Eu sempre fui muito observadora e por ser extrovertida, sempre conversei muito com pessoas de diferentes faixas etárias. Graças à Deus eu aprendo com rapidez, coisa pela qual sou realmente grata. E somado a essas coisas, fiz a faculdade de História – Bacharelado e Licenciatura – quase até o fim, então fiz uma quantidade muito grande de matérias obrigatórias, eletivas e de prática de ensino, que me ensinaram muita coisa sobre a Humanidade.
No trabalho eu fui pegando responsabilidades para mim, que nem eram da minha função, mas que me fizeram aprender muita coisa rápido e estar sempre em evidência e consequentemente me fizeram ser promovida algumas vezes também. E com isso veio o lance da liderança. Então eu acho que essas experiências foram moldando os meus “achismos” até chegar no… AGORA.
Hoje o que para mim é o mais difícil, pelo fato d’eu ser bem taurina mesmo – porque eu sou touro com ascendente em touro gente – é ter que entender que eu não tenho mais privacidade, nem individualidade, mas ao mesmo tempo eu tenho que entender que meu cônjuge precisa ter a privacidade e a individualidade dele.
Eu também tive que passar a ser flexível para o bem desse lance que é o matrimônio com o plus, filhos. Mas como é difícil para uma pessoa ciumenta, possessiva, materialista, mandona, autoritária e que está acostumada a fazer tudo sozinha, ter que ceder, ter que ter um certo altruísmo ao se relacionar, ter que desapegar dos bens materiais, ter que abrir mão do sagrado momento que todos nós precisamos ter para refletir… É, porque nem fazer o nº 2 a mãe pode fazer sozinha… Tomar banho passa a ser uma aventura e geralmente a dois. Você come comida fria, você deixa de comprar as coisas para si e seu mundo vira sinônimo de brinquedos e roupas para o filho, você precisa saber dividir o tempo entre o filho e o cônjuge, tempo esse que antes era só para você. E você também tem que trabalhar e estudar e cuidar da casa e blábláblá… E você quer estar com suas amigas e você quer sexo selvagem com trilha sonoro e cenas quentes à la “Cinquenta tons de cinza”.
Porque para a mãe já é complicado, mas é mais ainda quando é mãe de menina. A menina faz tudo com a mãe desde pequenininha até o resto da vida! O menino numa certa idade, ainda novinho, já não quer que a mãe o veja no banho (olha a mãe de menino cagando e tomando banho sozinha aí gente!). Isso parece bobagem, mas é muita coisa, porque num dia estressante, às vezes é um banho que vai te relaxar. Mas um banho só você, nem a foda você quer porque você quer se limpar, lavar o cabelo, pensar na sua vida, pensar bobagem, pensar em nada, ouvir a sua musica, não ouvir musica nenhuma… você quer fazer o que você quer fazer por você mesma, sem ter que pensar em ninguém.
Mas como eu disse, isso não te pertence mais, ao menos por um bom tempo. E eu ainda fiz uma coisinha boba que contribuiu muito para essa minha falta de tempo sozinha, tive a 2ª princesa quando a 1ª já estava com 8 anos e já fazia praticamente tudo sozinha (ela não cozinhava, nem saia sozinha, mas o resto ela já fazia). E o que aconteceu… Voltei a estaca zero! Mas tenho fé que esses poucos anos que faltam para ela estar apta a fazer as coisas sozinhas, vão passar rápido e eu voltarei a ter um pouquinho de privacidade. Um pouquinho porque elas já tomam banho sozinhas, mas quando a mãe está no banheiro é diferente do papai estar no banheiro, ou o menino com a mãe. Porque a menina pensa assim: “Minha mãe está no banheiro, posso entrar e escovar os dentes enquanto isso, ou posso me maquiar, ou posso fazer xixi.” Com o pai não rola essa parada, nem com o menino com relação a mãe. Então ser mãe de menina é diferente, não tem jeito!
E também é mágico! A maternidade é mágica! Nada se compara a sentir seu bebê mexendo dentro de você, ouvir o batimento cardíaco enquanto está na sua barriga, vê-lo pela 1ª vez, amamentar e manter seu baby aquecido. O cheirinho de bebê é uma delícia! Magia pura! Tem umas duas coisinhas chatas disso tudo que é aquela coisa de não conseguir ter uma boa noite de sono durante um bom tempo por conta da amamentação e o periodozinho das cólicas ao qual nenhum bebê está imune. Sobre esse momento eu queria que tivessem me dito assim:
– “Anjo, presta atenção numa coisa! Quando você tiver um filho, vai acontecer o seguinte: você não vai mais dormir, você vai ter que abrir mão de banho demorado sozinha e fazer o nº 1 e 2 sozinha, você vai ter que se acostumar a comer comida fria e no futuro dividi-la, você vai ter que parar com a academia e a massagem corporal, de comprar roupa, bolsa, sapato e acessórios, não vai poder sair só com as amigas e acabou trepar toda hora! Cada fase desse videogame são missões diferentes com níveis de exigências diferentes também. E disso tudo o que eu posso te adiantar também, é que você sempre terá que abrir mão de alguma coisa… A não ser que você seja rica, mas bem rica e além de poder comprar tudo para o bebê e para você, ainda possa ter babá tempo integral! Aí você esquece tudo o que eu disse, passa uma borracha nessa conversa…”
– “Mas eu não sou nem rica, o que dirá bem rica!”
– “Então volta para a primeira opção.”
Aí eu ia pensar se eu realmente queria isso como meta de vida, ou se mudaria de ideia. Mas se eu quisesse, já estaria ciente da porra toda. Mas não! Só falam para gente que ter filho é a melhor coisa do mundo, que é gratificante, que é maravilhoso!!!! E realmente é, mas também é foda para caralho, também é sinistro!!! E é para sempre, é para o resto das nossas vidas!!! Não dá para desistir, não dá!!! E aí se você não tem perfil, porque você precisa ter perfil para ser uma boa mãe, aí você segura a barra e vai ser feliz, do jeito que conseguir, só vai… Porque o problema é contemporâneo à mãe. Eu sou mãe na Era da Globalização! Porra, que merda! TV a cabo, celular, tablet, internet, computador, notebook, smartphone, google, redes sociais… E isso significa ter seus problemas na velocidade que essas belezocas são capazes de se comunicar. Então você tem que ser pro-ativa amor, tem que ser rápida!
Já casamento todo mundo te alerta, né! As pessoas riem de você, dizem que você vai usar coleira, que vai usar bambolê de otário, que você não vai mais transar com outras pessoas, inclusive que nem sexo mais você fará, que perde sua liberdade, sua individualidade, que não pode fazer mais nada sozinho, que você vai engordar, que você está maluco… Nossa, parece que você está deliberadamente indo para a guilhotina! Então nessa, ninguém entra de inocente. E se você já sabe que tudo isso pode acontecer e mesmo assim quer, ao menos busque fazer com que o que faz do casamento ser motivo de piada, ao menos para “uma fatia do bolo”, não seja a sua realidade conjugal.
Não sei bem se esse papo de casamento ser ultrapassado e ser visto com maus olhos tem relação com essas mudanças culturais todas que vivemos desde meados do século XIX para cá, que envolvem a luta pela igualdade entre os gêneros, mas certamente a maternidade tem maior resistência sobre ser algo que deva ser melhor ponderado porque é o processo pelo qual se torna possível a perpetuação da espécie humana. E ninguém quer causar a extinção desta espécie em especial. E, nós mães, estamos sempre tão cansadas pela quantidade de tarefas do nosso cotidiano, que fica difícil se manter firme e dizer o tão necessário “não”.
O “não” que será a primeira palavra aprendida, a mais ouvida e o primeiro motivo de nos odiarem. E essa rotina do “não”, cansa. E como! Mas como nos disse Steve Jobs: “Foco é dizer não!” E se tem uma coisa que mãe é, essa coisa é ser focada.
Os filhos precisam ter caráter para que sejam cidadãos e seres humanos decentes e para tal é preciso base familiar que lhes provenha amor, segurança, distinção entre o certo e o errado, conhecimento cultural e capacitação para viver em sociedade.
Educar não é tarefa fácil, eu digo, educar direito! Mas hoje eu entendo porque no final das contas as pessoas só falam as coisas boas sobre se ter filhos. Para mim está diretamente ligado a ver minhas filhas crescerem e receber delas mesmas o feedback de que: se sentem amadas; se sentem seguras porque tem nos pais o porto seguro; se sentem capazes, inteligentes, encorajadas a tudo e bonitas; são felizes!
Mas o que eu mais gosto mesmo é quando minha filha adolescente diz que eu sou chata e a pequenina diz que eu sou a mãe mais linda do mundo, porque nesse momento eu sei que cada uma está vivendo a fase de sua vida, da forma que deveria ser, sem que ela tenha sido atropelada por nós pais, ou pela quantidade absurda de informações que elas recebem hoje em dia.
Por Carla Motta Araújo
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