Você sabe a diferença entre aguardente de cana e cachaça? Legalmente, segundo a INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 13 DE 29 DE JUNHO DE 2005 temos as seguintes definições:
2.1.1. Aguardente de Cana é a bebida com graduação alcoólica de 38% vol (trinta e oito por cento em volume) a 54% vol (cinquenta e quatro por cento em volume) a 20ºC (vinte graus Celsius), obtida do destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até 6g/l (seis gramas por litro), expressos em sacarose.
2.1.2. Cachaça é a denominação típica e exclusiva da Aguardente de Cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de 38 % vol (trinta e oito por cento em volume) a 48% vol (quarenta e oito por cento em volume) a 20ºC (vinte graus Celsius), obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana de açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até 6g/l (seis gramas por litro), expressos em sacarose.
2.1.3. Destilado Alcoólico Simples de Cana de Açúcar, destinado à produção da Aguardente de Cana, é o produto obtido pelo processo de destilação simples ou por destilo/retificação parcial seletiva do mosto fermentado do caldo de cana de açúcar, com graduação alcoólica superior a 54% vol (cinquenta e quatro por cento em volume) e inferior a 70% vol (setenta por cento em volume) a 20ºC (vinte graus Celsius).
A lei Nº 8.918, de 14 de julho de 1994 que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas, mas não define o que é cachaça, aguardente de cana ou o destilado alcoólico simples de cana de açúcar, então em 04 de junho de 2009 o Decreto Nº 6.871, passa a dar as seguintes definições:
Art. 51. A aguardente é a bebida com graduação alcoólica de trinta e oito a cinquenta e quatro por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida do rebaixamento do teor alcoólico do destilado alcoólico simples ou pela destilação do mosto fermentado.
Art. 52. Aguardente de cana é a bebida com graduação alcoólica de trinta e oito a cinquenta e quatro por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida de destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos em sacarose.
Art. 53. Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro.
Traduzindo para os não iniciados. Até 04 de junho de 2009 as aguardentes só podiam ser “obtida(s) do destilado alcoólico simples de cana-de-açúcar ou pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana de-açúcar”, a partir desta data elas podem ser obtidas “pela destilação do mosto fermentado”, sem especificar como é este mosto, que pode ser simplesmente um xarope de água e açúcar não necessariamente refinado.
A aguardente nasce como uma cachaça de menor qualidade e que precisa de correção, essa correção é “obtida pelo rebaixamento …” então adiciona-se água para diluir o gosto ruim, depois açúcar já que tudo doce é mais palatável e depois o tal “destilado alcoólico simples” que é praticamente insípido para corrigir o teor alcoólico.
Nem todas as aguardentes são necessariamente ruins algumas marcas têm qualidade, posso citar as mais conhecidas: Pitu, Ypióca, 51, Velho Barreiro, mas todas essas marcas já têm as suas versões em cachaça que são superiores as suas aguardentes, a única vantagem destas sobre a versão cachaça é que elas são mais facilmente produzidas em escala industrial. Temos ainda a excelente Claudionor e a mais s famosa de toda a Havana.
Em contrapartida nem todas as cachaças são boas, desconfiem das que são estandardizadas, pois algumas marcas compram de vários produtores e as misturam o que nem sempre resulta em algo bom.
As boas cachaças são artesanais, produzidas em pequena escala, com canas selecionadas e colhidas no seu auge, não é incomum receberem a adição de água na fase anterior ao mosto para corrigir o brix, que é o teor de açúcar do caldo, ou seja: a cachaça nasce cachaça e morre cachaça, translúcida e pura num bom trago.
As mais conhecidas são: Salinas, Boazinha, Nega Fulô, Vale Verde entre dezenas de outras marcas. Qual a mais saborosa? Depende do gosto pessoal, depende se é descansada na madeira ou não, depende da madeira, mas isso poderá ser assunto para uma próxima pauta.
Espero ter ajudado aos apreciadores a esclarecer algumas dúvidas e presto uma homenagem a um verdadeiro bebedor de cachaça; o poeta Manoel José de Lima (Cruz do Espírito Santo – Pb. 05 de janeiro de 1934 – João Pessoa – Pb. 27 de março de 2006) conhecido como Caixa D’Água, que em certa madrugada, trocando os passos depois de muitas cachaças e tendo dificuldade ao enfrentar a Ladeira da Borborema compôs:
“Ladeira da Borborema
Tu sois mais alta do que eu,
Mas eu posso subir em tu,
E tu num pode subir ineu.”
Por Cesar Barbosa