História do bicheiro Castor de Andrade é tema da primeira produção documental do Esporte da Globo para a plataforma
A imagem do castor não está na cartela do jogo do bicho. Ficou fora da lista de 25 animais escolhidos em 1892, quando o barão João Batista Drummond pensou em um jogo de sorte para atrair mais visitantes ao Jardim Zoológico de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Mas o nome do roedor tornou-se o mais conhecido de todos quando o singelo entretenimento virou atividade clandestina, até hoje sinônimo de ilegalidade e lavagem de dinheiro.
Essa história é contada no primeiro documentário do Esporte da Globo original para o Globoplay, disponível desde o dia 11.
“Doutor Castor” mostra a trajetória do bicheiro Castor de Andrade, um personagem que transitava entre a obscuridade da contravenção, a popularidade do futebol e o brilho do Carnaval.
Dirigido por Marco Antonio Araujo, o documentário reúne, em quatro episódios, depoimentos de mais de 30 pessoas que conheceram Castor ou tiveram participação em sua história.
Presidente do Bangu Atlético Clube e patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, usou o futebol e o Carnaval, duas paixões populares, para se inserir de forma positiva na sociedade.
O roteiro assinado pelo próprio Marco Antonio e por Rodrigo Araujo ilumina momentos que muitas vezes parecem até fictícios de tão surpreendentes.
“O Esporte da Globo sempre cumpriu com excelência a missão de informar e contar boas histórias. Com ‘Doutor Castor’, mostramos esse trabalho em um novo formato, no qual pretendemos investir cada vez mais: o documentário. É um material rico em pesquisa e com muitas imagens inéditas, que mostra a trajetória de um personagem único”, destaca o Diretor de Conteúdo do Esporte da Globo, Renato Ribeiro.
“O investimento em séries documentais sobre o esporte foi natural dentro da Globo. O esporte move paixões e conecta as pessoas, é um tema presente na casa de todos os brasileiros. Ter o Esporte da Globo junto com o Globoplay foi fundamental, pois eles reúnem a experiência, expertise e originalidade da qual buscamos”, complementa a Head de Conteúdo do Globoplay, Ana Carolina Lima.
“Doutor Castor” passeia pelos ambientes que marcaram a atuação do contraventor.
O primeiro episódio mostra a ascensão ao poder, como o dinheiro de uma atividade irregular influenciava os caminhos do Bangu e da Mocidade, e como o bicheiro despertava a admiração de seus protegidos e o temor dos inimigos.
O auge de Castor é tema do segundo capítulo, com o controle do jogo do bicho, o título do Carnaval de 1985 e a final do Campeonato Brasileiro do mesmo ano.
O terceiro explora a atuação política nos bastidores.
Por fim, a derrocada. Foragido e condenado, vê o cerco da Justiça se fechar e um grande esquema de corrupção ser desvendado.
Mesmo após a morte, em 1997, a briga familiar pela herança ainda provocou episódios de violência pelo Rio de Janeiro.
ENTREVISTA COM O DIRETOR MARCO ANTÔNIO ARAÚJO
Como surgiu a ideia de fazer um documentário sobre Castor de Andrade?
É um personagem irresistível, que caiu em certo ostracismo depois da condenação por formação de quadrilha, em 1993. Os amigos se afastaram e virou tabu falar do Castor, até porque a guerra pelo poder do jogo do bicho continua até hoje. Esta é a razão pela qual não existe uma biografia ou um documentário sobre ele. Eu sempre fui fascinado pela história – não pela pessoa – e senti que era o momento de revisitar este personagem. Ao pesquisar o arquivo da Globo, me deparei com um tesouro: havia um material riquíssimo, coisas que nunca foram exibidas na TV. Ali eu tive certeza de que merecia um documentário.
Quanto tempo durou o trabalho de pesquisa e de produção deste material? Qual foi a etapa mais difícil no trabalho?
Desde o esboço do pré-roteiro até o lançamento da série, o trabalho durou um ano e quatro meses. A maior dificuldade no processo de pesquisa foi a pouca literatura que existe sobre a guerra do jogo do bicho, que ocorreu em meados dos anos 70 e 80 no Rio de Janeiro. O livro “Os Porões da Contravenção”, dos jornalistas Aloy Jupiara e Chico Otávio, foi muito útil. Mas ainda assim havia outras histórias sobre o Castor que estavam fragmentadas em relatos orais, jornais e documentos antigos. Montar este quebra-cabeça foi um desafio gigantesco. Pessoas que eram muito próximas do Castor, como o advogado Michel Assef e o cantor Agnaldo Timóteo, mostraram-se receptivas a participar da série. Como o documentário se propõe a mostrar todas as facetas do personagem, temos depoimentos dos amigos e dos inimigos.
O que representa para você liderar a primeira produção do Esporte da Globo original para o Globoplay?
Liderar a primeira produção do Núcleo de Documentários do Esporte da Globo original para o Globoplay é um privilégio. Entrei aqui como estagiário há 13 anos e meio, hoje sou editor de esportes do ‘Jornal Nacional’. Mas dirigir e roteirizar uma série documental do porte de ‘Doutor Castor’ é algo que ainda não consigo dimensionar. Sou muito grato pela oportunidade que a direção do Esporte me deu e pela equipe sensacional que fez este documentário virar realidade