Riffs
Qual a primeira coisa que você lembra quando lê ou ouve a palavra ROCK? Bandas? Guitarras? Shows? Músicas? Levei alguns anos para descobrir qual palavra seria eleita como principal sinônimo deste estilo de música que tanto amamos (sim, se você chegou até aqui e está lendo isso, pode admitir que ama o Rock! *risos*).
Comecei a ouvir Rock e outros estilos de música bastante cedo, pegando a rebarba dos meus pais que sempre ouviam discos de vinil em casa antes de ir para a escola à tarde. Minha memória sempre remete aos Beatles como a primeira banda que eu tive interesse verdadeiro e espontâneo em ouvir, acompanhar letras (com a noção infantil de quem balbucia achando que sabe inglês) e ouvir detalhes de arranjos.
Havia em nossa discografia caseira uma coletânea chamada A Collection of Beatles’ Oldies lançada originalmente em 1966 que a gravadora Som Livre relançou no Brasil em 1984 contendo apenas clássicos dos Beatles. Confesso que além de ouvir o disco, como o mesmo tinha uma capa tipo álbum duplo, eu usava como pista dos meus carrinhos miniaturas para que a parte do meio fosse um quebra molas… risos… mas voltando ao enredo principal, uma música me chamava a atenção em especial: a faixa “Day Tripper”. As notas voando no início da música me faziam voltar a agulha toda hora no sulco da terceira faixa do lado B. Eis que sem querer eu descobri um dos principais sinônimos da palavra Rock: RIFF.
The Beatles-DAY TRIPPER( TV performance,1965)… por DrewSemaj
Aquele riff da introdução dessa música é a trilha sonora de um pseudo-upgrade da infância para entrar definitivamente no mundo do Rock. Cantarolar os riffs determinava a marca que a música deixava independente do gosto musical. Quem nunca reconheceu uma música apenas ao ouvir uma parte dela? Dando o pontapé inicial nos anos 60 a exemplo dos Beatles, como esquecer de “(I Can’t Get No) Satisfaction” dos Rolling Stones?
Pouco tempo depois surgiram para o mundo dois grandes deuses da guitarra: Eric Clapton e Jimi Hendrix. O riff de “Sunshine Of Your Love” do Cream é a marca registrada de Clapton e Jimi Hendrix carimbou sua obra prima “Purple Haze” como um dos principais marcos de sua (infelizmente) curta trajetória. E como falar de riffs de Metal e não falar do pai deles? Tony Iommi do Black Sabbath, na minha opinião, foi o inventor dos riffs de metal. Sem ele muitas bandas não surgiriam e talvez até você que está lendo e faz parte de uma banda de Rock não teria o ímpeto de aprender a tocar.
A discografia da banda é aberta com um dos riffs mais sombrios da história do Rock na música “Black Sabbath”. Ainda que seja injusto citar apenas um riff do Black Sabbath, “Iron Man” talvez seja o mais popular e o precursor de tudo que veio depois no mundo dos riffs de Metal e suas mais variadas vertentes. Mas não podemos deixar de fora seu companheiro das quatro cordas Geezer Butler, que transformou o baixo num instrumento protagonista em temas como “N.I.B.”, cuja introdução traz nuances de jam session até que a música finalmente larga um riff distorcido, algo pioneiro neste instrumento.
Nunca seria leviano de não citar Led Zeppelin aqui, deixar de lado riffs como “Immigrant Song”, “Whole Lotta Love” e “Heartbreaker” seria uma heresia. Ainda nos anos 70, menções honrosas desta coluna para riffs pontuais do Kansas em “Carry on Wayward Son” e Thin Lizzy em “The Boys Are Back in Town” (Sugestão da coluna: procure pelas covers do Anthrax e Bon Jovi destas duas músicas respectivamente).
Na época onde os recursos tecnológicos eram escassos e o talento os supria, as gravações com qualidade questionável – apenas numa suposta análise de um adolescente dos dias de hoje – servem como mais uma prova do inquestionável sentimento transmitido pelos riffs. Uma das maiores fábricas de riffs desta década sem dúvida foi o AC/DC. As progressões de acordes simples de Malcolm Young se tornaram riffs de marca registrada da banda dando liberdade para os licks poderosos de Angus Young.
Hoje em dia chamadas de classic rock, as músicas de Rock dos anos 70 se instituíram como a pedra fundamental dos riffs, o diamante bruto, literalmente a fonte. Façamos justiça e mencionemos outros ícones: Judas Priest, Scorpions, Deep Purple, Kiss, Aerosmith, Motorhead, Rush, Queen, Van Halen, Pink Floyd e assim seguimos.
O Metal surgido nos anos 80 popularizou de vez a cultura dos riffs. A relação da segunda geração dos mestres dos riffs tem James Hetfield encabeçando a lista. Justiça seja feita, se o Black Sabbath inventou o Metal, o Metallica o aperfeiçoou. É risível (no bom sentido da palavra) lembrar que o riff de “Seek And Destroy” foi composto por um garoto de 18 anos cheio de espinhas num pequeno quarto e até hoje é a chancela dos shows do Metallica mundo afora.
Sou suspeito para falar deles, mas a história mostrou a importância deles para a música até hoje, mesmo com fatos controversos em sua trajetória – um deles já mencionado em uma coluna Capivarock anterior sobre “mitos e clichês” e outro a polêmica com o Napster, antigo programa de troca de músicas online. O Megadeth de Dave Mustaine fez sua parte não pelo seu passado na banda anterior, mas por ter criado alguns dos riffs mais bem trabalhados e de estar num patamar bem superior por cantar e tocar riffs de complexidade absurda. Um exemplo? A música “Take No Prisoners” do álbum Rust In Peace chega a dar nervoso com a sua técnica chamada spider chord enquanto ele canta!
Aproveitando o gancho, ainda no Big 4(alcunha das quatro principais bandas de Thrash Metal dos EUA), menciono o riff aterrorizante de “Dead Skin Mask” do Slayer. RIP Jeff Hanneman, um dos papas dos riffs em alta velocidade. A banda Queen também emplacou dois riffs seminais de baixo nas músicas “Another One Bites The Dust” e “Under Pressure”.
Impossível deixar de fora o principal representante da New Wave of British Heavy Metal: Iron Maiden. Mesmo sabendo que eles não são precursores do estilo de guitarras duelando (polêmicas à parte, Capivarock sabe bem quem é essa fonte…risos), eles ficaram caracterizados por esta faceta que incentivou o público bradar seus riffs como se fossem cânticos. Quem nunca foi a um show deles e ficou quieto com o riff de “Fear Of The Dark”? Na minha opinião a música “The Trooper” é atemporal, um clássico de 1983 que se eternizou nas galerias do Metal de qualquer era com seu duelo de “guitarras galopantes”, possivelmente inspirada no tema da letra.
Até a Pop Music fazia suas misturas com riffs de Rock, como a inimaginável participação de Eddie Van Halen na música “Beat It” de Michael Jackson. Boatos permanecem após 35 anos afirmando que este solo gerou 1 milhão de dólares aos cofres de Van Halen. No Brasil, a marca de cigarros Hollywood costumava lançar coletâneas com vários sucessos das rádios e um deles ficou mais famoso no Brasil do que no exterior: “Breaking All The Rules” de Peter Frampton.
No início dos anos 80 essa música era figurinha fácil e iniciava com um riff envolvente, provavelmente reconhecível até hoje em qualquer lugar que seja executado. E como falar nos anos 80 sem mencionar um dos mais populares riffs da história do Rock? Composto por um jovem pouco conhecido chamado Saul Hudson, este riff é uma das introduções mais famosas do Rock e fez 30 anos de lançamento em 2017: “Sweet Child O’Mine” do Guns N’ Roses, desferida pelo cara que ficou famoso por seu apelido: Slash.
Nos anos 90 tivemos o boom das bandas de Seattle e a leva de bandas de hardcore punk oriundas da California(numa intensidade menor). Em Seattle os principais atos deste movimento foram Soundgarden, Alice in Chains, Pearl Jam e Nirvana que compuseram grandes riffs. “Rusty Cage” (regravada por nada mais nada menos que o eterno Johnny Cash), “Man In The Box”, “Alive”, “Come As You Are” (que entrou em polêmica por um suposto plágio da música “Eighties” do Killing Joke) tiveram rotação máxima nas rádios e MTV.
O harcore californiano dos anos 90 não era galgado em riffs, pois a escola dos Ramones baseava-se em bases mais sólidas com vocais harmônicos. Mas um destaque certo é o riff de “Come Out And Play(Keep’em Separated)” do Offspring que soa como um estilo árabe e que gerou uma certa “dor de cabeça” com a banda Agent Orange por um suposto plágio de sua música “Bloodstains”. Esta música foi um dos singles que levou o álbum Smash de 1994 ao título do álbum mais vendido lançado por um selo independente da história da música(Epitaph Records) com 11 milhões de cópias, recorde que ainda perdura.
É claro que não podemos deixar de falar de uma banda completamente baseada em riffs: Rage Against The Machine. Tom Morello e companhia embaralharam o meio musical misturando batidas de rap com efeitos de guitarra de sobra com muito punch e atitude nas letras das músicas numa era em que os discursos musicais ainda surtiam efeito e influenciavam pessoas.
Entre várias músicas emplacadas, um dos riffs que mais me marcaram foi de “Sleep Now In The Fire”, cujo clipe é algo espetacular. A banda Audioslave surgiu nos anos 2000 como dissidente do RATM, que diluiu raiva em canções melodiosas com potenciais a hit(e de fato foram hits) na indefectível voz do saudoso Chris Cornell mas sem perder a essência dos riffs como a inaugural “Cochise”, que inclusive foi relatada como plágio de Led Zeppelin. Coincidência? Influência? Infelizmente nunca saberemos.
https://youtu.be/w211KOQ5BMI
Este Capivarock que vos escreve também deu sua singela e modesta contribuição para o mundo dos riffs(risos)… Qual eu destacaria? A introdução da música “Sem Palavras” da banda Rabugentos (que fui guitarrista), lançada em 2008 no disco “Quebrando Tudo” (vai ser difícil achar no YouTube! *risos*)… E qual foi o riff mais marcante da sua vida?
Por Fellipe Madureira
Na vitrola: “Deuce” – Kiss
https://youtu.be/LtTBlGpHfPo
Excelente tema e texto, parabéns!
Como “contribuição”, apontaria “Listen to the music”, Doobie Brothers e “Born to be wild”, Stephen Wolf.
Abraços!
Ops! Em tempo: o riff a que me referi está em “Long train runnin'”.
Pra mim foi, é e será ,”Ain’t talk about love” do Van Halen. \,,/
Um riff que sempre gostei de cara foi o de “American Jesus” do Bad Religion. Essa foi a primeira música que ouvi da banda e na hora me pegou com esse riff…e hoje é minha banda favorita.
Um riff que gosto muito é o de “The Kids aren’r alright” do Offspring…riff muito enérgico e que dá a noção da música sensacional que vem pela frente.