O quê me animou a escrever sobre este assunto? Foi depois de ajudar dois homens no Macro a escolher a cachaça da sua festa, explicar a gerente de uma loja no Mercado de Produtores a diferença entre suas cachaças ou insistir com o dono de um bar no Terreirão que eu não queria daquela madeira. E sabem o quê eles tinham em comum? Todos eram analfabetos em rótulos! E você sabe ler rótulos?
Vamos lá, segundo o Decreto Nº2.314, de 04/09/1997 que regulamenta a Lei Nº8.918 de 14/06/1994 que dispõe e explicita que no rótulo deverá constar quem é o produtor ou fabricante; se é estandardizada ou padronizada; quem é o envasador ou engarrafador; e outras informações, mas no momento não é importante.
Explicando melhor, no rótulo deverá constar:
Produtor ou fabricante – acredito que o nome seja autoexplicativo e não precise de comentários. Estandardizador ou padronizador – alguns produtores por não conseguirem suprir a sua demanda com produção própria, compram o destilado em outros fabricantes e fazem a mistura, blend se fosse uísque, e engarrafam sob a sua marca, podendo resultar desta mistura cachaça ou aguardente de cana.
Envasador e Acondicionador – novamente o nome é autoexplicativo e não creio precise de comentários, afinal é dá marca que lembraremos, da madeira por onde passou e do local donde foi produzida.
Já a Instrução Normativa Nº 13 de 29/06/2005 explicita quando é ADOÇADA e quando é ENVELHECIDA e os seus graus de envelhecimento.
– ADOÇADA é quando a cachaça ou aguardente de cana contiver açúcar em quantidade superior a seis gramas por litro e inferior a trinta gramas por litro. A adição de açúcar na bebida tem a finalidade de melhorar a palatabilidade e ocorre com mais frequência nas aguardentes de cana.
–ENVELHECIDA é a denominação para a bebida que contiver, no mínimo, cinquenta por cento do seu blend envelhecido em recipientes próprio de madeira, com capacidade máxima de 700 litros por período não inferior a um ano, podendo ser adicionada de caramelo para a correção da cor.
– PREMIUM é a denominação para a bebida envelhecida que contenha cem por cento do seu blend maturado em recipientes próprio de madeira, com capacidade máxima de 700 litros por período não inferior a um ano.
– EXTRA PREMIUM é a denominação para a bebida envelhecida que contenha cem por cento do seu blend maturado em recipientes próprio de madeira, com capacidade máxima de 700 litros por período não inferior a três anos. O tamanho da barrica é explicitado para que a área de contato da bebida com a madeira seja, em média, a mesma entre as várias marcas.
– DESCANSADAS ou REPOUSADAS são as cachaças ou aguardentes de cana que não podem ser classificadas como envelhecida em qualquer um dos seus graus. Nas bebidas envelhecidas também constará no rótulo o nome da madeira onde foi armazenada, sendo as madeiras mais comuns: Amburana também conhecida como Imburana ou Cerejeira; mas há também Amendoim; Bálsamo; Carvalho; Grapa; Castanheira; Ipê; Jequitibá e outras. São muitas madeiras que servem bem a este fim. Envelhecimento e tipos de madeiras será assunto para a uma próxima pauta, onde inclusive será abordado o método SOLERA de envelhecimento. Ainda nos rótulos poderá constar a classificação:
– PRATA para aquelas que foram ou não armazenadas em toneis de madeira, mas não sofreram alteração na sua cor ou transparência.
– OURO são as que sofreram significativa alteração na sua coloração por terem sido armazenadas em contato com madeira.
Poderão ser classificadas como RESERVA ESPECIAL as bebidas que tenham significativa alteração na qualidade em comparação com a sua marca original, desde que tenham laudo comprobatório de algum laboratório reconhecido.
Espero ter ajudado a entenderem melhor este patrimônio líquido nacional, e presto uma homenagem ao grande escritor baiano Jorge Amado (Itabuna- BA, 10 de agosto de 1912 – Salvador- BA, 06 de agosto de 2001), citando uma pequena passagem do livro “A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO D’ÁGUA”.
“Sobre o balcão viu uma garrafa, transbordando de límpida cachaça, transparente, perfeita. Encheu um copo, cuspiu para limpar a boca, virou-o de uma vez. E um berro inumano cortou a placidez da manhã no Mercado, abalando o próprio Elevador Lacerda em seus profundos alicerces. O grito de um animal ferido de morte, de um homem traído e desgraçado: – Águuuuua!”
por Cesar Barbosa
Sabia que Cézar entendia de bebida.
Porém tanto, não.
Acho que é PHD no assunto.
Não gosto de cachaça.
Gosto de batida com Vodka.
Saber é bom e não ocupa espaço.
Valeu!
E viva as batidas com vodka amo todas elas….
Tu e tuas batidas com vodka são caso perdido, as minhas garrafas de vodka que moram no freezer que o digam, mas fica uma pergunta. Se você não usa vodka de segunda ou terceira linha nas tuas batidas, por que deixar que usem aguardente adoçada de cana? A próxima peça com uma boa cachaça e verás o resultado.
Um beijo
Concordo com o sr. Dr. Cesar… também acho que pra caipirinha tem que ter uma cachaça maneira…. apesar que a galera raiz diz que é pecado e só faz de 51 e de Velho Barreiro (minha preferida dentre esse universo). Ainda hei de fazer caipirinhas com boas cachaças!
Daisy, minha querida!
Obrigado pelo carinho, mas batida feita com vodka é refresco alcoólico, troque a vodka por uma cachaça branca, transparente e terás algo pelo menos diferente e bem mais complexo.
Um abração.