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Cinema Capivara – Mãe – Review com Alex Calheiros

Cinema Capivara – Mãe – Review com Alex Calheiros

O amor pelo amor que sente. Devoção. A frase possibilita uma série de interpretações. Do fanatismo desenfreado, se é que é possível não ser redundante neste caso, extrapolando-se para a idolatria e a megalomania. Tudo em uma mesma odisseia. Sai daí então a síntese mais simplória possível e superficial da obra de Darren Aronofsky: “Mãe!”

Para um desavisado que espera passear por um universo feminino de gestora familiar nos moldes tradicionais de casa, roupa lavada e proteção, o filme de Aronofsky mostra muito mais do que isto e acende outras luzes além da própria concepção. Nada de jardins floridos e sorrisos angelicais. Jennifer Lawrence, a mãe, sai do cenário de tons pastéis e junto a Javier Bardem protagonizam uma trama angustiante do início ao fim. Ok. O longa vive os seus melhores momentos ainda em sua primeira parte com os invasivos e inacreditáveis Ed Harris e Michelle Pfeiffer. Por outro lado, não dá para ficar impune diante da bola de neve devastadora que cresce durante a obra. Mesmo com tantos excessos.

“Mãe!” é um filme tenso da primeira até a última cena. Javier e Jennifer formam um casal recém casados, isolados do mundo por motivos distintos. Ele, um escritor consagrado em crise de abstinência criativa e ela, uma esposa dedicada ao marido e ao lar. Ambos vivem em um casarão gigantesco em reforma. E é Jennifer quem cuida de tudo. Enquanto ele é o sentimento, o ideal, a esposa é a coisa, o que se tem, a praticidade. A vida do casal projeta seguir assim este caminho até a visita inusitada de Ed Harris. Em seguida, Pfeiffer. Começa, a partir daí, uma sucessão alucinada de situações inimagináveis. Uma reviravolta surpreendente e angustiante. Situações que levam o público a um vale perdido das próprias referências. Tudo sempre com a complacência de Bardem, o anfitrião.

A proposta vai na mesma batida intensa de Réquiem para um Sonho e Cisne Negro, trabalhos anteriores de Aronofsky. “Mãe!” pressiona o espectador contra a cadeira e dá a ele a chance de perceber, graças as metáforas bíblicas, uma visão do autor sobre Deus um tanto quanto polêmica. É possível interpretar o personagem de Javier como o próprio dono do mundo: adorado, submetido pelos próprios seguidores as mais diferentes percepções e leituras. Na maioria das vezes completamente deturpadas. E é exatamente por conta destas perspectivas que instaura-se o caos. Jennifer e todo o público que vive o drama pela visão dela é arremessado violentamente ao ponto máximo do estresse e da loucura. Respira, faz força!

Aronofsky neste trabalho flerta com Lars Von Trie. Salvo, é claro, pelas devidas comparações. Mas esta certa semelhança já é o suficiente para fazer valer a pena. Indico por ter me tirado em alguns momentos da zona de conforto, mas não dá para colocá-lo entre os meus dez preferidos… Vinte? Também não. Entre os cem… Talvez. Afinal, mãe é mãe!

 

Por Alex Calheiros.

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