O Cordão da Bola Preta (ou simplesmente Bola Preta), fundado em 1918, é o mais antigo bloco de carnaval do Rio de Janeiro, um dos mais antigos do país e último representante remanescente dos antigos Cordões Carnavalescos que existiam no Rio de Janeiro no início do século 20.
No final do século 19, o carnaval do Rio de Janeiro era marcado pela festa dos cordões, ou seja, grupos de pessoas que andavam em fila cantando e dançando marchinhas, sempre mascarados ou fantasiados.
O Cordão foi fundado, em 1918, por Álvaro Gomes de Oliveira – o Caveirinha – Francisco Brício Filho (Chico Brício), Eugênio Ferreira, João Torres, Arquimedes Guimarães e pelos três irmãos Oliveira Roxo, Jair, Joel, na Rua da Glória nº 88
Um ano antes, em 1917, alguns sócios do Clube dos Democráticos se rebelaram. Doze deles queriam formar um bloco carnavalesco – já inseridos em um contexto que separava blocos, ranchos e cordões. Entretanto, eles enfrentaram dificuldades na época. Problemas com autoridades.“Vinham restrições do Chefe de Polícia, que tinha autoridade talvez comparada, nos dias atuais, a de um governador ou de um presidente da República. Mas o bloco conseguiu andar e deu tudo certo”, disse Pedro Ernesto Marinho, atual presidente do Bola Preta e sócio da instituição desde 1974.
Como, “Quem Não Chora Não Mama”, ainda no ano de 1917, mesmo com dificuldades para desfilar, esse grupo que havia saído do Clube dos Democráticos formou o “Só Se Bebe Água”., cujo logotipo trazia um barril de chope com 18 torneiras ligadas à boca de seus componentes. Somente no apagar das luzes de 1918 (no dia 31 de dezembro) o Cordão ganhou o famoso nome. “Conta-se que Caveirinha, enquanto festejava na Galeria Cruzeiro do Hotel Avenida, fez o batismo ao ver passar uma linda mulher com um vestido branco e bolas pretas. Daí surgiu o: Cordão da Bola Preta”, destaca o historiador Maurício Santos.
Nas primeiras décadas de sua fundação, o Bola se instalou em diversos locais que eram alugados para funcionar no período de novembro ao Carnaval. Apenas na década de 1940, com a união dos diversos sócios bolapretenses, foi finalmente comprado todo o terceiro andar de um edifício comercial na Avenida Treze de Maio para sediar a agremiação.
A inauguração foi em 31 de dezembro de 1949 e a sede funcionou no local até janeiro de 2008, quando o prédio foi leiloado por questões judiciais. Mas o amor pelo Carnaval e pela honra do artigo terceiro de seu estatuto, que determina prazo ilimitado para sua duração e lembra que sua finalidade é incentivar o Carnaval carioca em todas as suas formas – artística, musical e cultural – fez com que o Bola continuasse sua missão, mesmo sem a tão sonhada sede.
O bloco possui uma marchinha muito conhecida, a Marcha do Cordão da Bola Preta, famosa pelo verso “quem não chora, não mama”, e composta por Nelson Barbosa e Vicente Paiva, conhecido músico brasileiro, que faleceu em 1964. É considerado o hino da agremiação. Os desfiles do bloco são abertos com esta marchinha e encerrados com a não menos famosa música Cidade Maravilhosa.
Entre outros animados encontros festivos promovidos pelo Bola, entraram para a história os famosos Baile da Vitória e o Baile do Sarongue. Rosa Possas foi a primeira mulher a ser Rainha Moma do Cordão da Bola Preta, em 1961.
Os anos foram passando e o Cordão da Bola Preta, que no início tinha carros de desfile puxados por burros, se tornou uma das maiores manifestações culturais do mundo. Com a responsabilidade de Quartel General do Carnaval, o Cordão da Bola Preta foi a inspiração para o surgimento de centenas de blocos. Ao som de sua banda, que também anima os bailes na sede e até eventos privados, os desfiles arrastam multidões.
O desfile do bloco acontecia na Cinelândia, em frente a sua antiga Sede. Em 2012, o Cordão da Bola Preta passou a desfilar na Candelária e, logo depois, na Avenida Rio Branco, hoje a folia é nas Ruas Primeiro de Março e Presidente Antônio Carlos. Se auto-intitula “o maior bloco de carnaval do mundo”, o que cria uma intensa rivalidade entre este e o bloco pernambucano Galo da Madrugada, que desfila pelas ruas de Recife.
Em 2012, o bloco carioca teria reunido cerca de 2,5 milhões de foliões, superando o rival recifense, segundo estimativas da própria do próprio Bloco. Por outro lado, o recorde anunciado nunca foi confirmado por fontes oficiais e não consta no Guinness World Records, título este pertencente ao bloco Galo da Madrugada, permanecendo a rivalidade saudável já que o Bola Preta desfilou em 2017 com pouco menos de 1,3 milhões de foliões e o galo da madrugada com mais de 2 milhões.
No Carnaval de 2013, o Bola Preta foi homenageado pela Alegria da Zona Sul, que falou dos 95 anos de existência do Cordão com o enredo “Quem não chora, não mama…”, fazendo assim, uma concentração de luxo para o Bola Preta já que a Alegria da Zona Sul desfilou na madrugada de sexta para sábado de Carnaval, ou seja, a madrugada antes do desfile do bloco, que começa todos os anos na manhã de sábado.
O Cordão da Bola Preta entrou de vez para a história do carnaval e do Rio de Janeiro no carnaval de 2014, quando a Prefeitura do Rio, por meio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), entregou ao bloco mais antigo da cidade a placa que o identifica como um lugar importante para a história e memória do patrimônio cultural carioca.
Nos últimos anos, o Bola Preta tem trazido em seu desfile, muitos famosos, como: a atriz Leandra Lea, que desfila como porta-estandarte e a cantora Maria Rita que é a madrinha do bloco, em conjunto com o Neguinho da Beija Flor e Selminha Sorriso.
Toda a história da Bola está exposta na nova sede, Rua da Relação, 3 – Centro, onde foi inaugurado o Centro Cultural Cordão da Bola Preta que, além do centro de memória, conta com sala de aula para formação de músicos, lojinha com produtos oficiais, salão de festas, boteco e restaurante. Vários eventos, como as feijoadas aos sábados, animam sócios e visitantes. A programação inclui frequentes festas temáticas, que podem variar do forró aos mais variados ritmos, sempre mantendo vivo o seu lema original: “Paz, amor e folia”.
Marcha do Cordão do Bola Preta
Compositor: Nelson Barbosa e Vicente Paiva
Quem não chora não mama!
Segura, meu bem, a chupeta.
Lugar quente é na cama
Ou então no Bola Preta.
Vem pro Bola, meu bem,
Com alegria infernal!
Todos são de coração!
Todos são de coração.
(Foliões do carnaval).
(Sensacional!)