Entre os dias 10 e 12 deste mês, dois textos interessantes sobre o Youtuber Felipe Neto viralizaram nas redes sociais, um é da Rita Lisauskas[i] e o outro é anônimo[ii] (mas aparenta ser de cunho feminino).
Eu tenho uma filha de 12 anos, que é fã do Felipe Neto, e uma filha de 4 anos, que é fã do Luccas Neto. Ambas assistem aos canais do irmão que segue, assim como já as levei aos shows que eles apresentaram no teatro Net Rio, cada uma vendo ao show do seu respectivo youtuber favorito.
Acredito ter recebido os textos pelo fato de ser mãe de filhas que são fãs deste youtuber e até agradeço o envio. Mas tendo um posicionamento tão forte sobre criação, como eu tenho, não teria como ler esses dois textos e não fazer um em resposta.
Mas como a maioria das coisas na minha vida, antes de ser impulsiva e escrever tudo o que pensava, parei para conversar com minha filha mais velha. A conversa para mim, seria como um termômetro, uma vez que não tenho a pretensão de ser a dona da verdade, mas também não preciso me expor à toa.
Apenas por contextualização, minha filha mais velha está na 7ª série e como já disse, tem 12 anos. E neste momento preciso confessar para vocês que eu deveria ter gravado a conversa, muitos pais e mães ficariam com vergonha de ter compartilhado esses textos, posso lhes garantir isso.
Para quem me conhece e/ou já leu meus textos, sabe que ser mãe sempre foi uma prioridade e continua sendo até hoje. Muitas pessoas que trabalharam comigo no Detran/RJ dizem que sou uma pessoa muito melhor desde que Ana Beatriz nasceu e eu sei que sim.
A maternidade me fez muito bem! Assim como trabalhar com Educação desde 2011, me fez entender com clareza essa nova geração de adolescentes. Eu já me conectava bem com as pessoas, mas minha filha me trouxe um bom-humor, uma certa compaixão com o próximo, me ajudou a ter mais empatia… ela me suavizou!
Depois veio a mudança no trabalho, eu comecei a trabalhar como Coordenadora Pedagógica e a dar aula para crianças, adolescentes e adultos. E logo em seguida, me casei! Foram mudanças decisivas e maravilhosas, mas elas só confirmaram meus pensamentos e forma de agir.
Desde muito cedo eu entendi que criar e educar um filho, é obrigação dos pais. Exclusivamente dos pais, não é da escola, não é dos avós e etc. E por ter nascido no meio dessa loucura toda que o feminismo trazia para a sociedade, eu achava que poderia criar um(a) filho(a) sozinha pelo simples fato de ser mulher e como toda mulher é foda pra caralho, faz várias coisas ao mesmo tempo, lava, passa, cozinha, arruma a casa, faz as compras, administra o consumo dos produtos, cuida das crianças, cuida do esposo…
Pois é gente, nós acrescentamos à isso tudo, fazer faculdade, trabalhar nas empresas e outras capacitações. Para dar certo, esse processo demoraria, e ainda estava em adaptação porque pedia igualdade nas tarefas.
Mas sempre que estamos em meio a mudanças muito fortes, diria até radicais, mudanças no nível das Mentalidades, esse é um processo demorado. E às vezes a gente se perde. E foi o que ocorreu comigo. Eu achei que eu poderia fazer tudo isso sem problema, mas eu não pude. Não dá para ser, e eu vou reduzir as tarefas, universitária, trabalhadora, pseudo dona de casa e mãe, sem ajuda do pai da criança e/ou marido.
Ao longo do caminho você percebe que o caminho é muito pesado e que você precisa fazer escolhas. Eu escolhi o trabalho e minha filha. A faculdade nós sempre achamos que podemos terminar depois, a casa cada um arruma um pouco e dá tudo certo, sem trabalho não tem dinheiro e o filho você escolheu ter, então tem que cuidar direito.
Posso garantir a vocês que eu fui fora do comum no trabalho e que como mãe da Ana, fui e sou, o que ela precisa para ser um ser humano e cidadã decente. Com o decorrer do tempo, tive o prazer de passar por uma escola que me ensinou muito, que me deu a oportunidade de mudar minha vida profissional em escala colossal, dando o ponta pé na carreira que, aliada ao casamento, seria meu segundo divisor de águas na vida.
Mas apenas na escola seguinte pude colocar em prática todo esse aprendizado e voltar e me destacar no trabalho. Pessoalmente, o casamento trouxe a oportunidade de vivenciar a maternidade de uma forma diferente, da forma que eu entendi, após a primogênita, ser necessária para que eu não tivesse que exercer os dois papeis, porque na criação o indivíduo precisa das figuras masculina e feminina, precisa mesmo, isso não é papo furado.
E ao criar um (a) filho (a) sozinha, tive que exercer essas duas figuras e foi exaustivo. Eu sei que hoje em dia não podemos mais contextualizar a família no padrão clássico pai-mãe-filho cujos pais sejam casados, e consegui viver essa realidade na prática quando trabalhei na Baixada Fluminense (Caxias e Nova Iguaçu).
Lá eu aprendi que para conversar sobre o aluno (a), era preciso mudar a nomenclatura. Eu não mais poderia pedir para conversar com a mãe e/ou pai do aluno, porque muitos deles não tinham um, ou outro, ou nenhum dos dois, a maioria era criada por um parente, a maior parte pela avó.
Então eu entendi que teria sempre que procurar pelo responsável, responsável pela criação (= EDUCAÇÃO) do aluno. E não é que essa palavra vem a calhar: RESPONSÁVEL!!!!! Porque é exatamente essa pessoa que tem o compromisso moral e material de educar e instruir; tem que orientar, acompanhar e direcionar; ensinar a diferença entre o certo e o errado; ensinar que toda ação, gera uma reação; que responderá pelos atos e prestará contas perante as autoridades até a maioridade daquele que é sua responsabilidade.
Quando eu pedi a Ana Beatriz para me dizer o que ela achava dos dois textos, ela me disse mais ou menos assim…
- Você fala muito mais palavrão do que ele e nem eu, nem a Fábia falamos palavrão porque vocês nos ensinaram que não era para falar e quando escapuliu de falarmos, fomos repreendidas e ficamos de castigo (já vi muitos pais que não fazem nada e outros que riem);
- Oh mãe, você faz assim, joga um videogame e depois você me diz se você entendeu porque ele falou palavrão e um monte de besteira. Mas se mesmo assim você não entender que a adrenalina e a incapacidade diante da máquina e do desconhecido fazem isso com a pessoa, você conversa com a vovó porque ela é psicóloga e ela já me explicou isso por causa de um filme que vimos e ela vai te explicar direito;
- Engraçado, o canal do Luccas é para criança e do Felipe é para adolescente. Vocês sabem disso, né? Então, eu assisto ao Felipe e a Fábia ao Lucas. Ninguém aqui assiste ao que vocês não autorizam, é simples assim;
- O canal dele, como ele mesmo diz, é para entretenimento. Ele estaria falhando se tivesse dito que iria instruir alguém não é mãe?! E outra, quem tem que educar, é a pessoa responsável pela criança/adolescente, não é o canal de entretenimento. Eu acho que essas mães estão querendo tudo muito fácil sabe mãe, desde quando entretenimento ajuda na educação? Com exceção de alguns desenhos e filmes infantis, você sempre me falou que a televisão e as músicas estavam sem censura. Youtube está na mesma situação mãe. Eu acho que os pais não querem ter trabalho porque você sempre me falou que educar dá muito trabalho e que não é qualquer um que tem perfil para ser pai e mãe. Você tem razão mãe. Não é qualquer um mesmo!
Quando eu questionei minha filha sobre a forma como ele trata o Diretor/Produtor dele, ela me respondeu com uma explicação e depois me fez uma pergunta. A explicação é simples e já foi dada em vídeo pelo próprio Felipe, mas a pergunta é perspicaz. – Mãe, você acha que uma pessoa iria confiar a produção e a direção dos vídeos do seu canal para alguém que ela acreditasse ser idiota, imbecil e retardada? Não deixe de levar em consideração que a profissão desta pessoa é Youtuber, que o objetivo dela é postar vídeos diários e que essa pessoa tem meta de inscritos no canal, curtidas e visualizações nos vídeos.
Eu realmente deveria tê-la filmado, vocês não acham?!? Longe de mim querer ditar regras ou dizer o que é certo ou errado. Mas não me parece que o problema esteja em assistir aos irmãos Neto e sim no fato de que educar é foda e muita gente não quer se dar ao trabalho, simples assim.
Por Carla Motta Araújo
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**As opiniões da colunista não refletem a opinião editorial do A Capivara deu Cria.
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Concordo com o que foi publicado e a opinião que a pequena deu… Assim como a palavra que mais me chamou a atenção, RESPONSÁVEL, em todo o texto…
Se é que existe alguma frase que traduz essa crônica, essa seria “FACA O QUE DIGO, MAS NAO FACA O QUE FACO”, oooou desenhando… “É O CACHORRO QUEM MIJA NO POSTE”!
Não é o porquê você age ou fala de um jeito que seu filho ou filha deve agir do mesmo jeito… Garanto a qualquer um aqui, que está lendo o meu comentário, não age e fala igual aos pais (não todos)… Mas tem a educação que lhe foi dada!
O problema é que, na geração de hoje, tudo virou um mimimi… Pais que tem filhos e dão aos avós… Se você dá uma palmada é denunciado por mais tratos… Parei e pensei… benditos os castigos e até coças que levei… E, independente disso, se fosse para ser um bandido, eu seria…
O lance todo é… O quão maleavel a geração de hoje se tornou ao criar seus filhos, a tal ponto de “esquecer” que quem cria é o responsável…
Então, com esse meu “mimimi”, pergunto:
Você se acha RESPONSÁVEL mesmo pela criação e respeito de seu filho ainda achando certo deixando com outros essa responsabilidade?