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Tem Capivara No Samba – 120 anos de Pixinguinha

Tem Capivara No Samba – 120 anos de Pixinguinha

Em 2017 se completou 120 anos do nascimento do grande Pixinguinha.

 

 

Alfredo da Rocha Vianna Filho, conhecido como Pixinguinha, foi um  flautista, saxofonista, compositor e Arranjador brasileiro

 

 

Pixinguinha é considerado um dos maiores compositores da música popular brasileira, contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva. Normalmente reconhecido “apenas” por ser um flautista virtuoso e um compositor genial, Costuma-se desprezar seu lado de maestro e arranjador. Pixinguinha criou o que hoje são as Bases da música brasileira. Misturou a então incipiente música de Ernesto Nazareh , Chiquinha Gonzaga e dos primeiros chorões com ritmos africanos, estilos europeus e a música negra americana, fazendo surgir um estilo genuinamente brasileiro.

 

 

Arranjou os principais sucessos da então chamada época de ouro da música popular brasileira, orquestrando de marchas de carnaval a choros. Foi o primeiro maestro-arranjador contratado por uma gravadora no Brasil. Era um músico profissional quando boa parte dos mais importantes músicos eram amadores (os principais chorões eram funcionários públicos e faziam música nos horários de lazer). Pixinguinha foi antes de tudo um pesquisador de música, sempre inovando e inserindo novos elementos na música brasileira. Foi muitas vezes incompreendido, e apenas anos mais tarde passavam a dar o devido valor a suas invenções.

 

 

Nascido no bairro da Piedade, Pixinguinha era filho do músico Alfredo da Rocha Vianna, funcionário dos correios, flautista e que possuía uma grande coleção de partituras de choros antigos. Recebeu o mesmo nome do pai, mas a avó, quase centenária, trazida da África para o cativeiro, deu para chamá-lo de Pizidim. O apelido pegou. Já crescido Alfredinho indagou a avó o significado de Pizidim e ela explicou:  Isso é nome africano, meu neto; pizin quer dizer bom e dim menino. Você é um bom menino.

 

 

Aprendeu música em casa, fazendo parte de uma família com vários irmãos músicos, entre eles o China (Otávio Vianna). Foi ele quem obteve o primeiro emprego para o garoto, que começou a atuar em 1912 em cabarés da Lapa e depois substituiu o flautista titular na orquestra da sala de projeção do Cine Rio Branco, Antônio Maria Passos, que, ao faltar nos ensaios da orquestra, foi substituí por um garoto de 15 anos chamado Bexiguinha, ou Pixinguinha, vindo a perder o emprego, logo em seguida, para o tal garoto.

 

 

Nos anos seguintes continuou atuando em salas de cinema, ranchos carnavalescos, casas noturnas e no teatro de revista.Pixinguinha foi um menino prodígio, tocava cavaquinho com 12 anos. Aos 13 passava ao bombardino e a flauta. Até hoje é reconhecido como o melhor flautista da história da música brasileira. Mais velho trocaria a flauta pelo saxofone, pois não tinha mais a firmeza e embocadura necessárias. Aos dezessete anos grava suas primeiras instrumentações, vindo a no ano seguinte gravar suas primeiras composições, nada menos que as pérolas Rosa e Sofres Porque Queres.

 

 

Pixinguinha integrou o famoso grupo Caxangá, com Donga e João Pernambuco. A partir deste grupo, foi formado o conjunto Oito batutas, muito ativo a partir de 1919.  Em 1922 têm uma experiência que transforma significativamente sua música. Um milionário patrocina a viagem de Pixinguinha e de seu grupo Os 8 Batutas para uma turnê europeia. A temporada em Paris que deveria ser de um mês dura seis, tendo que ser interrompida devido a compromissos já assumidos no Brasil. Na Europa Pixinguinha trava contato com a moderna música europeia e com o jazz americano, então moda em Paris.

 

 

Na década de 1930 foi contratado como arranjador pela gravadora RCA Victor, criando arranjos celebrizados na voz de cantores como Francisco Alves ou Mário Reis. No fim da década foi substituído na função por Radamés Gnattali. Na década de 1940 passou a integrar o regional de Benedito Lacerda, passando a tocar o saxofone tenor. Algumas de suas principais obras foram registradas em parceria com o líder do conjunto, mas hoje se sabe que Benedito Lacerda não era o compositor, mas pagava pelas parcerias.

 

 

Quando compôs “Carinhoso”, entre 1916 e 1917, cuja letra foi feita por Braguinha, em 1937, e “Lamentos” em 1928, que são considerados alguns dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz, enquanto hoje em dia podem ser vistas como avançadas demais para a época. Além disso, “Carinhoso” na época não foi considerado choro, e sim uma polca. Outras composições, entre centenas, são “Rosa”, “Vou vivendo”, “Lamentos”, “1 x 0”, “Naquele tempo” e “Sofres porque Queres”.

 

 

Como todo grande criador, Pixinguinha enfrentou algumas polêmicas durante sua longa carreira. Em uma noite de 1916, na casa da Tia Ciata, quando João da Mata, Sinhô, Hilário Jovino, João da Baiana, Donga e seu irmão China, improvisaram nos seus instrumentos. Ali nasceu o samba Pelo Telefone, que Donga registrou como sendo música de sua autoria, unicamente. O grupo dividiu-se com isso, alguns defendendo Donga, outros atacando, porém, tudo através da música. O maior sucesso do carnaval de 1919, Já te Digo, de Pixinguinha e China, era, nada mais nada menos, que uma agressiva e engraçada forma de ridicularizar a figura de Sinhô, que também reclamava para si a autoria da música Pelo Telefone.

 

 

Bom de música, de amigos e de copo, Pixinguinha foi uma das figuras mais representativas da cultura e da cidade do Rio de Janeiro. Boêmio, tinha uma mesa no Bar Gouveia, uma uisqueria, na Travessa do Ouvidor, na qual seu nome foi gravado em ouro, marcando a mesa reservada para seus uísques. Pixinguinha considerava-se um boêmio caseiro -daqueles que vão da casa ao bar e do bar à casa- e era frequentador assíduo de alguns bares determinados. Sua boêmia ficava ainda mais brilhante e suntuosa em suas festas de aniversário -verdadeiras comemorações a ele e à música popular. Nestas festas não podiam faltar duas coisas: o uísque e uma frase que Pixinguinha sempre dizia: “minha vida foi sempre bem vivida na boêmia”.

 

 

Uma das passagens mais embaraçosas de sua vida, foi quando sua mulher foi internada. Pixinguinha passou por maus bocados, sentido dores no peito, e também precisou ser hospitalizado às pressas. O detalhe é que o compositor ficou no mesmo hospital que sua mulher. No entanto, para não abalar ainda mais a saúde de D. Beti, Pixinguinha resolveu manter segredo sobre sua internação. Assim todos os dias, no horário da visita, ele deixava o seu leito vestindo terno e chapéu e seguia para visitar a esposa. Depois, voltava para o quarto e dava continuidade ao seu tratamento.

 

 

Certa madrugada, quando voltava de uma apresentação, Pixinguinha foi cercado por assaltantes. Durante o assalto, os ladrões reconheceram o músico e devolveram seu dinheiro e flauta. Ainda como pedido de desculpas, resolveram escoltá-lo até sua casa. No entanto, no meio do caminho, desta vez não havia uma pedra e, sim, um botequim. O episódio terminou em samba, cerveja e cachaça.

 

 

Uma das homenagens que recebeu ao longo da vida, foi a de Negrão de Lima, prefeito do antigo Distrito Federal, no Rio de Janeiro, que publicou decreto concedendo à rua onde o compositor morava o nome de Pixinguinha. Dentro da nossa música Pixinguinha é um mundo. Ritmos musicais como o samba não existiriam como são hoje se não houvesse a figura de Pixinguinha em sua história. Mário de Andrade dizia que Pixinguinha surgiu quando “a música popular tornou-se violentamente a criação mais forte e a caracterização mais bela da nossa raça, nos últimos dias do império e primeiros da República”.

 

 

 Em 1973, faleceu vitimado por problemas cardíacos durante a cerimônia de batismo de Rodrigo Otávio, filho de seu amigo Euclides de Souza Lima, realizada na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, em pleno domingo de carnaval, no mesmo momento em que a famosa Banda de Ipanema começava a desfilar. “O santo da MPB morreu como tinha que ser, numa igreja”.

 

 

A morte de Pixinguinha, no dia 17 de fevereiro de 1973, não poderia ter sido mais poética. No dia, ele recebeu uma visita dos amigos Hermínio Belo de Carvalho e Walter Firmo, autor da mais famosa fotografia do músico. Por conta do abatimento de Pixinguinha, Walter nem levou a máquina fotográfica para não registrar as marcas da decadência física do compositor. No entanto, revelou ao biógrafo Sérgio Cabral o seu arrependimento. O fotógrafo contou que, ao se despedir do Pixinguinha, o gesto do músico na janela de sua casa foi “a foto que não fez”.

 

 

Em pleno sábado de Carnaval, Pixinguinha, 75 anos, veste seu melhor terno e sai de casa, em Inhaúma, para assistir ao batizado do filho de um amigo, Euclides Souza Lima, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Perto do fim da cerimônia, ele começa a passar mal. Afrouxa a gravata, passa o lenço na testa, mas, vítima de um infarto fulminante, morre ali mesmo.

 

 

Também nesta data, a Banda de Ipanema sairia pela primeira vez no ano. O batizado havia sido marcado na igreja de Nossa Senhora da Paz, um dos pontos em que a banda passaria. No meio do evento, Pixinguinha faleceu. Naquele instante, caía um temporal sobre Ipanema. Albino Pinheiro, que comandava a orquestra da banda, foi avisado que Pixinguinha acabara de morrer. Ao invés de cancelar o desfile, deu continuidade sem comentar o fato com ninguém, e comandou uma versão de Carinhoso, composição mais conhecida de Pixinguinha, em frente à igreja. O céu chorou a perda de um dos maiores músicos do Brasil, que faleceu em pleno Carnaval, ao som da Banda de Ipanema, dentro de um dos lugares mais bonitos do Rio de Janeiro. Pixinguinha, conhecido como um santo na terra, morreu aos 75 anos.

 

 

No dia 23 de abril comemora-se o Dia Nacional do Choro, trata-se de uma homenagem ao nascimento de Pixinguinha. A data foi criada oficialmente em 4 de setembro de 2000, quando foi sancionada lei originada por iniciativa do bandolinista Hamilton de Holanda e seus alunos da Escola de Choro Raphael Rabello.

 

 

Carinhoso

Pixinguinha

 

Meu coração, não sei por quê

Bate feliz quando te vê

E os meus olhos ficam sorrindo

E pelas ruas vão te seguindo

Mas mesmo assim foges de mim

Ah, se tu soubesses

Como sou tão carinhoso

E o muito, muito que te quero

E como é sincero o meu amor

Eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem, vem

Vem sentir o calor dos lábios meus

Àprocura dos teus

Vem matar essa paixão

Que me devora o coração

E só assim então serei feliz

Bem feliz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Se você tem 15 volumes para falar de toda música brasileira, fique certo de que é pouco. Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido. Escreva depressa:”Pixinguinha”.

Ary Vasconcelos

 

 

Até o próximo Tem Capivara no Samba

Marcelo Soido Paz

@marcelosoidopaz_

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