Após o final de um domingo em família, a televisão ligada serve de ajuda como companhia ou para ser uma voz falante enquanto os preparativos para mais uma semana de trabalho são concluídos. Mesmo assim nem sempre ela recebe a atenção devida pelo excesso de canais e escassez de interesse, então partimos para a internet nossa de cada dia. E ao zapear aplicativos de canais com programas on-demand, minha esposa acha o dueto Tony Bennett/Lady Gaga, concordo com a escolha e ela aperta o play.
Soam os primeiros compassos jazzísticos e os olhos já se direcionam para o tablet com uma certa ansiedade aguardando o curioso dueto. Talvez nem tão curioso hoje em dia onde o preconceito musical se encontra pelas preferências musicais individuais; estamos numa época em que a mistura de estilos pode se tornar extremamente saudável, revigorante e recompensadora artisticamente falando. Voltemos ao dueto: eis que as vozes da faixa “Anything Goes” iniciam e os olhos meio que se arregalam – não pela qualidade técnica mas da harmonização perfeita entre as vozes, inclusive pela presença de palco entre os dois. Continuamos assistindo por mais três músicas sendo uma delas a faixa-título “Cheek to Cheek”, composta por Irving Berlin para a performance de Fred Astaire cantando para Ginger Rogers no musical “O Picolino” (Top Hat, 1935) mas o horário não nos permite prosseguir, deixando para certamente concluir num outro dia.
O próprio Tony Bennett, dono de uma voz peculiar e já no alto dos seus 90 anos de idade, iniciou em 2006 seu registro fonográfico oficial de duetos com artistas com renome ímpar como Paul McCartney, Amy Winehouse, Elton John, Celine Dion, Christina Aguilera entre muitos outros artistas consagrados. Outros duetos também ficaram famosos pela história, mas lembro-me do primeiro dueto marcante quando criança: Michael Jackson e Paul McCartney nas músicas “Say Say Say” e “The Girl Is Mine“. O disco Thriller lançado em 1982 por Michael Jackson, para quem não sabe, é o disco mais vendido da história da música. Macca e Jacko agitaram o cenário musical porém alguns anos depois houve um desentendimento entre ambos referentes a direitos autorais do catálogo dos Beatles. Ainda nos anos 80, me recordo de andar no carro com “seu Madureira” (meu pai, para quem não o conhece) para instalar um toca-fitas e um amplificador automotivos e uma música que puxa esta memória é o dueto de Phil Collins e Philip Bailey com a música “Easy Lover“. Phil Collins ainda fazia parte ativamente do Genesis e Philip Bailey era integrante do Earth, Wind and Fire. Aquele timbre inconfundível da bateria de Collins na introdução já identificava a música sem ao menos as vozes iniciarem. Essa música me remete aos melhores anos da minha vida, a minha infância bastante feliz e graças a Deus regada à muita música BOA em nossa casa.
Outros grandes duetos do início dos anos 90 foram com Nat King Cole (falecido à época) e sua filha Natalie Cole com a música “Unforgettable” e George Michael com Elton John na música “Don’t Let The Sun Go Down On Me“. A gravação de voz de Nat King Cole foi mixada à voz gravada de sua filha e o sucesso foi estrondoso, inclusive chegando ao topo da parada da Billboard. Esta música tocava no mínimo umas 10 vezes por dia nas estações de rádio, foi trilha sonora de novela (não me perguntem qual, mas lembro que foi…risos), ganhou prêmios Grammy e teve alta rotação na MTV. Sobre o dueto Michael-John, foi um dos primeiros singles a serem lançados aqui no Brasil no formato de CD e também foi um sucesso absurdo com muita execução radiofônica. O mercado de vinis já despencava no Brasil e os compactos já estavam extintos.
Recentemente tivemos a curiosa e controversa apresentação no Grammy 2017 com o dueto entre Lady Gaga e Metallica cantando a música “Moth Into Flame“. Muitos a classificaram como um fracasso, outros a veneraram, mas talvez o que mais comentou-se sobre a apresentação foi a falha do microfone de James Hetfield até a primeira metade da música, porém Gaga foi espirituosa suficiente para perceber e levar seu microfone a Hetfield e o dueto foi sacramentado. Opinião é algo muito particular mas se o objetivo desta parceria fosse gerar alarde do público e imprensa, eles acertaram na mosca. O famoso “falem mal, mas falem de mim”.
https://www.youtube.com/watch?v=ATSoB5ClWWM
Vários duetos nacionais também tiveram destaque na mídia com músicas de sucesso por décadas, talvez o dueto mais famoso tenha sido entre um artista nacional e um estrangeiro quando Tom Jobim e Frank Sinatra dividiram as vozes em “Garota de Ipanema”, estendendo a parceria em outras músicas lançadas no disco “Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim” de 1967. Nos anos 70 explodiu o impecável dueto de Elis Regina e Tom Jobim cantando “Águas de Março” (desafio qualquer ser humano cantar esta letra 100% certo…risos). Até hoje é possível ouvir em rádios Gal Costa cantando com Tim Maia “Um Dia de Domingo”, música que era líder das paradas musicais e de pedidos de ouvintes nos anos 80. Chegando à década de 90, Herbert Vianna com Daniela Mercury (“Só Pra Te Mostrar”) e Marisa Monte com Ed Motta (“Ainda Lembro”) são dois dos inúmeros duetos que surgiram entre artistas nacionais e internacionais desta mesma década até os dias de hoje.
Acredito que musicalmente deve existir o equivalente à “licença poética” onde artistas com características e sonoridades diferentes podem se juntar e apresentar facetas nunca imagináveis pelo público. São inúmeras as possibilidades, explorações, aprendizados e até mesmo arrependimentos. Música é isso, é ser livre, possibilitar pensar fora da caixa. Nem sempre pensamos assim, mas certamente a música te dá muito mais do que você pode dar a ela. Seja grato à música por ser a trilha sonora de sua vida! E que tal mencionar nos comentários abaixo algum dueto que tenha marcado sua vida?
Na vitrola: “Under Pressure” – Queen & David Bowie
https://www.youtube.com/watch?v=YoDh_gHDvkk
Por Fellipe Madureira
Uma estratégia que tem balizado especialmente o mercado de pop, inicialmente lá fora e agora ostensivamente aqui no Brasil essas parcerias “um artista feat. outro artista”. Tem sido quase que uma regra se for observar. Acho que seja um caminho pra angariar a atenção e a simpatia do público do artista A e do artista B ao mesmo tempo. Não sei se sempre foi assim ou se é uma tática mercadológica pra vender mais e mais….
Foi um “belo achado” o dueto Tony Bennett/Lady Gaga =)
Um dueto que verdadeiramente não existiu mas que gosto muito é da música Vento no Litoral com Renato Russo/Cassia Eller. Foi um encontro produzido mas que é emocionante ouvir.
Eu lembro muito do dueto entre George Michael e Elton John. Me marcou muito pois a MTV era a nossa internet dos anos 90. Era o meio que tínhamos de conhecer músicas novas. E esse dueto tocou muito na MTV.
Eu ia mencionar exatamente o Freddie com Bowie, passou por esses dias no Bis ❤️
Curtia muito Easy Lover e Don’t let the sun go down on me. Essas duas músicas me marcaram em diferentes épocas ( fim do anos 80 e meio dos anos 90). E os duetos de Macca e Jacko são classicos né !
Ah lembrei de um outro que não foi mecionado no texto e que curto muito:
UB40 & Chrissie Hynde – I Got You babe