natal, Alto Santo. Além da cerimônia em comum, Sandro se identifica com os poemas do escritor que falam da vida no campo, no sertão, distante dos centros urbanos e mais próximas das riquezas que estão na simplicidade. E é nesse mundo que ele, ao lado da família, se sente vivo.
Stanley Moreira, 44 anos, e Wesley Lima, 18 anos, Jaguaruana (CE).
A história de amor e dedicação de um pai que não mede esforços para fazer o filho sorrir vai emocionar a todos. Stanley mora na pacata Jaguaruana, cidade cearense, e Wesley, hoje com 18 anos, um dos filhos dele e de Silvia, teve paralisia cerebral depois que contraiu uma infecção aos quatro meses de idade. Desde então, o pai tomou para si a responsabilidade de fazer o que fosse possível para proporcioná-lo uma vida mais leve. Mecânico de bicicleta, ele criou uma adaptada para o caçula, que é a companheira assídua das “Tartarugas do Pedal”, nome que pai e filho adotaram quando estão pedalando. A poesia de Bráulio entra para transformar a rotina da família, que viu nos poemas incentivo para seguir em frente.
Thalita Ribeiro, 41 anos, Juazeiro do Norte (CE).
A enfermeira Thalita Ribeiro mora em Juazeiro do Norte, é católica e viu sua rotina e a da família se transformarem com a pandemia. Trabalhando na linha de frente no combate ao vírus, sua vida passou a ser dentro do hospital. Para proteger os filhos, ficou quase seis meses sem encontrar Matheus, de 21 anos, e Eduardo, de 10. Eles foram morar na casa do pai. Quando já se sentia cansada da batalha pela vida nos hospitais, Thalita encontrou uma maneira de amenizar o período de sofrimento e saudade da família: ouviu o Braulio declamar o poema “em tempos de dor”.